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Porto | Casa da Música | Rem Koolhaas


3CPO

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Rem Koolhaas voltou ontem à “sua” Casa da Música, no Porto.

Chegou por volta das 15h00, depois de uma caminhada de algumas centenas de metros entre o hotel e o edifício. A agenda do arquitecto holandês incluía uma visita guiada e uma reunião de trabalho para conhecer a nova equipa responsável pela direcção do equipamento (empossada em Janeiro de 2006). O dia passado
“em casa” terminava ainda com um concerto da Orquestra Nacional do Porto que apresentou ontem à noite a Queen Symphony (uma obra de Tolga Kashif com temas dos Queen para coro e orquestra). Ao início da tarde, depois de uma paragem no Bar dos Artistas, Rem Koolhaas subiu ao hall de entrada com várias folhas em branco e uma caneta vermelha em mãos. Preparava-se para iniciar a visita à obra que serviria para identificar “algumas questões no edifício que possam ser melhoradas”, adiantou ao PÚBLICO Pedro
Burmester, responsável pela direcção artística do equipamento e um dos elementos da comitiva. O autor da obra não quis falar sobre a sua presença no Porto, que se pretendia ter sido discreta (não fosse um comunicado oficial da Casa da Música dirigido aos jornalistas), e fez apenas questão de frisar que se encontrava acompanhado por uma equipa composta pelas arquitectas Ellen Van Loon, Petra Blaisse e Isabel
Alves, o engenheiro Rui Furtado e Michel Cova. A primeira paragem desta equipa foi precisamente junto à enorme porta de vidro que serve de entrada principal do edifício e que será o principal problema a resolver. É que, aparentemente, o arquitecto terá menosprezado o clima mal-humorado do Porto, que por vezes
investe em fortes rajadas de vento e chuva e obriga a Casa da Música a fechar a sua porta principal
desviando os seus convidados para um acesso secundário. Esta não foi a primeira visita do autor à sua obra. Rem Koolhaas esteve presente na inauguração do edifício (em Abril de 2005), e sabe-se ainda que os últimos bilhetes emitidos em seu nome para um espectáculo da Casa da Música datam de Outubro de
2005.

Andrea Cunha freitas

Fonte: Público.pt
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  • 1 year later...

"Casa da Música tem das melhores salas da Europa"

alfredo cunha
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Renz van Luxemburg caracterizou a Casa da Música como uma "ideia louca" de Rem Koolhaas

Renz van Luxemburg, técnico holandês responsável pela acústica da Casa da Música (CdM), foi ontem, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), protagonista de uma palestra intitulada "Acústica depois da Casa da Música". Durante uma hora e meia, o engenheiro abordou os diferentes aspectos que teve de ter em atenção quando aceitou projectar a acústica do edifício da autoria do seu conterrâneo, Rem Koolhaas.

"Em 1999 não se tinha bem presente o que se queria naquele local. Quando se partiu para a obra parecia uma ideia louca que se tinha de levar adiante", confessou Renz van Luxemburg aos alunos da FEUP.

Três anos depois da inauguração da CdM, o engenheiro não tem dúvidas em afirmar que "a Casa da Música tem uma das melhores salas da Europa".

Ainda assim, "se tivesse de mudar alguma coisa seria as dimensões do 'canopy'", estrutura que sobrevoa o palco da sala Suggia. E explicou "Os técnicos de iluminação queixam-se que as luzes reflectem muito naquele sítio".

Renz van Luxemburg manifestou-se, igualmente, preocupado com a possibilidade da CdM vir a substituir as duas réplicas de órgãos que ladeiam a sala Suggia. "Na altura, quando a obra ficou pronta, a Casa da Música não tinha dinheiro para comprar uns originais. Por isso, toda a acústica terá de ser repensada se tal vier a acontecer", concluiu.

Marta Neves

Link:
http://jn.sapo.pt/2008/04/09/porto/casa_musica_das_melhores_salas_europ.html

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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  • 4 weeks later...

Com base numa brochura integrada no Jornal O Público com o titulo A Casa abre-se á Música, o site Porto em fotografia (http://amen.no.sapo.pt/) retirou os elementos informativos que se seguem:


HISTÓRIA E IDENTIDADE


A Música no Porto - Percursos de uma tradição. P/ Cristina Fernandes - ( Excertos do artigo )


A nova Casa da Musica, surge agora numa cidade cuja relativamente escassa actividade musical ( no que se refere à promoção de concertos ou à visita de intérpretes do circuito internacional ) durante as duas últimas décadas pouco reflecte de um passado de fortes tradições nesta área, e que, na transição do séc. XIX para o séc. XX , chegou mesmo a ser superior a Lisboa, por ex. no incremento da música de câmara no seio de uma cultura fortemente marcada pela cultura italiana.


Do grande polifonista do séc. XV / XVI Pedro do Porto até às diferentes gerações da família Sá e Costa ( séc. XIX e XX ), das récitas de ópera do Teatro do Corpo da Guarda ( séc. XVIII ) até ao S. João e ao Coliseu de uma "dinastia" de intérpretes de Guilhermina Suggia a Pedro Burmester, e de formações como a Orquestra Sinfónica fundada por Raimundo Macedo no inicio do séc. XX até à actual Orquestra Nacional do Porto, a cidade possui uma história e tradição a que a Casa da Música vem agora dar continuidade.


Como tantos outros domínios da Historia da Música Portuguesa, a vida musical do Porto não foi, até hoje, objecto de uma síntese e ( salvo excepções pontuais em torno de figuras da criação ou da interpretação ) carece de estudos de pesquisa e reflexão aprofundada.


No que diz respeito à ópera, o Porto beneficiou de vários espectáculos a partir de 1760 no Teatro do corpo da Guarda e, a partir de 1798, com a inauguração do Teatro S. João, de temporadas regulares.


O período mais brilhante da história musical do Porto deve-se, porem, à acção do violinista, pedagogo e musicógrafo Bernardo Moreira de Sá, verdadeiro renovador da cultura musical e iniciador de uma dinastia de músicos que se prolonga hoje nas suas netas: a pianista Helena de Sá e Costa e a violoncelista Madalena Sá e Costa.


Em 1966, surge o Circulo Portuense de Ópera, contando entre os seus criadores com o maestro Gunther Raglebe e como principal dinamizador , nos anos 80 e 90, o maestro Manuel Ivo Cruz.



Da Ideia à construção - A MEMÓRIA DO PROJECTO


A ideia nasceu do desejo e o desejo para se cumprir teve de ultrapassar uma interminável lista de obstáculos ao longo de cinco anos. Sem o Porto Capital da Cultura 2001, não haveria sequer oportunidade para se discutir o lançamento do projecto ; mas logo que se soube que o Porto iria organizar o evento, a Casa da música transformou-se de imediato numa das obras que iriam projectar a capital da Cultura muito para além de 2001. O pior, e também o melhor, estava para vir.


Alguns escolhos foram resolvidos facilmente. Como a disputa em torno da localização, que acabaria por ser apontada para a velha remise dos STCP. Outros ultrapassaram-se com uma simples avaliação de alternativas. Foi o caso da escolha do projecto de Rem Koolhaas. Mas a generalidade dos problemas exigiu outra energia, imaginação e resistência. A começar com os sucessivos atrasos da obra que, juntamente com as derrapagens financeiras, revelaram que a complexidade do edifício não tinha sido considerada devidamente. Continuando com a instabilidade na continuação do projecto provocada pela mudança politica no Governo e na Autarquia. O edifício foi-se impondo, mas , durante meses a fio, a sua imponência foi incapaz de superar os anátemas do criticismo em que tinha sido embrulhado.



AS ORIGENS - Boavista ou Baixa? - Localização condicionada pelos prazos - Artigo assinado por Jorge Marmelo - (excertos do artigo )


Foi no dia 1 de Setembro de 1998 que o Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, anunciou formalmente que a construção da Casa da música constituiria uma das prioridades da capital Europeia da Cultura que o Porto se preparava para receber, em 2001. A candidatura da Cidade, havia sido aprovada pela Comissão Europeia no final de Maio e nos três meses que entretanto haviam decorrido, os principais protagonistas do processo haviam conseguido pôr-se de acordo para que o evento constituísse uma oportunidade de a cidade construir um edifício marcante e, simultaneamente, dotar a Orquestra do Porto de um espaço condigno. Juntou-se pois, a fome com a vontade de comer. O processo de escolha da Capital Europeia da Cultura em 2001 esteve recorde-se longe de ser pacifico A candidatura do Porto foi apresentada em Junho de 1997, no seguimento de um " ministério descentralizado " que Carrilho realizou na cidade, mas a decisão de Bruxelas tardou mais do que o habitual, muito por culpa do Governo Espanhol, que candidatou consecutivamente Barcelona e Valência e chegou a bloquear toda a tramitação .Quando por fim, as candidaturas do Porto e da cidade holandesa de Roterdão receberam luz verde para avançar, tinha-se perdido mais de meio ano de trabalho, eventualmente essencial para o lançamento de projectos infraestruturais de maior fôlego.
Numa entrevista ao Público, a então vereadora da cultura, Manuela de Melo, ainda aventava a possibilidade de o Coliseu vir a ser a sede da futura orquestra sinfónica do Porto e de um estúdio de ópera, mas logo nessa altura admitiu a eventualidade de se avançar para um projecto emblemático. Nesta altura é indigitado o pianista Pedro Burmester para integrar a comissão instaladora da Porto 2001.


Com a Câmara do Porto dividida entre sediar a Casa da Música no centro da cidade e aproveitar a ocasião para construir o tal edifício emblemático, várias hipóteses foram surgindo; o Parque das Camélias, junto ao Teatro Nacional de S. João, a Avenida da Ponte, o Edifício da Alfândega, a Praça de Lisboa e até o Parque da Cidade, para onde o arquitecto Agostinho Ricca tinha já um projecto acabado.


Foi no entanto a remise dos carros eléctricos na Boavista que acabou por ser o espaço escolhido sobre as restantes por motivos que o Presidente Fernando gomes, explicou no inicio de 1999; o terreno era propriedade municipal. por isso, não teria que ser comprado nem expropriado, permitindo acelerar o processo de construção. A localização ficou assim decidida em 8 de Março de 1999.


Á margem do optimismo oficial resultante da possibilidade de avençar rapidamente, aberta pela escolha da remise dos carros eléctricos e pela celeridade do concurso de arquitectura, já em Janeiro de 1999 se duvidava da possibilidade de ter a casa da Música pronta em 2001. Foram no entanto várias as vozes que não acreditavam nessa possibilidade já em Janeiro de 1999. Álvaro de Siza Vieira disse-o de forma contundente. " nenhum dos arquitectos que concorreu acredita nisso, , declarou na altura acrescentando que " Uma obra dessas não se faz bem em menos de seis anos ". Como disse o primeiro ministro de então, António Guterres, numa frase que ficou célebre, " é uma questão de fazer contas ".



PROTAGONISTAS - 9 nomes para um projecto - P / Sérgio C. Andrade.


Desde que a intenção de se construir um edifício emblemático para celebrar a Capital da Cultura ganhou corpo, vários protagonistas estiveram no centro de um processo longo e nem sempre pacifico. Em cinco anos, os destinos da Casa da musica estiveram ligados a Cinco presidentes, a três presidentes de Câmara e a personalidades que como Pedro Burmester, lhe estiveram na génese, mas que acabaram afastados na vaga das polémicas.


PEDRO BURMESTER - Membro da Comissão instaladora da Capital Europeia da Cultura, com a responsabilidade do projecto Casa da Música. Integrou, sucessivamente, as administrações de Teresa Lago e Rui Amaral. No inicio de 2004, demitiu-se de consultor de Manuel Alves Monteiro.


ARTUR SANTOS SILVA - Presidente da primeira administração da Sociedade Porto 2001 e actualmente o indigitado presidente do Conselho de Fundadores da Casa da Música.


MANUEL MARIA CARRILHO - Ministro da Cultura dos Governos socialistas de António Guterres, 1995 - 2000.


TERESA LAGO - Presidente da Sociedade Porto 2001 entre 1999 e 2002.


FERNANDO GOMES - Presidente da Câmara do Porto entre 1989 e 1999.


ANTÓNIO COUTO DOS SANTOS - Presidente da Sociedade Casa da Música / Porto 2001, em 2004, e presidente da Comissão liquidatária da mesma Sociedade em 2005.


MANUEL ALVES MONTEIRO - Presidente da Sociedade Casa da Música / Porto 2001 entre 2003 e 2004.


RUI AMARAL - Presidente da Sociedade Casa da Música / Porto 2001 entre 2002 e 2003.


RUI RIO - Presidente da Câmara do Porto desde 2002, a segunda accionista da Sociedade Casada Música / Porto 2001.



CONCURSO - SÓ TRÊS ARQUITECTOS APRESENTARAM PROPOSTAS - por Jorge Marmelo.
Concurso lançado em 1999 impunha prazos tão apertados que acabou por ficar quase deserto. Siza Vieira diria, mais tarde, ( Agosto de 2000 ) que as decisões relativas à Casa da Música " foram tomadas em cima do joelho " e o tempo acabou por lhe dar razão.


As propostas apresentadas foram dos Arquitectos:
OS Arquitectos portugueses, puseram-se imediatamente de lado, tendo -se apresentado ao concurso apenas sete projectistas.


O francês, Dominique Perrault, o britânico Norman Foster , o suíço Peter Zumthor, o espanhol Rafael Moneo, o norte americano Rafael Viñoly, o holandês Rem Koolhaas, e o japonês Toyo Ito. Pelo meio ficaram três candidaturas e apenas Koolhaas. Viñoly e Perrault chegaram ao fim tendo sido seleccionado o projecto de Koolhaas.


O projecto de Koolhaas impressionou pela sua beleza e impacte arquitectónico " embora também se lhe apontassem defeitos, nomeadamente a nível funcional.


Os custos tinham então disparado para 40 milhões de euros, e Siza Vieira, poucos meses depois garantia que o maior equipamento cultural da cidade iria sair " muito caro, ninguém imagina quão caro ". O seu custo final, pensa-se que irá rondar os cem milhões de euros.



Fundação Casa da Musica - Os primeiros mecenas - por Rosa Soares.


Numa primeira ronda de contactos., a Casa da Musica foi capaz de angariar 16 fundadores. Mas muito mais empresas já manifestaram vontade de aderir.
Entre as primeiras encontram-se:


Banco BPI, SA - Unicer, Bebidas de Portugal SGPS, SA - SONAE SGPS - Solverde - Sociedade de Investimentos Turísticos da Costa Verde, SA. - SOGRAPE - Vinhos SA. - RAR . Sociedade de Controlo ( Holding ), SA. - MOTA-ENGIL SGPS. - FINIBANCO - AMORIM Investimentos e Participações, SA. - METRO DO PORTO - RIOPELE - GRUPO VISABEIRA - Sociedade Gestora de Participações, SA. - TÊXTIL MANUEL GONÇALVES - TERTIR, Terminais de Portugal SA. - BANCO COMERCIAL PORTUGUÊS - FUNDAÇÃO ILÍDIO PINHO.



Finalmente, a Casa da Música abre as suas portas ao público no dia 14 de Abril de 2005 com o concerto de Lou - Reed.
No dia seguinte 15 de Abril de 2005, dá-se a inauguração oficial com a presença de Sua Exa. o Presidente da República Dr. Jorge Sampaio.



Link:
http://amen.no.sapo.pt/casa_da_musica.htm

Albúm Fotográfico (Fotografia de António Amen):


VER ÁLBUM

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Entrevista dada por Rem Koolhaas a JN a 05/04/2005

A lenda da Casa da Música é verdadeira
Arquitecto holandês revela a sua relação com o edifício que vai mudar a face da música em Portugal

José Miguel Gaspar

É possível definir a arquitectura em duas pistas simplistas: de um lado há os edifícios racionais e metódicos, do outro, todos aqueles que foram movidos pelo impulso e pela poesia. Rem Koolhaas estará entre os que arquitectam os primeiros, mas também, e definitivamente, entre os outros.

Rem Koolhaas, arquitecto holandês, considerado um notório desconstrutivista, acredita nas ideias do progresso social e na natureza propagandística da arquitectura. É retórico e autor de edifícios reais. Fundou o OMA.

Nasceu em 1944 e considera-se um escritor, mas em 2000 ganhou um Pritzker, o mais importante prémio de arquitectura mundial. Na mesma frase, fala no singular e no plural - e só ele poderá explicar de que se alimenta essa contaminação. É charmoso, hiper-articulado, impositivo. É o autor da Casa da Música. É incatalogável.

[Jornal de Notícias] Rem Koolhaas é incatalogável?

[Rem Koolhaas] Para o universo da arquitectura talvez eu seja difícil de catalogar, porque tenho muito outros interesses. Originalmente, eu era argumentista. Ainda me considero tanto escritor quanto arquitecto. Nós, na OMA ['Office for Metropolitan Architecture'], já não somos somente arquitectos; criamos outro gabinete, a AMO, que lida com questões políticas, culturais e de identidade contemporânea. Estou constantemente a alargar o espectro daquilo que a arquitectura pode fazer. Acho que isto que faço é muito confuso para o mundo dos arquitectos, mas não é de todo confuso para o resto do mundo. Eles percebem, mas os arquitectos ficam completamente chocados.

Há uma dualidade entre o mundo dos arquitectos e o mundo real?

Como nós não estamos apenas interessados em arquitectura; como temos um interesse quase jornalístico sobre aquilo que acontece no mundo, estamos melhor preparados para captar as expectativas das pessoas ou as potencialidades delas. Em determinado ponto percebi que o mundo precisa da arquitectura sob a forma de uma organização - ou de uma representação -, mas nem sempre o resultado disso é um edifício. Portanto, aquilo que nós estamos a fazer é, por exemplo, oferecer à União Europeia uma nova de se representar que não tenha nada a ver com edifícios, mas simplesmente num nível conceptual.

O facto de ser arquitecto, mas de se considerar escritor, quer dizer que em certo sentido escreve com formas?

Não, não me parece que escreva com formas. Escrevo com palavras. Sou um escritor, literalmente. Os livros são muito importantes para criarmos espaços arquitecturais para nós. Primeiro fizemos um livro e o livro descreveu uma forma particular de fazer arquitectura. Depois, as pessoas começaram a pedir-nos para fazer projectos de arquitectura. Nesse sentido, edito livros para poder actuar enquanto arquitecto.

A Casa da Música tem uma forma e é através dela que comunica. Essa forma pode ser traduzida em palavras?

Não posso realmente traduzir. Primeiro existem sempre as palavras e elas dizem realmente aquilo que queremos dizer sobre o edifício. Em relação à Casa, o que dizemos é isto: não estamos interessados em fazer um edifício público, mas em fazer um edifício para o público. De uma forma subtil, de dia o edifício absorve a cidade e a partir do entardecer projecta o seu interior para a cidade. Há sempre uma fórmula conceptual nas palavras que espoleta o edifício.

Esse desejo de que o edifício absorva a cidade está já a materializar-se?

Acho que criamos as condições ideais para isso. A embaixada holandesa em Berlim, o centro estudantil IIT, em Chicago, a Livraria Pública de Seattle, que foram terminados no último ano. Foi muito importante para mim perceber que cada um dos edifícios começou a ser usado pelas pessoas de uma forma muito natural, sem que fosse preciso explicações da minha parte. Apesar de serem, em termos arquitectónicos, muito ambiciosos, o público não se inibiu de se apropriar deles.

As condições que teve para imaginar, conceber e construir a Casa da Música são consideradas ideais. A forma como a fez foi diferente daquela que aplicou a outros edifícios noutros países?

O que entende por "condições ideais"?

Liberdade total sem constrangimentos criativos, tanto da peça em si como do contexto que a rodeia. Um dos engenheiros portugueses ligados à obra diz mesmo que um edifício assim só seria possível em Portugal ou talvez em Espanha...

Acho que nunca se tem liberdade total. A liberdade foi ganha quando vencemos a competição para a construir a Casa. Isso é que traz liberdade em si. Basicamente, há duas maneiras de conceber um edifício: o cliente chega ao arquitecto e pede-lhe um edifício concreto. Isso significa que é preciso enfrentar o edifício e negociar com o cliente. É simples. A outra maneira é participar num concurso e fazer tudo aquilo que se imagina. Isso significa que júri desse concurso pode dizer duas coisas: ou 'é uma *****'; ou 'podes fazê-lo'. Quando isso acontece, o arquitecto fica numa posição muito diferente, porque significa que o edifício já está feito e aquilo que se pode fazer é apoiá-lo ou rejeitá-lo. Nesse sentido, marcamos uma posição muito forte quando ganhámos o concurso. É bem verdade que um edifício destes só podia acontecer em Portugal ou em Espanha. Isso quer dizer que a qualidade da indústria de construção civil aqui é superior. Mas houve outro pormenor: a situação política aqui é caótica. Continua a ser. Esse contexto muito particular [risos] deu-nos liberdade para manobrar conforme quisemos. Desde que a obra começou, eu já conheci cinco conselhos de administração. Mais ou menos um por ano. O mesmo com ministros da cultura.
Como é que lidou, e como continua a lidar, com isso?

Sim, continua a acontecer...

Já conhece a nova ministra da cultura?

Não. Conhecemos todos os anteriores e comunicamos com eles. Isso faz parte, obviamente, de uma parte fundamental da nossa profissão. Mas nunca nos tinha acontecido numa sequência tão acelerada [risos].

Isso parece diverti-lo...

Bom, isso proporcionou-nos, de facto, um conhecimento bastante profundo daquilo que é a cultura política portuguesa.

Há uma história à volta do projecto que começa a adquirir contornos de lenda. Preciso de saber a sua versão. É verdade que o projecto inicial da Casa da Música foi adaptado de um projecto de uma habitação que estava a desenhar para um casal divorciado?

Quer ouvir a história?

Sim.

É verdade. Mas não era um casal divorciado; era um casal que poderia, eventualmente, divorciar-se. Davam-se mal e disseram-me que, no tempo que levaria do projecto à construção da casa, eles poderiam chegar ao fim já divorciados. Era um projecto muito particular. O homem queria a casa mas impôs três definições negativas: odiava confusões e por isso queria uma casa com muitos arrumos; não estava muito convencido do conceito de 'vida familiar', logo queria um edifício onde todos pudessem ter uma vida independente; e, por último, era um homem que odiava todo o tipo de tecnologia e queria uma casa simples - acho que temia que a casa entrasse em colapso com o 'bug' do ano 2000. Portanto, havia três definições negativas.

Isso limitou-o?

Inicialmente, pensamos que isso seria um problema para a criatividade, mas afinal acabou por ser bastante inspirador. Começamos por achar a forma da casa e depois metemos lá dentro uma rota individual para cada um dos membros da família - e fizemos túneis para que eles se pudessem encontrar em espaços comuns, se assim o quisessem. Depois aconteceu outra coisa: eu fui a África pela primeira vez. E fiquei muito marcado pela inteligência africana, por aquela forma de decidir como reagir no exacto momento em que as coisas acontecem. Isso não é só uma questão de sobrevivência; é também uma forma inteligente de ver as coisas. Voltei para o meu gabinete e decidi, nesse sentido, começar a ser africano. Aí olhei para o meu cliente e ele pareceu-me um bocado complexo. E eu disse-lhe: 'Esqueça!". Senti que tinha que entrar neste concurso quando percebi que a peça que tinha concebido para a casa do meu cliente era a forma ideal para um auditório de música: a forma de uma caixa de sapatos - que é também a forma do auditório da Casa da Música. Esse foi o pormenor que fez espoletar o edifício, que o fez nascer. Por isso, essa lenda é verdadeira.

Essa forma africana de lidar com a realidade parece aplicar-se ao seu gosto pela experimentação. Concorda?

Todos os arquitectos trabalham com o seu gabinete e contra o seu gabinete. Nós, a OMA, tínhamos a reputação de sermos muito metódicos e de estudarmos umas cinco mil variáveis. A determinado ponto comecei a odiar essa reputação - até porque nos atrasava imenso os projectos. Então desafiei o gabinete a fazer as coisas de uma forma completamente diferente. E isso expandiu o nosso repertório, porque agora podemos fazer edifícios muito racionais e muito metódicos e outros que sejam impulsivos e poéticos.

Como é que lida com a arquitectura do português Siza Vieira, que é mediterrânica e modernista, muito precisa e metódica?

Acho que qualquer arquitecto que tenha imaginação já foi influenciado por ele. Qualquer um nessas condições admira-o e excita-se com as suas obras. Ainda me lembro da primeira obra de Siza que vi - acho que foi o projecto das piscinas [de Leça] - e fiquei espantado. Acho que a obra de Siza é o detalhe, e ainda que nós também sejamos detalhe, somo-lo de uma forma completamente diferente. Pessoalmente, quando entro nos seus edifícios, consigo ver realmente que são edifícios portugueses.

Existem certamente diferenças entre arquitectura e arte. Mas os seus edifícios parecem querer esbater essa fronteira.

Haverá sempre esta diferença: na arte cada um de nós está mais ou menos sozinho; na arquitectura nunca se está sozinho porque cada passo tem lugar num contexto. E esse contexto envolve sempre mais ou menos duas mil pessoas, desde o cliente ao projectista, ao construtor, aos operários, até aos gabinetes de cada um. Nesse sentido, a diferença é fundamental. A arte insiste na sua autonomia e a arquitectura, apesar de insistir desde há muito tempo na autonomia também, eu não acredito nela. Acredito que a parte interessante da arquitectura é que pode ser influenciada pela política, pela economia, pela capacidade de fazer coisas.

Em relação à Casa da Música, já sublinhou diversas vezes a sua capacidade de objecto solitário e autónomo em relação ao contexto em que se inscreve. É uma peça de arte isolada?

Pessoalmente não acho que o seja. Depois, a sua solidão é ilusória. O objecto é solitário mas só em aparência. À primeira vista parece independente, mas se virmos bem, depende completamente do contexto. Veja as cores, por exemplo: a cor do pátio é que dá ênfase à luminosidade do edifício.

Foi por essa razão que escolheu o confronto entre tons dourados e cinzento prateado? Isso acontece no exterior do edifício e no auditório, que é o seu coração.

Escolhi-os porque ambos transportam luz. E porque quis jogar com o confronto entre a sombra e a luz. Se reparar, aqui, no topo do 'foyer' onde nos encontramos é bastante escuro, mas lá em baixo, quando se entra, a luz está em todo o lado. Há partes em que é preciso que a luz penetre até ao fundo do edifício e noutras não.

Tem alguma palavra que defina a Casa da Música?

In-ca-ta-lo-gá-vel. É uma palavra.

É capaz de explicar por que razão a Casa da Música pode provocar comoção a quem a visita?

Bom, eu sou responsável por isso. Mas não sou responsável por explicar o que é que isso quer dizer [risos]. Acho que isso é uma das coisas terríveis do estado actual da arquitectura: dantes fazíamos coisas e ficávamos emocionados. Agora fazemos as coisas e ainda temos que as explicar. Temos que explicar às pessoas aquilo que devem sentir e assegurar-lhes que aquilo que elas estão a sentir é correcto. Eu não quero ter nada a ver com isso.


Link:
http://jn.sapo.pt/2005/04/05/cultura/A_lenda_da_Casa_da_M_sica_.html

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Um outro artigo, este datado de 22-12-2001, saído no Jornal Expresso, da autoria do arquitecto Agostinho Ricca.

Seria curioso saber qual é hoje a opinião dos retractores do projecto na sua fase inicial...

Casa da Música: os desconcertos
Agostinho Ricca (Arquitecto)

MUITO tortuoso correu o processo do concurso da Casa da Música da Cidade do Porto.

Em 1999, a Sociedade Porto 2001 não fazia a mais pequena ideia do que poderia ser ou como viria a ser concebido o edifício para o auditório ou auditórios necessários à efectivação de concertos de música de câmara e de música sinfónica.

A ambição da Sociedade não passava da adaptação da pequena sala do Cinema Batalha e do Teatro Águia Douro.

Como me afirmaram personalidades destacadas, a Casa da Música teria de ser construída no centro da cidade e, portanto, as duas salas dos Cinemas na Praça da Batalha eram a localização ideal!!!

Perante afirmações tão peremptórias resolvi meter mãos à obra e fazer um projecto do Palácio da Música com um programa sem paralelo com o que poderia caber nas salas do Cinema Batalha e Águia d’Ouro; dois auditórios, um de 1100 lugares, para música sinfónica, e outro de 350, para música de câmara, um café-concerto, biblioteca e audição de CD, restaurante e bar, dependências da administração, salas de ensaios, etc. etc., localizado no Parque da Cidade, com o enquadramento da exuberante arborização e dos lagos daquele parque: enfim, o Palácio da Música que a cidade necessita, um lugar poético como são as envolventes dos modernos Palácios da Música de muitos dos países da Europa — Helsínquia, Tampere, Micaeli, St. Gallen, Salford, etc.

Como este projecto foi apresentado na TV e nos diários do Porto, a Sociedade 2001 então acordou e resolveu promover um concurso entre arquitectos com pré-qualificação num terreno da Rotunda da Boavista (um dos locais mais ruidosos da cidade).

Com uma decisão sem desculpa, a Sociedade 2001 desconhece todos os arquitectos portugueses que se apresentaram ao concurso e somente aceita — ou convida? — sete arquitectos estrangeiros, dando assim uma prova de desconfiança da capacidade dos nacionais para a tarefa! E como programa, copia «ipsis verbis» o que estabeleci para o meu Palácio da Música e também o limite do seu custo — 3 milhões de contos.

Mas o concurso saiu furado, pois das sete equipas convidadas ou admitidas somente três se apresentaram e foi então seleccionado o projecto de Rem Koolhaas, holandês. Como é de regra de qualquer país civilizado, seria de promover uma exposição dos três trabalhos, dando a conhecer o resultado à população portuense. Mas nada disso aconteceu:

O secretismo da Sociedade 2001, depois do insucesso do concurso, que foi muito mal equacionado e com um prazo de entrega insuficiente, levou a não elucidar a cidade do que se pretendia construir e foi através da publicação do projecto de Rem Koolhaas no jornal da Ordem dos Arquitectos que pude avaliar o que a Sociedade Porto 2001 tinha aprovado.

É uma arquitectura que parte de um sólido informal onde são «ad libitum» introduzidas as várias peças solicitadas no programa, encafuadas de modo que parece desordenado a encostar ou dilatar as paredes do sólido, que darão em definitivo a forma e volume do edifício.

Este é um processo que em Arquitectura consideramos errado, porque as peças que compõem um edifício devem ser criteriosamente dispostas, tendo em vista a organização dos espaços e a sua interligação, e daqui resultando uma configuração harmoniosa que acusa a hierarquia das peças que compõem o seu todo.

Verifiquei que o edifício não seria um cristal, como o classificou o ministro Carrilho, nem um meteorito e nunca um ícone, como também foi admitido, mas sim um monstro de betão de 40 metros de altura em frente do monumento da Guerra Peninsular do Arquitecto Marques da Silva, a contrastar com a cércea dos edifícios mais altos — 21 metros — da Rotunda da Boavista.

Para ser mais explícito, a altura de um edifício de habitação de 13 andares.
Uma arquitectura desumanizada, indiferente à escala humana.

Agora, perante um projecto sem quaisquer qualidades, implantado num terreno impróprio para receber uma peça da importância da Casa da Música, entendo que se deveria elucidar convenientemente a população da nossa cidade e promover um referendo, de modo a permitir que os portuenses se pronunciem, uma vez que já não estão em ditadura e as populações têm o direito de serem ouvidas.

Não se pode atabalhoadamente construir um edifício que não é mais do que um monstro de betão, que ainda não saiu do solo, um monstro intimidante.

A Casa da Música ou o Palácio da Música que fique também para os vindouros e de que nos possamos orgulhar.

Recebi já muitos apoios de arquitectos, de engenheiros e outros. O arquitecto Siza Vieira já declarou que o edifício «arrasa» a praça da Rotunda da Boavista.

Da faculdade de Engenharia, os engenheiros da área da Acústica reprovam a sua construção e também a Escola das Artes da Universidade Católica entende que o edifício de Koolhaas é profundamente desestabilizador e sem qualquer espécie de relação com o local.

A faculdade de Arquitectura não aplaude nem reprova...

Entendo que é necessário travar o processo.

A insistir em prosseguir as obras, certamente a população do Porto responsabilizará a Sociedade Porto 2001 pelos maus serviços prestados à cidade. E razão suprema: a Casa da Música está já muito além do «plafond» de custo defendido pela Sociedade Porto 2001, três milhões e duzentos e cinquenta mil contos — se for construída atingirá os 12 a 15 milhões de contos.



Link:
http://paginas.fe.up.pt/~carvalho/art_ricca01.html

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Coloquei estas imagens num outro tópico (Casa da Música_Informações), mas penso que faz sentido colocá-las também aqui, uma fotografia é da Casa da Música do Rem Koolhaas, obviamente a contruída, e a outra da Casa da Música do Rafael Viñoly, um dos dois projectos vencidos no concurso.

Imagem colocadaImagem colocada

Deixo aqui também o link para um tópico sobre A Engenharia da Casa da Música.

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Para não esquecer a história, ficam aqui algumas imagens do que era este terreno antes da Casa da Música.


Mapa (datado de 1892) da antiga remise da Boavista.

Carro a vapor em frente da antiga remise da Boavista. Foto tirada por volta de 1900. Em frente da entrada é visível um carro eléctrico.




A remise da Boavista a ser evacuada para ser demolida (1 de Agosto de 1999).

O local mais importante para os eléctricos clássicos do Porto era a Boavista. Já desde a abertura da segunda linha em 1874, situava-se aqui a sede da CCFP. Era a casa dos carros de tracção animal, carros a vapor e carros eléctricos.
Em 1928 (28 de Fevereiro) a remise da Boavista foi destruída por um grande incêndio. No mesmo local, foram construídas uma nova remise e novas oficinas com um total de 20 linhas.

Com a redução dos serviços de eléctricos, a importância da Boavista foi reduzida. Em 1988 a Boavista foi substituída por Massarelos como remise de serviço. As oficinas foram mantidas na Boavista. Também os carros eléctricos fora de serviço eram ainda guardados na Boavista. Devido a obras, a Boavista foi usada de novo durante alguns períodos como remise de serviço: Março a Julho de 1991, Junho a Novembro de 1998 e Fevereiro a Maio de 1999.
Inicialmente, também as oficinas dos autocarros e dos troleicarros eram na Boavista. As estações de recolha deste veículos sobre pneus eram sempre na Carcereira (desde 1948) e na Areosa (desde 1968).


Em Agosto de 1999 a remise da Boavista acabou por ser completamente evacuada e demolida. Nesse local está em construção a "Casa da Música".

Tradução: Luís Almeida


Link:
http://tram-porto.ernstkers.nl/pt/boavistapt.htm

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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  • 4 months later...
  • 1 month later...
Construção da Casa da Música teve 127 contratos
Tribunal de Contas volta a evidenciar descontrolo na obra, que "derrapou" 77,2 milhões
HUGO SILVA

Foi preciso assinar 127 contratos para se construir a Casa da Música, no Porto. Falhas no projecto, múltiplas alterações e atrasos do arquitecto obrigaram à elaboração de sucessivos documentos contratuais, muitos dos quais sem concurso público.

Uma auditoria do Tribunal de Contas à construção do edifício volta a revelar um descontrolo generalizado no processo, que teve como corolário um atraso de quatro anos e meio na execução da obra (devia ter sido feita em dois anos e quatro meses, mas demorou seis anos e 10 meses) e uma derrapagem financeira na ordem dos 77,2 milhões de euros. O custo previsto inicialmente, 33,9 milhões, disparou para os 111,1 milhões. Uma subida de 228%.

O documento foi enviado para o procurador-geral adjunto, entre outras entidades.

"As deficiências do projecto foram uma das causas de grandes prorrogações do prazo e de grandes desvios financeiros, não só por conta da execução propriamente dita, mas também pelo aumento de custos decorrentes do próprio contrato celebrado com o projectista", lê-se na auditoria.

O documento especifica que a obra da Casa da Música teve um total de 12 empreitadas e cinco adjudicatários, mas que, no final, contabilizaram-se 127 documentos contratuais: 12 contratos iniciais, 14 alterações a esses contratos, 90 novos contratos e 11 acordos finais de contas, documentos preparatórios e de esclarecimentos. Só no caso da empreitada principal registaram-se 33 adendas e 27 contratos adicionais a essas mesmas adendas.

Os auditores criticam o facto do dono da obra (Sociedade Porto 2001) ter escolhido as empresas por ajuste directo, "consultando maioritariamente apenas uma entidade". Ao contrário do que foi entendido pela "Porto 2001", os auditores consideram que não eram sub-empreitadas, mas "novos contratos de empreitada e de aquisição de serviços".

A argumentação de que não era possível cumprir os prazos disponíveis para os concursos e que, devido à especificidade dos trabalhos ou dos fornecimentos, as empresas que já trabalhavam na obra responderiam de forma mais célere e com maior qualidade não convenceram os auditores. Ainda que a "Porto 2001" estivesse sob um regime especial para a realização das obras no âmbito da Capital Europeia da Cultura.

A empreitada de "movimentos de terra e contenção periférica da Casa da Música" constituiu exemplo paradigmático do "pouco critério" na utilização de dinheiro público, atenta a auditoria, fazendo notar que, em Abril de 2000, quando aquela obra já deveria estar pronta há três meses, foram aprovados trabalhos a mais que representavam 49% do valor do contrato inicial. A intervenção, cujo contrato estipulava uma prazo de 91 dias, só ficaria pronta em 2002, dois anos depois da data de conclusão prevista. Os custos também dispararam em 75%.

"Esta empreitada denota, de uma forma extrema, os desvios de custos e de prazos das empreitadas, parecendo que os dinheiros públicos são usados com pouco critério, o que põe em causa todos os princípios de boa gestão", sentenciaram os auditores.

O trabalho do projectista - o arquitecto holandês Rem Koolhaas - também não fica isento de reparos: "Não cumpriu a grande maioria dos prazos que lhe eram impostos contratualmente, a não ser no plano formal, pois os prazos foram sendo prorrogados através de aditamentos". A auditoria considera, ainda, que "os atrasos do projectista nas respostas a pedidos de esclarecimento, dúvidas, omissões e incompatibilidades contribuíram para muitos dos atrasos verificados".

Ainda assim, não foi aplicada qualquer multa por incumprimento e a "Porto 2001" ainda pagou ao arquitecto "o prémio previsto no contrato inicial (um milhão de euros) e o adicional de 50 mil euros introduzido pelo aditamento ao contrato, de 29/11/2001".

Link:
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelho=Porto&Option=Interior&content_id=1054418

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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A derrapagem da house of music dava para construir isto e ainda sobravam uns trocos.

"O trabalho do projectista - o arquitecto holandês Rem Koolhaas - também não fica isento de reparos: "Não cumpriu a grande maioria dos prazos que lhe eram impostos contratualmente, a não ser no plano formal, pois os prazos foram sendo prorrogados através de aditamentos"."

Prazos ? A arte não tem prazos !

O tempo para chegar à excelência não é o mesmo do medíocre e banal ...

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sim, mas enquanto a obra se atrasa no atelier, os empreiteiros tem os homems parados, e obviamente cobram multas por isso, porque final de contas ao final do mes ha ordenados para pagar. o que eu acho estranho e que o Rem Khoolas so tenha ganho um milhao de euros com uma obra destas, da-me a impressao que isso nem os ordenados de dois colaboradores destacados para o projecto (ao longo de uns 7 anos) paga.

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"O trabalho do projectista - o arquitecto holandês Rem Koolhaas - também não fica isento de reparos: "Não cumpriu a grande maioria dos prazos que lhe eram impostos contratualmente, a não ser no plano formal, pois os prazos foram sendo prorrogados através de aditamentos"."

Prazos ? A arte não tem prazos !

O tempo para chegar à excelência não é o mesmo do medíocre e banal ...



Pois, Ricardo, não sei como é aí em Marte, mas aqui, no planeta Terra, nós não damos essas liberdades aos artistas. Aqui, a vida de artista é dura, sofrida....excepção feita num pequenino país chamado Portugal onde, por tradição e cultura, os contribuíntes é que se lixam para promover a mãe de todas as artes.
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