Ivo Sales Costa Posted April 3, 2008 Report Share Posted April 3, 2008 A importância da nova formação Os resultados do concurso público para a área do Parque Mayer não provocou maior discussão no que diz respeito ao tema central do evento: Como requalificar uma mancha de cidade despida do seu propósito, a que apenas sobrevive a simbologia da movimentação político-social de uma Lisboa que ali encontrava, em tempos de silêncio opressivo, o lugar onde, por entre a ironia das palavras e os banhos de cor num país cinzento, se fazia a oposição possível.As propostas classificadas nos cinco primeiros lugares devem ser primeiro analisadas a partir de uma perspectiva politica, em duas décadas foi o primeiro concurso público totalmente aberto, tendo a cidade como objecto de estudo, e esse será sempre o valor mais importante: deu-se espaço à abordagem artística.O ganho é geral e não pertence exclusivamente à classe dos arquitectos, pertence a uma cidade que nos últimos anos vira a maior parte das obras de relevo serem estrategicamente entregues a diversos clientes, sem que da ‘boa vontade’ dos promotores se tenha retirado particular proveito. Dos cinco classificados na primeira fase encontram-se quatro nomes comuns, Aires Mateus, ARX, Eduardo Souto Moura e Gonçalo Byrne, e um grupo que surge como o chamado underdog, Vão Arquitectos, naquela que é, curiosamente, a mais arrojada das propostas. Uma revelação que se nota pela diferença para os demais e, se neste processo, se ganhou espaço para outras perspectivas, essa é a maior das conquistas. É a partir deste pressuposto que surge a proposta do ateliermob.O retrato da Lisboa perdida nos recantos do Parque Mayer, é um retrato sofrível. Daqui se retiram os gostos artísticos, a conotação brejeira do teatro de revista e a boémia alfacinha dos anos 60. O Parque Mayer, outrora símbolo orgulhoso de uma resistência expectante, apresenta-se hoje como uma resolução estéril de um país que deixou há muito a praça da primavera, onde os tiques europeístas nos fazem olhar com desdém para os lugares de onde viemos, o que, com o tempo, tende cada vez mais à sua anulação histórica e a uma cada vez mais evidente perda de identidade. Tem-se vindo a dar lugar à vocação global da geografia, da EXPO ao EURO, em breve, de Alcochete até ao TGV. Aí restar-nos-á a biblioteca da história contemporânea, até que o tempo permita reconhecer estes momentos do passado como ferramentas acessórias que nos levaram à emancipação.Apresenta-se o valor da cor. A importância de uma paleta enriquecida por uma cultura quase milenar que é potenciada na concretização de uma proposta que promove dois momentos fundamentais na abordagem ao objecto de estudo: de um lado a cultura citadina, a introdução de um ascensor e do seu valor, também ele cromático, na definição da identidade alfacinha, estereótipo que viaja ano após ano nas fotografias turísticas de quem aqui se vem encontrar. Do outro, a leitura de continuidade, da Avenida da Liberdade até ao alto do Príncipe Real, e, consecutivamente, a nova interpretação da franja do Parque Mayer que contempla na sua leitura a complementaridade com o Jardim Botânico. O testemunho do Parque é assegurado pelo Capitólio e pela manutenção do Variedades, funcionando em conjunto como valorização mútua do espaço que se volta a reconhecer enquanto momento comum. O resto é desenho cinestésico, identifica-se com facilidade a progressão das escalas e valoriza-se automaticamente o valor da presença de novos objectos que complementam a leitura do conjunto.Nos percursos, paralelos, a cor é condição inerente a todas as conclusões. O ascensor conclui a abordagem inicial e surge como propósito que assegura a continuidade entre as partes, ao mesmo tempo que pretende resgatar o valor cultural e comercial que entretanto se perdeu, dando espaço para que o atravessamento seja acompanhado por recantos típicos da realidade lisboeta, que a partir daqui se pretendem valorizar.O ancoramento é garantido pela impregnação de lugares comuns e pelos quais a cidade se tem mantido expectante. Ler mais [...] Link to comment Share on other sites More sharing options...
JVS Posted April 4, 2008 Report Share Posted April 4, 2008 Agora todos vao apresentar as propostas nas publicacoes, em revistas e nos sites. Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ivo Sales Costa Posted April 4, 2008 Author Report Share Posted April 4, 2008 Estimo bem que o façam, é bom para a discussão. Decidi aprofundar a questão mais por se tratar de um colectivo jovem e por se terem mostrado sensíveis a um par de questões que são importantes. Link to comment Share on other sites More sharing options...
JVS Posted April 5, 2008 Report Share Posted April 5, 2008 Nao foi totslmente aberto. Participaram os ateliers com portfolio e com obra feita e que pudessem pagar umas centenas de euros pela caderno de encargos. Foi parcialmente aberto. Os arquitectos mais jovens e sem obra feita nao puderam participar. Link to comment Share on other sites More sharing options...
tatlin Posted April 5, 2008 Report Share Posted April 5, 2008 No meu entender esta proposta esta bem melhor que a do byrne que ficou em 5º lugar. No meu entender o grande problema que ela apresenta é o irem além do que é pedido em termos de compromissos (não sei se vale a pena comprometermo-nos com uma palete de cores logo no concurso de ideias, de resto pelo pouco que vi no blog deles a proposta esta bastante boa, já agora, não entendi se esta proposta chegou a ser apresentada a concurso. Pelas estorias dos dinheiros deu-me a impressão que não. A equipa está de parabéns :clap: Link to comment Share on other sites More sharing options...
Tiago Mota Saraiva Posted April 5, 2008 Report Share Posted April 5, 2008 Caríssimos, é verdade, fomos dos tolos que compraram o programa de concurso, por 200,00 €. também fomos dos que nos dirigimos à CML dizendo que deveria haver algum problema pois do programa não constava nenhuma planta. Pediram-nos mais 140,00€ /ha... Desta vez não compramos. Sinceramente não percebi bem, mas julgo que foram aceite as propostas de concorrentes que não compraram o programa de concurso. De qualquer forma tenho a opinião que os 200,00€ eram claramente uma forma de afastar os cidadãos e jovens arquitectos da contenda. Veja-se a escassa participação de jovens arquitectos. De qualquer forma, relativamente aos procedimentos do concurso, ainda muita água irá correr, por isso fico-me por aqui. Link to comment Share on other sites More sharing options...
asimplemind Posted April 5, 2008 Report Share Posted April 5, 2008 às vezes mais vale ser-se franco e abrir um concurso por convite do que gerar situações destas que são no mínimo hipócritas. Só mesmo em Portugal para se restringirem concursos com estes valores a pagar.. Link to comment Share on other sites More sharing options...
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