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25 abril

Parafraseando livremente Ricardo Araújo Pereira, não vou com a cara dos militares, não me parecem “seres” preparados para mais nada senão seguir ordens em torno de noções antiquadas; não acredito também no povo, que de burro e tacanho nada sabe ou pode fazer, mas por vezes sai um filho bonito de dois pais feios e isso foi o 25 abril.

Há 35 anos estávamos melhor do que há 36, há 35 anos estávamos melhor do que agora.

Estávamos melhor pois reinava um clima fantástico. Liberdade. Liberdade. O que era a liberdade ninguém sabia, entendeu-se a possibilidade de fazer o que se quer, coisa que não havia. Podia-se sair a rua e gritar e falar e atacar e acusar, e vestir o que se quer e amar quem se quer, e ir aos sítios e festejar, sem preocupações, sem responsabilidades, sem um olho controlador.
Há 35 anos podíamos fazer tudo e não fizemos nada. Perdemos 35 anos. Perdemos uma visão estratégica para o pais
Num clima que contava com o povo, interessado em ser livre, só, somos livres e queremos comer e queremos casas e queremos ser respeitados mas, habituados que estamos a que tratem de tudo por nós, queremos, dizemos, reclamamos, exigimos, a alguém mas não somos nós que o vamos fazer
Num clima que contava com os militares, os generais a querer o poder, os capitães queriam a liberdade, os soldados não queriam ir para o ultramar.
Num clima que contava com os do contra que agora tinham de cumprir com o a favor. Cunhal soube denunciar e criar uma organização social do contra, não soube construir e criar uma organização a favor.
Cunhal, que no último momento, lúcido, abstencionista ou fortuito, ficou-se pelo comunismo do contra, baixou as armas, afastou-se dos militares e impediu, que pela vontade de um povo oprimido que viu na outra opressão a liberdade, Portugal caísse no socialismo utópico soviético.
Fundou-se o centro-social-democrata, mais liberal com Sá Carneiro, mais católico com Freitas, mas sem espaço, ocupado pelo PS, foram apelidados de direita e nada podiam fazer, porque o povo, os militares, os comunistas e Soares, não deixaram transformar a liberdade em pura democracia.
Falta Soares. O socialismo moderado, a esquerda central, a democracia, no seu estado puro, de esquerda e de povo.
Depois de uns anos de gozo da instabilidade do nada se pode fazer. Com os comunistas e os militares, o Palma Carlos e o camarada Vasco. Com o Spínola, visionário de um Portugal com letra grande, mas de direita, sempre o medo da direita, o medo da volta ao big brother que não é de direita nem de esquerda, mas que o povo não sabe que é simplesmente big brother, Portugal foi andando, cantando e rindo, vivendo a derreter ouro que o Salvador nos deixou. O melhor que nos deixou foi o ouro.
E Soares, que homem de visão. Boa fé, é certo, sempre trabalhou com ela. Sempre a trabalhar em prol da nação, em prol de um portugal, este em letra pequena, em prol da liberdade, matou á nascença a nossa democracia, matou tudo aquilo que Portugal sempre foi desde o Infante, uma nação atlântica.
Se é certo que a guerra não nos interessava, certo é também, que era nos sítios da guerra que Portugal podia ter a letra grande.
Abandonamos, fugimos a sete pés. Primeiro tiramos as armas, depois tiramos os brancos, por fim deixamos os pretos que durante décadas nunca educamos á sua sorte, a sorte das quezílias internas, que como mal formados que eram, como nós, só tiveram uma solução. A guerra.
Antes havia o “Para Angola em Força”, com Soares “ Abandonar Angola, em Força”.
Ao mesmo tempo que educávamos os de cá, que construímos uma débil indústria, que continuávamos, uma tímida mas próspera agricultura, deveríamos lá fazer o mesmo. Não dar peixe ao Homem, mas ensinar o Homem a pescar.
O pior que poderíamos ter feito as ex-colónias foi deixa-las á sua mercê. Nem nós, nem eles, ficámos melhor. O que seria de hoje Portugal, se com a nossa estratégica posição atlântica dialogássemos e trocássemos cultural e economicamente com uma África instruída, industrializada, rica na transformação e exportação de bens e serviços?
Mas assim não foi, desde o Infante, Portugal tinha construído á lei da época uma estreita relação com o Mundo, Brasil, África, Ásia…os métodos, repito, á lei da época eram os mais ortodoxos, com a velha senhora, esses métodos já não eram eticamente aprováveis, mas em detrimento de construir novos métodos de ligação, de dialogo, de troca de “favores” bens, serviços, pessoas, culturas, preferimos o abandono, rápido e em força e hoje Portugal em vez do primeiro pais da Europa, é o ultimo.
E quem erra uma vez erra duas ou três, Soares continua no Erro.
Perdida a hipótese de sermos atlânticos, globais, mundiais como sempre fomos, agora com outros métodos, mas com a mesma vontade de construir um Portugal mais forte, um Portugal com visão….portugal soma e segue para a cauda do mundo.
A EU, a fantástica Europa unida, capaz de competir ao mais alto nível com as potencias mundiais. Mais uma vez Soares, de boa fé, é certo, sempre trabalhou com ela, sempre a trabalhar em prol da nação, em prol de um portugal, este em letra pequena, em prol da liberdade quis um Portugal submisso, dependente mas unido ao melhor dos melhores.
A cultura europeia apaixona qualquer um, as cidades, as pessoas, a edução, a evolução, a democracia, o bem viver, o bem vestir, o bem falar, o bem ler, o bem pensar…soares fascinado com o grupo dos poderosos jogou a última cartada em prol da evolução nesta nossa liberdade.
Pensou e pensou bem, já que perdemos a hipótese de ser globais, juntemo-nos agora a causa de sermos europeus. Juntemo-nos para formar uma Europa unida, igual, próspera, confiante, criemos um Portugal europeu como nunca fomos, um Portugal desenvolvido, ocidental, culto e educado, cheio de bem estar e bem viver.
Acabou por aí Soares, e digo, depois de tanto mal lhe atribuir, digo que não devia ter acabado.
Acabou com Soares o Portugal em transformação, o Portugal filho de Abril cheio de sonhos e de vontades, cheio de liberdade até as costuras, acabou o Portugal a pensar pela sua cabeça e começa um novo Portugal, o Portugal igual á Europa.

Começa então o sonho europeu. O sonho, repito, não passou de um sonho.
Como europeus começamos iguais, nós euopeus.
Como europeus, começamos por receber, estoirado o ouro, tivemos mais ouro. Rios e rios de subsídios europeus, dinheiro à farta para Portugal. O Pais, próspero, vivia bem. Pela primeira vez os filhos tinham mais que os pais,
O american dream europeu começou. Casas e carros, educação superior, mais casas, trabalho, bons salários, prosperidade, como bons portugueses que somos, ou melhor que nos construímos, pensávamos que o dinheiro não mais ia acabar.
Saímos da alçada de Salazar directamente para a alçada europeia. Não mais era necessário tomar decisões, apenas pedir ao pai Europa que nos mandasse mais dinheiro quando a mesada acabasse.
E havia, havia muito.
Cavaco e Guterres. O primeiro, o pai autoritário mas justo, o gestor brilhante que dava dinheiro a quem necessitava dele, o segundo, o pai simpático, o principio do gajo porreiro, pá, dialogante nato, dava a quem com ele dialogasse.
E assim, durante anos e anos, Portugal, não precisou de pensar, precisou de gastar e gastou, gastou tudo, tudo o que vinha foi usado, tudo o que vinha, vinha e vinha e foi gasto na boa vida do filho de pais ricos que nunca teve de trabalhar.
Devemos governar o nosso país como a nossa casa, mas nem em nossas casas governamos assim.
Estoiramos todo o dinheiro europeu. A Europa, diga-se, também nunca foi um bom pai. Foi o tal que nos deu o peixe sem nos ensinar a pescar, e depois, quando se foi, pegámos no pouco peixe que sobrou e começamos a come-lo moderadamente.
Nunca fomos capazes de desenvolver a agricultura
Nunca fomos capazes de desenvolver a indústria
Nunca fomos capazes de desenvolver a cultura
Nunca fomos capazes de desenvolver a ciência e técnica
Nunca fomos capazes de desenvolver a economia
Nunca fomos capazes de desenvolver uma visão, uma maneira de construir Portugal

Toda a visão que tivemos foi a da fuga aos problemas. Soares fugiu de Angola, em força, Soares, fugiu da miséria pedindo adopção por um pai rico. Cavaco e Guterres fugiram da construção no deixa andar e hoje….estamos assim.

Somos a cauda da Europa. Tivemos peixe mas não o soubemos pescar.
Pudemos ser um dos unidos e iguais europeus, transformámo-nos no último.
Pudemos ser o primeiro europeu global, somos o último europeu rodeado de um mar que sabemos ultrapassar.

Agora é tarde e deixaremos andar como bons portugueses que nunca fomos.
Hoje somos apenas os mordomos que servem pasteis de nata e vinho do Porto aqueles que transformam este mundo em global.


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