O estádio de Braga (2000), em fase de acabamento depois de dificuldades de execução 6 do lugar e a implantação do edifício, que nasce por ocasião dos campeonatos europeus de 2004 entregues a Portugal, são as bases do projecto e condicionam as escolhas arquitectónicas. Souto de Moura propõe uma implantação diferente da inicialmente prevista pela administração municipal, situando-o, porém, no interior do jardim desportivo a norte da cidade. Da implantação original num vale, marcada pela passagem de uma linha de água, o estádio é deslocado para poucas centenas de metros em direcção a oeste, amparado pela encosta norte do monte Castro, limite histórico da cidade. Esta escolha permite evitar os riscos devido ao aumento das torrentes durante os frequentes períodos chuvosos que caracterizam a zona e a deslocação impõe um estudo cuidado da relação entre o edifício e a montanha, com um espectro de hipóteses que viram o estádio aproximar-se ou apoiar-se à encosta, até à decisão de engastá-lo. Uma reflexão sobre a arquitectura em negativo, da escavação , que define a forma mediante uma subtracção da matéria em diálogo e contrapondo com o construído, mas também a procura de uma durabilidade da obra para além do artificio humano uma vez que a marca da obra na terra permanecerá bastante mais do que a vida da arquitectura. O desaparecimento das bancadas, as referidas “curvas” , são uma alteração da tipologia habitual que situa todos os espectadores em condições de visibilidade óptimas, distribuídas nas duas bancadas compridas subdivididas em duas categorias sobrepostas. Isto equivale à violação de um tabu, fundamentado na hipótese de uma transformação do fenómeno social futebolístico com um declínio do carácter tribal e colorido do fanatismo em favor de um publico de entendidos. A fenda na montanha, que fecha um dos dois lados mais pequenos, contribui a formar um conteúdo invadido que se abre para noroeste com um grande rasgo na paisagem do vale. A orientação paisagística poderá também produzir um efeito de diluição da concentração e, portanto, da tensão, dos espectadores. Uma perspectiva alterada em relação aos rituais futebolísticos, de facto, uma verdadeira redefinição do programa típico de um estádio que , se pensar no ímpeto do fanatismo futebolístico português, arrisca de ser interpretado como um acto de ofensa. O carácter do espaço fechado entre duas vistas panorâmicas é acentuado pela cobertura, que atravessa todo o campo de jogo reduzindo a secção aberta da dupla cávea . “Inicialmente – conta Souto Moura – a cobertura deveria ter sido um grande alpendre contínuo, como o do Siza para a Expo, depois condicionados por uma viagem ao Peru, optamos por uma forma que faz referência às pontes incas”. A assunção do lugar como elemento de projecto, que como se viu é um dos temas directrizes da obra de Souto de Moura e em Braga conduzido às suas extremas consequências, é o fundamento também de um projecto importante antigo e ainda em curso: o metropolitano do Porto (1997) Pela posição em relação à estrutura urbana e graças a uma secção que o torna parte do monte Castro, o estádio “poderá funcionar de âncora para a ordenação do território na expansão emergente da cidade em direcção ao norte”. As entradas do estádio abrem-se sobre duas praças. Uma à cota baixa, à frente da bancada noroeste, conecta-se com as outras instalações desportivas, com o estacionamento e com as novas zonas residenciais a norte da cidade. A segunda, quarenta metros mais para cima, esta situada em correspondência com um terraço panorâmico preexistente e apenas se pode aceder com transportes públicos. Daqui pode-se subir ainda cerca de quarenta metros se se pretender alcançar o centro da cidade. A escavação da montanha comportou grandes dificuldades geotécnicas e foi necessário adaptar a posição da implantação e a rotação do eixo longitudinal do campo de jogo, de forma a não contrariar as linhas de fractura naturais da rocha. Para seguir exactamente a secção do projecto, o corte do granito foi obtido com séries progressivas de pequenas explosões, produzindo uma fenda na rocha que fica À vista por trás da porta sudeste, com uma altura de cerca de trinta metros. Observando os desenhos e as imagens das maquetas tem-se a sensação de encontrar-se diante de uma concepção do estádio futebolístico não convencional, pelo menos por dois motivos: a inserção na paisagem e a eliminação das bancadas por trás das portas. As duas invenções isentam o projecto das classificações estéticas comuns e requerem um juizo baseado em diversas referencias históricas e mais longínquas no tempo. O anfiteatro romano, o Coliseu como caso exemplar, é o progenitor dos estádios modernos de atletismo e de futebol, independentemente da sua forma elíptica ou rectangular. O mesmo conceito de edifício como maquina complexa deriva directamente daquele modelo, composto por vários níveis, apenas alguns visíveis e acessíveis ao publico, outros ocultados nas vísceras da construção e destinados aos adictos, outros ainda abertos apenas aos actores do evento. Como os estádios modernos, os grandes edifícios romanos para espectáculos, anfiteatros e circos, estavam geralmente isolados e construídos em elevações em relação ao terreno .O estádio de Braga destaca-se da imagem habitual da cavidade realizada no terreno limpo, assim como a protuberância que organiza e centraliza a paisagem circundante, inserindo-se pelo contrário, numa uniformização já estruturada da paisagem, que o acolhe e com isso interage encontrando uma nova definição e novos valores. A referencia mais imediata é a relação que as grandes obras da Grécia clássica instauram com a paisagem e especialmente o teatro de Epidauro , como testemunhado pela entrevista que fecha o presente volume.
Bibliografia Revista “El Croquis Eduardo Souto de Moura ,1995 2005 “
Esposito , antoni e Leoni ,Giovanni ,”Eduardo Souto de Moura “, Editora Gustavo Gili ,S.A, 2003