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Um castelo de cultura na fronteira

Por Sónia Balasteiro

Fazer parte de um país não significa ter uma só identidade. É, antes, conviver com uma pluralidade de identidades. Quando se chega à zona da chamada Raia beirã, separada por uma linha imaginária de Espanha, essa perspectiva ganha especial sentido

Ali, persiste o Portugal dos antigos latifúndios, da agricultura de subsistência, das pedras da idade do tempo, das montanhas, do silêncio. Viver fora dos centros de decisão, sejam políticos ou culturais, carrega, para o bem e para o mal, o peso de uma identidade diferente. Uma identidade que encontrou, em 1997, a sua expressão materializada no Centro Cultural Raiano (CCR), em Idanha-a-Nova. É, portanto, natural que o Centro tenha nascido enquanto projecto transfronteiriço.

«O último castelo raiano» - assim lhe chamaram os seus dinamizadores, da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova. Mas, neste caso, é de defender a cultura de um povo que se fala. Seja trazendo a arte que se vai fazendo fora, seja mostrando a arte que há dentro das gentes, que a vêem assim valorizada.

O Centro Cultural Raiano é um edifício austero, belo, um bloco robusto que integrou o granito, a pedra da região, na sua arquitectura. Foi há 12 anos. A nível 'funcional', integrou bem mais: além dos espectáculos que acontecem regularmente no auditório (com teia italiana e capacidade para 250 pessoas), e das sessões semanais de cinema, o CCR funciona como museu. Mais: funciona como o núcleo central dos vários pólos museológicos que se estendem em rede pelo concelho de Idanha-a-Nova.

Como núcleo, o CCR dispõe de duas salas de exposições. Na sala maior, o espólio dá conta de uma das maiores memórias da Raia, a agricultura, através de todo o tipo de utensílios. De arados a carroças, de forquilhas aos búzios com que, antigamente, se chamavam as ceifeiras para a labuta diária. Na sala contígua, uma exposição, esta temporária, sobre a gastronomia da região e os momentos em que ganha protagonismo. Depois, há os gabinetes: de antro- pologia, de geologia, de conservação e restauro.

Mas nem só de memórias próprias entra a cultura por aqui: a arte contemporânea tem porta larga. Paula Rego, Maria João, Mário Laginha e Dulce Pontes são alguns dos artistas cujas obras, nas suas diferentes expressões, os visitantes do CCR já tiveram oportunidade de conhecer.

No mesmo 'castelo raiano', criado pelo arquitecto Marçal Grilo, funciona a sede do Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional, criado em 2005 por vários concelhos do interior, para promover geosítios com milhões de anos, como os icnofósseis (vestígios de cobras aquáticas) de Penha Garcia. Aproveitando as valências do CCR, explica-nos Pedro, que nos guia pelos espaços que se estendem em torno de um jardim interior, «quando aconteceu a Conferência Internacional de Geoparques foi inaugurada uma exposição de Arte Fóssil, para que as pessoas soubessem do que se estava a falar». Foi um êxito.

Falar do CCR é, por muitos motivos, falar da Raia, das memórias e dos projectos de uma zona de que raramente se ouve falar. E vale a pena conhecer uma identidade tão vincada. Pela fronteira, pelas raízes profundas criadas na zona.

CENTRO CULTURAL RAIANO

TEL. 277 202 900/

http://www.cm-idanhanova.pt/

IDANHA-A-NOVA

sonia.balasteiro@sol.pt

IN http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=162547

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