Argos. Desculpe se fui presunçoso e inelutável ou até mesmo satírico. Mas efectivamente vemos na nossa profissão coisas que não estamos à espera que aconteçam (pelo menos não deveriam acontecer). Quando olho para certos projectos, fico deveras impressionado com a falta de rigor, e quando não verifico o cumprimento das exigências legais mínimas de habitabilidade, fico ainda mais perplexo. Mas o que pretendo chamar a atenção, pretende ir ainda mais longe do que isso, ou até mais perto, sendo que o arquitecto deveria ser capaz de alcançar. Já aqui defendi a necessidade de uma certa maturidade para o acto de projectar. É isso a que me refiro. Esse aspecto essencial do arquitecto permite-lhe adquirir a serenidade e os conhecimentos necessários ao exercício da sua profissão. O que já estou farto de salientar, e que nunca é demais (não me causa incómodo) é que a arquitectura nasce, não apenas de um traço (…) e mesmo essa fase inicial exige por antecipação que o arquitecto se integre nos problemas tão variados do trabalho a executar, no qual depois de tal trabalho árduo os desenhos prosseguem (…) e o arquitecto verifica então se a solução atende internamente ao programa fornecido (…) se tudo funciona bem. Em todo esse processo, os metros cúbicos e quadrados que necessitamos para vivermos são um factor destacado. E isto porque os espaços são o aspecto a ter sempre em atenção, sendo que é a matéria primordial da nossa existência. O factor quantitativo, a ideia de grandeza, medida à escala humana, ou seja, a relação do indivíduo com o quadro no qual ele é, pode ser avaliado segundo alguns factores intimamente relacionado com a percepção que fazemos do espaço entre os quais; a escala, a forma, etc. Mas não o essencial! Quero eu dizer que, para além de tudo isso, o actuar no espaço, quando se projecta, é sublinhado pelo contacto do indivíduo, a sua experiência social, bem como, fundamentalmente, a dimensão estética. De modo que devemos, ao projectar, ter sempre em atenção a referência ao contacto com o espaço, sendo que sem tal preocupação o próprio espaço deixaria de o ser. O arquitecto mexicano Luís Barragan costumava afirmar que “uma casa é um refúgio, uma peça emocional de arquitectura, não uma peça fria de equipamento” e que “qualquer obra de arquitectura que não seja uma expressão de serenidade é um erro”. Entende onde quero chegar? Refiro-me, portanto, a muito mais do que meramente projectar metros quadrados ou cúbicos, mas a criar espaços emocionais, minimizando o seu envolvimento com tendências e modismos superficiais. De modo que era importante explorar as relações entre os espaços que permitam ao utilizador transcender as circunstâncias da vida e conectá-lo às forças vitais inerentes dessa relação. Não estou falando de coisas esotéricas, mas simplesmente de estabelecer relações mais claras e intensas entre os espaços. Porque se o arquitecto não for capaz de chegar a essa dimensão, não é de modo algum digno desse título. E, sendo assim, para que serve a arquitectura? (…)