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Dia 12 de Abril é revelado o Pritzker de 2009 - quem vai ganhar???


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Um arquitecto asceta na galáxia das estrelas
13.04.2009, Joana Amaral Cardoso

Um criador imune às modas e que se demora em cada projecto espera que o seu prémio inspire os jovens profissionais. Defende "uma arquitectura clássica", dos detalhes e da alma

O suíço Peter Zumthor, o arquitecto antiestrela, é o Prémio Pritzker de Arquitectura 2009. Junta-se assim à constelação de arquitectos habituados ao reconhecimento público e a algum estrelato - como o português Álvaro Siza, o holandês Rem Koolhaas ou o italiano Renzo Piano, todos laureados com o Pritzker. E quer que o prémio, o Nobel da Arquitectura, sirva para mostrar às gerações de jovens arquitectos que é possível viver a sua arte de outra forma, sem olhar primeiro ao dinheiro e dando tempo ao desenho de um edifício.

"Esperaria que [a atribuição do Pritzker] lhes ensine que se podem fazer as coisas à nossa maneira, cuidadosamente... que não é preciso fazer o que as outras pessoas esperam de nós", disse ao Chicago Tribune. Falava a partir de casa, na aldeia de Haldenstein, Suíça, onde trabalha no seu estúdio desde 1979, com o vento dos Alpes a ouvir-se como pano de fundo.

Zumthor "é um arquitecto magistral admirado pelos seus colegas de todo o mundo pelo seu trabalho focado, sem compromissos e excepcionalmente determinado", diz o júri do Pritzker. Os jurados destacam o estilo de vida quase ascético de Zumthor, a pequena equipa com que trabalha ("É assim que posso ser o autor de tudo", disse ao New York Times) e a imunidade às modas. "Devoção", "humildade", "visão penetrante" e "poesia subtil" são outros elementos que o júri usa para descrever a sua obra, elogiando o papel de Zumthor na reafirmação do lugar essencial da arquitectura "num mundo frágil".

O arquitecto Nuno Brandão Costa, Prémio Secil 2008, disse ontem ao PÚBLICO que o trabalho "único" de Zumthor já merecia o Pritzker exactamente por enfatizar "a disciplina como a arte e a cultura da construção". Seu colega geracional, o português considera que a subtileza da obra do suíço "vem de uma certa ausência de forma, que depois se potencia espacialmente pelo valor quase primitivo dos materiais" usados.

Resistência à fama

A obra de Peter Zumthor, de 65 anos, esteve em espírito e exposição em Lisboa em Setembro. O arquitecto trouxe a mostra retrospectiva Peter Zumthor Edifícios e Projectos 1986-2007 à LX Factory, em Alcântara, por ocasião do Warm-Up da bienal ExperimentaDesign. Em 3000 m2 e durante cerca de dois meses, quatro salas da LX Factory encheram-se de vídeos, maquetas gigantes e modelos. No local, nem uma fotografia do autor dos edifícios. Zumthor resiste à fama, à celebridade que, com o aumento da popularidade da arquitectura nos últimos anos, se agiganta para os seus executores, mais expostos nos me-dia, mais conhecidos pelo nome.

Como disse na altura ao PÚBLICO, gosta de projectos com enunciados: "Se me disserem que posso fazer o que me apetecer e que basta ter o meu nome, então estou fora".

O seu trabalho mais conhecido é as Termas de Vals (1996), na sua Suíça natal, que já disse considerar a sua "obra-prima". O júri do Pritzker destaca-as e também menciona a Capela de St. Nikolaus von der Flüe (2007), próximo de Colónia (Alemanha), e,também em Colónia, o Kolumba Museum (2007). O presidente do júri, Thomas J. Pritzker, presidente da Fundação Hyatt que atribui o prémio desde 1979, considera que os edifícios do arquitecto suíço "têm uma presença forte e intemporal" e que ele combina com "raro talento" o pensamento "rigoroso" com uma "dimensão verdadeiramente poética".

Peter Zumthor nasceu em Basileia e estudou na Kunstgewerbeschule, Vorkurs and Fachklasse e no Pratt Institute de Nova Iorque. Descreveu-se profissionalmente ao PÚBLICO como alguém "que não está interessado em fazer dinheiro, em fazer superfície". Um defensor de uma "arquitectura clássica, que se preocupa com os detalhes, com o espaço". Por isso prefere tarefas com "algum valor humanista, social, artístico", como escolas, lares, museus. Aceita poucos projectos e demora-se neles. "Amo os espaços e os edifícios. Gosto que eles sejam completamente concentrados na essência. Tento conseguir isso trabalhando muito - chego a trabalhar dez anos num edifício". "Os meus edifícios são feitos para a vida". Foi aprendiz de marceneiro, a profissão do pai que, a par dos arquitectos clássicos do Modernismo, continua a citar como uma das suas principais influências.

Nos últimos dez anos, os europeus dominaram a lista de premiados do Pritzker, com sete vitórias. Uma delas foi a da dupla de suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron (2001), tornando Zumthor o segundo suíço a ser distinguido com o Pritzker e consagrando a arquitectura suíça. O prémio (um medalhão de bronze e 75,7 mil euros) é entregue a 29 de Maio em Buenos Aires, Argentina.

Vals, Suíça

O edifício original era um complexo hoteleiro construído na década de 1960. Zumthor apropriou-se do espaço e criou uma estrutura de paredes de betão cobertas por finas lajes de rocha vulcânica local, que viriam a ser preenchidas pela água. Esta obra criou, dizem os críticos de arquitectura, um "efeito Vals", semelhante ao "efeito Bilbau" de Frank Gehry após a construção do seu Guggenheim basco. As termas são um espaço vivido - cerca de 40 mil visitantes por ano.

Foi erigido sobre as ruínas de uma igreja gótica destruída na II Guerra. Diz o júri do Pritzker: "Uma obra contemporânea sensacional completamente à vontade com as suas múltiplas camadas de história".

Mechernich, Alemanha

A cofragem da capela fez-se de 112 troncos de árvore em cone, depois cobertos por betão. Durante três semanas, manteve-se um fogo no interior para que os pedaços ressequidos dos toros fossem retirados facilmente. Nas mãos de Zumthor, os materiais "são usados de uma forma que celebra as suas qualidades únicas, tudo ao serviço de uma arquitectura de permanência", destacou o presidente o júri do Pritzker, Lord Palumbo.

in http://jornal.publico.clix.pt/

Uma personalidade avessa ao glamour do mundo globalizado, sobranceira e esclarecida
13.04.2009

O Prémio Pritzker foi para o mais assumidamente europeu dos arquitectos

A notícia de que Peter Zumthor ganhou o Prémio Pritzker irá surpreender muita gente, pois seria de esperar que este influente arquitecto suíço nascido em 1943 já tivesse sido galardoado.

No seu currículo, Zumthor conta já com o prestigiante Prémio Mies van der Rohe para a Europa, que lhe foi atribuído em 1998 pelo Kunsthaus, um museu de arte em Bregenz (Áustria, 1997). E o Pritzker, que representa a distinção máxima que um arquitecto pode receber, adivinhava-se estar destinado a Zumthor: era uma questão de tempo.

Zumthor é originário de Basileia, cidade-base da arquitectura suíça contemporânea, onde estão sediados escritórios famosos como o de Herzog & de Meuron ou Diener & Diener, por exemplo, o último com maior impacto regional. Estudou Design e Arquitectura na Kunstgewerbeshule Basel e no Pratt Institute de Nova Iorque, sendo professor na Accademia di Archhitettura em Mendrisio. O seu pai era marceneiro e construía móveis, condição que se reflecte no carácter rigoroso com que os seus edifícios são detalhados, assim como no apego a uma cultura "artesanal" em desuso na prática contemporânea. Sobre a mãe, Zumthor tem-na descrito como uma mulher religiosa, devota dos santos locais. Em 1968, pertenceu ao departamento de preservação de monumentos no cantão de Graubünden, realizando pequenos projectos de restauro e acumulando conhecimento sobre património.

A sua obra "oficial" é somente contabilizada a partir da segunda metade dos anos 80 do século XX, reduzindo-se a um número muito diminuto de edifícios, na sua maioria construídos no eixo Suíça-Alemanha. É uma cronologia restrita que abre com o abrigo para o sítio arqueológico de Welschdörfli (Chur, Suíça, 1985) e termina com o Museu de Arte Kolumba, em Colónia (Alemanha, 2007). O seu isolamento em Haldenstein, na Suíça "rural", onde trabalha desde 1979 e construiu as suas obras iniciais (Casa Rath, de 1983, ou o seu primeiro estúdio de 1985), é mítico. Lendária também é a sua personalidade, avessa ao glamour do mundo globalizado, sobranceira e esclarecida, assim como o gosto pela música erudita contemporânea com que principia as suas palestras. O seu trabalho tem sido caracterizado por não se deter numa linguagem (preferindo a abstracção) e pela sensibilidade aos materiais, texturas, luz, lugar e ética construtiva.

Existe uma razão para que Zumthor tenha esperado tanto pelo Pritzker, que é um prémio dado por uma instituição norte-

-americana e por isso de desígnio "internacionalista". Trata-se de um arquitecto assumidamente "europeu" que, contrariando uma ideia, hoje dominante, de uma Europa miscigenada, não cultiva o multiculturalismo. Coloca-se numa perspectiva oposta à dos seus mais eminentes colegas de continente, como Norman Foster, Jacques Herzog ou Rem Koolhaas, todos premiados e reconhecidamente "globais", tendo-se mantido impermeável a culturas exógenas e a um desempenho performativo tecnológico mais globalizado.

Isto significa que existe nos seus edifícios uma indelével marca "europeia" que remete para uma imagem ancestral. Não necessariamente esgotada dentro de uma forma clássica ou mediterrânica (que vulgarmente associa a "origem" da arquitectura ao templo grego), mas cruzada com a cultura centro-europeia, calvinista e cerebral. Este facto tornou difícil categorizar a obra de Zumthor, como se reconhecia em 1998, via Friedrich Achleitner, na revista japonesa de arquitectura A+U, uma das raras publicações sobre o seu trabalho autorizadas pelo arquitecto. "Os seus edifícios - escrevia então o poeta e crítico austríaco - exigem a empatia do visitante. Incondicionalmente".

Esta nota data do final dos anos 90, quando já estavam terminadas as três peças fundamentais que definiram o timbre de influência "zumthoriano": a capela em madeira de Song Benedetg, Sumvitg (Suíça, 1988), onde estabelece uma moral construtiva de imaginário artesanal; as termas de Vals (Suíça, 1996), regresso ao espaço arquetipal dos banhos romanos; e o Kunsthaus, caixa pura feita de vidro, ferro e betão.

A este breve conjunto, tratado como a estrutura canónica do seu percurso, está associada uma produção "autoral" que enfatiza de propósito o lado "excepcional" da obra arquitectónica. Zumthor determina assim os limites de uma "arquitectura culta e europeia" que não se satisfaz com o cumprimento de necessidades "reais", mas expõe os seus visitantes a uma experiência transcendente. E foi esse vislumbre de imortalidade que a sua arquitectura ofereceu, nos anos 1980, num momento de turbulência pós-moderna. Daí a sua importância. Mais recentemente, na capela Saint Bruder-Klaus (Mechernich, Alemanha, 2007), Zumthor transforma a vivência arquitectónica numa experiência artística, e no museu Kolumba recusa qualquer expressão que recorde a vulgaridade da vida quotidiana.

Mas o "europeísmo arquitectónico" de Zumthor pode, por outro lado, ser tomado como uma manifestação de provincianismo regionalista, mesmo que tenha sido inúmeras vezes plagiado por outros. Esta possibilidade estará à prova na próxima década quando finalmente alargar o seu espaço geográfico "natural" e começar a construir noutros territórios. É também esta a expectativa que o Pritzker lhe abre. Ana Vaz Milheiro, crítica de arquitectura

in http://jornal.publico.clix.pt/

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fico contente pelas minhas expectativas estarem correctas... merecido sem dúvida. talvez este Pritzker ajude a uma tomada de consciência por parte de muita gente que pensa a arquitectura como meio de ganhar fama e dinheiro pondo de parte todo o trabalho poético e rigoroso que esta arte nos exige...

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