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Acaba assim o primeiro


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Terminei hoje o meu primeiro ano na Universidade. :icon_chick: Entrei em arquitectura numa universidade que foi escolhida como a minha 5ª opção (aquelas que só colocamos por segurança). Como o meu percurso escolar não foi o mesmo que muitos dos meus outros colegas que vinham de artes, tive ideia que me iria custar mais, e que não iria conseguir atingir os meus objectivos tão facilmente. Também tinha ideia que me ia custar imenso adaptar-me a uma turma, em que grande parte dos meus colegas, eram mais novos.
Como me enganei em relação a tanta coisa…
Acabei o primeiro semestre com notas mais altas que muito dos meus colegas, a disciplinas a que eles supostamente teriam mais facilidades. Acabei o semestre de cabeça erguida e convencida que estava no rumo certo. Tinha-me distinguido a desenho e tornei-me “perita” a fazer maquetes. O segundo semestre foi invadido com trabalhos de grupo. Os “contactos” que fui fazendo no primeiro semestre foram o mote para a minha escolha, pessoas da mesma cidade (por comodidade) e que não se fossem opor às minhas decisões. Resultado: cheguei à conclusão que trabalhos de grupo são mitos. Não é verdade que há trabalho em grupo. Correcção, há trabalhos de grupo quando há o elemento grupo! Não quando se lida com crianças. No fundo, o que me choca é o nível de infantilidade com que se chega ao ensino superior. Já para não falar na falta de responsabilidade, de rigor e de seriedade. Ora os trabalhos de grupo acabaram por ser resolvido na semana antes da entrega. Para aligeirar o tom do meu discurso, deixo-vos as minhas desavenças e dissabores nestes trabalhos.

Trabalho de grupo que teria uma parte teórica de pesquisa e uma maquete. A parte teórica foi desenvolvida por mim e uma colega. Andei o semestre inteiro à espera da parte dela (supostamente seria metade). Até que às 22h do dia anterior à entrega, recebo no mail a contribuição dela: um parágrafo de 5 linhas e uma imagem. O que me valeu foi ter previsto a situação e ter adiantado o trabalho. O que não me dispensou no entanto, de uma noitada para afinar o texto. Este trabalho ainda resultou no corte da mesa de café da sala, porque um dos elementos do grupo não sabia que o x-acto chegava à mesa (sem comentários). ;)
Trabalho para a cadeira de materiais, e para este não resisto em citar aqui algumas pérolas da parte escrita (desta vez havia parte teórica para todos os elementos). A introdução que me foi apresentada: “Para este trabalho orientado para a disciplina de Materiais, tivemos com objectivo principal a selecção dos materiais a utilizar na habitação apresentada pelo professor. Para tal meta alcançar, tivemos que ter em conta vários aspectos: impermeabilidade, isolamento, terreno, clima, meio envolvente, entre outros factores que influenciaram para a decisão final. Como conclusão, temos neste trabalho uma tabela síntese de maneira a tornar mais explícito a variedade de materiais de construção especificamente escolhidos.” Quem é que acaba o 12º ano a escrever assim?
O trabalho ainda tinha outras pérolas da língua portuguesa: “Nas cerâmicas, o interesse se situa no peso. (…)Em relação ao peso, por exemplo, há cerâmicas mais leves que a água, e outras de grande peso." , “Secagem: ao toque, em duas horas, de acordo com a temperatura e a umidade (…)”, e ainda escreverem “especificamente” listarem e acabarem com “etc”. Entre mais algumas que denotam a seriedade com que se fazem os trabalhos.

Outra situação que achei curiosa foi o nível de conhecimentos com que se entra na universidade. Ouvi de tudo! Colegas que não sabiam o que eram as águas-furtadas, que não sabiam usam um X-acto e compravam um novo assim que a primeira lâmina deixava de cortar. Não conhecerem minimamente obras de arquitectura, não saberem como se escreve Siza, não terem ideia quem é o Tadao Ando ou o Byrne. No fundo entra-se para arquitectura por que é moda (foi esta imagem com que eu fiquei) e não porque se quer fazer disto vida. Não sabem escrever (ler as memórias descritivas era um gozo tremendo), tremem quando lhes é dito que têm que ler 4 livros e meia dúzia de fotocópias para uma frequência, não têm cultura musical (e não estou a dizer que só gostam de uma ou outra banda, mas sim que simplesmente não conhecem nada), não fazem ideia quem foi Hitchcock, e desconhecem filmes como Blade Runner ou Fight Club. Fazem o curso na onda de que o que interessa é passar e não é grave tirar 10 a tudo. Pensam que as imagens do Google são as melhores e que a wikipedia é a fonte mais fiável. Não têm interesse por arquitectura e isso fica visível assim que se tenta alguma conversa específica, porque não conhecem e não se interessam. Comprar livros de arquitectura com fotografias bonitas e avaliam os projectos pela fotografia. Enfim. :tired:


No fundo não gostei, fiquei desiludida porque sempre acreditei que o carimbo de geração rasca era injusto. Mas não o é. E o que se verifica é que quem não o é, acaba por ser a excepção e não a regra numa sociedade em que o importante é entrar na universidade, depois é permitido mudar para qualquer curso, viajar de moda, design ou outro qualquer curso para arquitectura… No fundo tenho receio, receio que consigam acabar o curso e que venham a fazer arquitectura.

Acabo assim o meu desabafo… E vou de férias!! :)

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against: também tenho apreciado isso, apesar de estar a acabar o curso este ano. Lembro-me que quando entrei, o aluno-tipo do primeiro ano era bastante diferente daquilo que vejo hoje em dia. Mas ao mesmo tempo, o jovem-tipo de 18 anos também ele é bastante diferente de há 6 anos atrás. Mas também se formos a ver, há 15 anos atrás então é que era! E na época dos nossos pais nem se fala... O certo é que a sociedade está a evoluir para pior constantemente. As novas gerações são cada vez mais influenciadas pela televisão, pelos 15 minutos de fama de um puto qualquer que pensa que sabe tocar música. Tudo isto é o reflexo de uma mentalidade e de uma aculturação que se vive hoje em dia e que só tem tendência a piorar. Somos cada vez mais a imagem da América há 20 anos atrás. E por isso mesmo cabe-nos a cada um de nós ter a percepção daquilo que somos e do que fazemos. E na nossa auto-crítica evoluirmos e adaptarmo-nos à realidade. Auto-crítica é algo que dificilmente vejo num jovem de 18 anos. Lembro-me que sempre tive um grande sentido de auto-crítica e antes dos outros me criticarem já eu o tinha feito a mim próprio e tinha mudado. E por isso não acho que te devas desiludir ou preocupares-te pela situação em que vives. Simplesmente cada um tem de ser responsável por aquilo que faz. E o percurso académico é isso mesmo. A todos são dadas as mesmas oportunidades, no entanto uns ficam para trás e outros avançam. É a natureza. Cada um tem os objectivos que tem e tem os valores que tem.

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É realmente tenebroso o caminho que a nossa sociedade leva... e esse caminho parece ser cada vez mais traçado pelo facilitismo... Vejo cada vez mais a concretização de uma ideia que passou por todas as nossas cabeças quando eramos mais jovens, de que sempre que eramos contrariados, pensavamos que quando fossemos nós a "mandar" iamos ser diferentes... dou por mim a olhar incrédulo para pais que lidam com os filhos com esse facilitsmo na cabeça, e que não se querem chatear como os seus pais fizeram com eles... no fundo os culpados são os pais, sempre os pais e os pais destes que no caminho terão perdido algures o controlo da situação... Também passei por essas questões quando estudava, mas sei bem que poucos anos fazem uma grande diferença, porque o que eu passei não é nada comparado com aquilo que hoje se passa nas faculdades, onde como dizes bem, o que interessa é apenas passar, mesmo que com um 9,5... Facilitismo é a palavra que melhor descreve esta geração...

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Mas de quem será a culpa? Da geração "rasca", ou das gerações anteriores que lhes permitiram esse facilitismo? Acho que no fundo, os "rascas" aproveitam as oportunidades inteligentemente! Isso sim, é o grande problema, mas no fundo eles vão acabar por ser as proprias vitimas da sua própria geração.

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