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Costa Alentejana | Casa Barreira Antunes | Aires Mateus


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Casa Barreira Antunes
Manuel e Francisco Aires Mateus, Arquitectos
Dossier Especial – últimas reportagens

Nesta parte da Costa Alentejana existem várias casas abandonadas dispersas pela paisagem. Os vestígios de cal ainda resistem em muitas delas, envolvendo as espessas paredes, apoiadas por contrafortes, desproporcionados em relação à modesta dimensão das construções. São volumes elementares com poucas aberturas e que estabeleceram com a paisagem, eventualmente como as pessoas que neles habitaram, uma relação de total reciprocidade. Dir-se-ia que estão, no seu abandono lacônico, o mais distante possível da contemporaneidade, esta última muitas vezes associada a construções diáfanas em vidro, tecnologicamente sofisticadas. A casa concebida pelos arquitetos Manuel e Francisco Aires Mateus, sendo inequivocamente contemporânea, nas suas qualidades e limitações, é o resultado de um olhar atento, e nada nostálgico, sobre essa forma secular de habitar a paisagem.

Quando se avista ao longe, surge como um sólido branco pousado na linha de festo de uma colina. Não existem quaisquer aberturas. A sugestão platônica – um sólido branco com uma escala doméstica – não impede que se adivinhe que se trata de uma casa. Habitar significa neste caso, e em geral no percurso recente destes arquitetos, uma procura serena pela elementaridade, pela redução ao mínimo dos elementos que compõem a casa. Para que se construa apenas o essencial e se relativize, tanto quanto possível, a impressão digital do passageiro e do sazonal. Nesta casa a “idéia” sobre um modo de habitar ganhou materialização, fato pouco habitual na arquitetura portuguesa, pelos pressupostos de radicalidade que esta passagem habitualmente implica.

Adivinha-se um sentido de “espaço escavado” no interior; paredes espessas e recurso a poucos materiais. Mas não é só isso. As duas portas de madeira (na verdade dois pesados painéis que correm elegantemente), uma orientada a nascente, a outra a poente, quando abertas, permitem uma nova complexidade. A casa pode estar totalmente aberta ao exterior, e em simultâneo ser um organismo de espaços escavados na massa “branca”. E nesta dualidade, entre máxima permeabilidade com a paisagem e máxima introspecção, reside a sua riqueza conceptual e espacial.

No interior os arquitetos introduziram um elemento imponderável: um pátio ao centro da casa, em relação ao qual todos os espaços de disponibilizam. Não é o pátio habitualmente visto nas arquiteturas mais recentes, aberto à casa. Aqui este elemento vai impedir que a casa seja atravessada com olhar, funciona novamente com o sentido de muro e de espessura. Trata-se de um pátio próximo da arquitetura arcaica, do mundo mediterrâneo; está fechado sobre si próprio, abrindo-se apenas à face sul, revelando uma árvore no exterior. A luz, manipulada serenamente, invade o interior completamente branco. Esta estratégia vai repetir-se numa trama de pequenos pátios que iluminam todos os espaços domésticos – quartos, casas de banho e cozinha – e permitem relações voyerísticas entre si.

A luz é definitivamente o tema eleito neste projeto. No exterior é um sólido idealizado sob o Sol. No interior, mais do que a óbvia tentativa de flexibilidade funcional dos espaços, através das proporções dos espaços e de uma luz onipresente e difusa, trata-se de uma relação simbiótica entre essa luz e um sentido de escavação: novamente de um tema arcaico. O arquiteto espanhol Alberto Campo Baeza escreveu, num pequeno texto intitulado “Em torno da Luz”, “Podemos dizer que a chave reside na compreensão profunda da luz como matéria, como material, um material moderno”.

Ricardo Carvalho

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Fonte: Arkinetia e Ultimas Reportagens
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É sem dúvida um projecto muito interessante. Gosto da ideia da casa girar à volta da luz. Mesmo assim, a cor branca por muito bonita que seja (e é, não estou a por em causa), dá uma sensação de entrar num espaço frio e impessoal, onde não existe calor humano. Ah! Gostaria de ver a planta do edificio! Não sei onde a posso arranjar, alguém me ajuda?

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PANICdarko: Esse calor humano é dado pela ocupação feita posteriomente...
Se fores lá actualmente concerteza não estará assim tudo imaculado...arriscas-te a ver um quadro pendurado, uma jarra de flores...uma série de coisas que dão vida a um espaço "branco"...

Abraços
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Mas é o que acontece...o arquitecto muitas vezes não pensa nos usos...é como as cozinhas muito minimais que se esquecem do espaço para o balde e esfregona...isso há de aparecer e estragar o bonito desenho minimal...

O mesmo acontece para outras situações...

O "arriscas-te" surge num conceito de imprevisibilidade...nunca sabes o que pode acontecer quando existe a "humanização" dessas divisões e espaços demasiado minimais...

No caso desta foto:

Imagem colocada

Há de surgir um dia uma toalha vermelha, roxa ou verde, um copo com escovas de dentes, e uns quantos acessórios...não serão sempre brancos concerteza... :s

Daí eu dizer que a "frieza" que referiste desaparece rapidamente assim que a casa é habitada...

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PANICdarko, duvido muito sinceramente que a habitabilidade de uma casa ou de qualquer espaço tenha uma relação demasiado directa com a cor do mesmo, muito menos quando essa cor é o branco que, mais do que qualquer outra, aguenta toda a decoração (quadros, esculturas, jarrões chineses, pastas dos dentes ou esfregonas :s) que lá queiras pôr. Se observares por exemplo as obras mais coloridamente brilhantes do Barragan (que já agora é um arquitecto que eu adoro), vais verificar que se calhar estão muito mais condicionadas em termos de apropriação do espaço (isto claro, do ponto de vista da cor). Em relação à casa, acho que é um dos projectos mais interessantes dos Mateus, um projecto com uma resolução em planta e em termos de ocupação do território de uma simplicidade superior e que, para além disso, até responde perfeitamente em termos funcionais, o que nem sempre acontece. Por nota final, é de referir que todas essas questões de habitabilidade e uso deverão ter sido naturalmente discutidas entre arquitecto e cliente e, nesse contexto, com acordo mútuo. Naturalmente isto não desculpa nunca eventuais falhas de projecto, mas neste caso não as encontro relevantes.

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Nos dias de hoje não digo, mas na população portuguesa sim!

Lembra-me uma conversa que tive com um engenheiro sobre isso há uns dias, e palavras dele:

Portugal lembra-me os africanos quando eu morava na África do Sul, compravam um blazer, uns oculos escuros, um jornal e sentavam-se num banco com o jornal aberto de pernas para o ar...


E 'nós' (Portugal) lá vamos parar...
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Há muita Arquitectura para a Fotografia como foi falado noutros tópicos, até se poderá chamar de Arquitectura MTV! :s Agora o que eu me referia era á população portuguesa que estando na UE dá mais valor a este tipo de 'Americanices' (as coisas de fachada, resolvidas com uma peneira e flores) que propriamente agarrar o 'touro pelos cornos' e resolver os problemas! E para demonstrar isto basta olhar para as pessoas que temos nos cargos politicos do pais. Pessoas como Valentim Loureiro, Fatima Felgueiras e afins que toda a gente sabe das suas 'manobras' e continuam a ganhar eleiçoes! Só isto demonstra bem da nossa mediocridade e claro vai.se repercutir noutros lados....

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Um projecto deve ser sempre pensado para as pessoas a quem se destina... Realmente faz-me confusão ver em livros/revistas artigos em que as casas/edifícios são fotografados vazios, no dia em que a obra é dada como acabada, precisamente antes dos utentes começarem a apropriar-se do espaço... Para mim a essência da arquitectura não é isso, bem pelo contrário, porque por mais que tentemos imaginar o espaço "limpo" de excessos, os moradores vão sempre apropriar-se dele à sua maneira, e vão aparecer quadros, esculturas e todo o tipo de bugigangas que se possa imaginar... A essência espacial é isso, a apropriação que cada um faz do espaço que lhe é reservado... Por isso para mim não faz grande sentido pensar numa habitação sem despensa, zona de tratamentos de roupa, ou até mesmo um local para o estendal... Mas já agora, quando é que se instituiu que uma cozinha sem o rolo de papel, ou um wc com toalhas, shampô e afins, uma sala com quadros, uma casa sem pessoas, entre outros, dá más fotografias? Há alguns fotografos que (e bem) colocam uma pessoa para dar a escala à fotografia, mas as reportagens actuais na arquitectura soam-me sempre a falso, a que falta ali alguma coisa, mesmo que as imagens assim sejam mais "puras"...

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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  • 3 weeks later...

Fico sempre intrigado quando na apresentação de um projecto faltam os desenhos rigorosos, porque sinto que falta qualquer coisa, qualquer coisa que me impede de perceber o espaço na sua globalidade... As fotos do sr. Guerra são, como sempre, muito boas, mas na reportagem do arkinetia aparece uma maquete de paredes... onde pouco/nada se vê/percebe... Alguém arranja alguma coisa deste projecto?

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Apesar de gostar muito desta casa por vezes, dá-me vontade de fazer uma pequena maldade, que era de repente por os arquitectos a viver diariamente dentro dos projectos que fazem, penso que seria um castigo forte de mais... muito não aguentariam muito tempo....
Concordo quando dizem que todos os projectos a quando terminados, nunca estão terminados falta uma boa dose de vida de um tempero, de uma apropriação, a da condição humana. E quando os projectos são realmente bons aguentam qualquer apropriação.

Não tenho certezas que este o consiga mas tenho a convicção que venha a conseguir.
O tempo tratará de dar respostas as minhas perguntas...

Abraços tectónicos
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Um projecto é assinado por um arquitecto. Isso não quer dizer que os clientes que fazem a encomenda não tenham qualquer poder de opinião...hoje em dia há muito esse hábito de deixar o arquitecto decidir tudo...cada projecto é único, pensado para um determinado local e para um determinado cliente...alem de todos estes factores 1 projecto tembém é unico pois é criado num determinado contexto histórico, social e cultural... Este projecto é unico!Gosto muito dos projectos destes arquitectos.Axo tembém que tem certos problemas em termos de ser ou nao funcional, mas aí é que entra a opinião do cliente. 1 projecto é um trabalho conjunto de um arquitecto e de um cliente. CAbe ao cliente uma participação critica do projecto. esta e mais ao menos a minha opinião, está um bocado confuso o texto mas a ideia está melhor ou pior la..:)

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é engraçada esta casa, a casa do aires mateus no bom sucesso e ...todas a outras?? atenção que eu gosto, e posso sublinhar, da arquitectura do aires mateus, mas quando se compra uma revista só com projectos dele(s) percebe-se que os cheios e vazios...chega a um ponto que satura... e atenção tenho a maior estima pelo atelier....mas é muito do mesmo...

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  • 9 months later...

Não percebo porque a pessoas (arquitectos) que nunca conseguem vêr a beleza dos espaços sèm nada........è sempre a mesma historia ( tudo branco, vazio, não a rodapé ecc. ecc. ), acho que a arquitectura não è feita para eles.........como dizia o grande Mies "less is more"

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