A Cidade é o lugar natural de modificações e de inovação, mas guarda em si as mais ricas memórias, as heranças do passado, que asseguram a identificação das pessoas com o espaço cultural onde vivem. A cidade acontece a partir da conjugação de diferentes intenções conceptuais, do tempo, da história, da forma urbana, da arquitectura e dos homens que nela habitam. Ao longo da sua existência, a Cidade vai-se alterando, no seu espaço físico e relacional, sem contudo perder inúmeros sinais de continuidade com o passado.
A Cidade está, de facto, em constante crescimento. Ao mesmo tempo que se concluem as estruturas urbanas planeadas no passado, apontam-se novos rumos para aquilo que deve ser a Cidade, no futuro. É um processo "apoiado", onde dificilmente se traçam fronteiras e onde a realidade urbana de cada local, ou seja as preexistências, deve ser a primeira causa a ter em consideração. Por outro lado, o espaço público deve ser sempre entendido como um elemento fundamental de vivência, vocacionado para a vida urbana, e não como um espaço residual. Nesse espaço público, o Homem, com o seu modo de viver, deve encontrar ambientes estruturados à sua escala e de acordo com a sua cultura, que tem de ser preservada. Mas também outras realidades já testadas e existentes em outros locais, ou mesmo modelos teóricos de reconhecido valor, são bases importantes de apoio na abordagem das novas estruturas urbanas *falamos, por exemplo, de algumas das regras compositivas tradicionais e orientadoras da concepção arquitectónica: A Ordem, a Proporção, a Hierarquia e a Geometrização. Todas estas múltiplas entradas fazem parte de um processo, por vezes longo, onde a aferição de todas as componentes se mostra fundamental para que a legitimidade das soluções vá de encontro às características e necessidades dos espaços, ou territórios, em que pretendemos intervir. Vamos reflectir, procurando meditar sobre um território da cidade do Porto (Antas – Corujeira – Contumil) que, nos últimos anos, e a pretexto Euro 2004, sofreu intervenções na sua envolvente. Apesar disso, ou talvez por isso, este território continua descontínuo, com espaços desocupados e com alguns elementos construídos que o tem tomou obsoletos. A cidade evolui, cresce, por vezes encontra vazios como fronteira. Resolver no conteúdo urbano esses lugares, que se tomaram muitas vezes híbridos, é um exercício fundamental. Propósitos, onde princípios integração urbana e arquitectónica devem ser resolvidos tendo em consideração estratégias que, claramente melhorem a imagem da cidade e resolvam questões funcionais que a vida contemporânea toma pertinentes.
Tendo em consideração tais objectivos, pretendo lançar a discussão acerca do que o Arquitecto pode fazer para melhorar uma série de acções mal pensadas que têm vindo a acontecer na Cidade do Porto, nomeadamente neste local, em que esta descontinuidade é acentuada pela inclusão da VCI, tendo em conta que a Corujeira que dantes era periferia, e que devido a expansão da cidade passa a ser centro. Também nos podemos interrogar se o mercado abastecedor faz ou não sentido naquele local?
Questiono também, quando se projecta uma cidade que valores temos que ter em conta para melhorar a sua vivência?