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Cascais | Casa das Histórias e Desenhos Paula Rego | Eduardo Souto Moura


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kwhyl .... que "tristesse"
falas de "e o dinheiro abundo", que ridículo....fazer obras com orçamentos que derrapam o que for necessário como faz e fez Souto de Moura em obras "públicas" ( ex:estádio de Braga) pagas por todo nós (espero) parece-me um total desrespeito, alem disso a capacidade de executar um projecto para um cliente com uma determinada capacidade financeira por mais que nao seja politicamente correcto em discussões de arquitectura não deixe de estar intrinsecamente ligado á prática da profissão.

quote]

Desculpa-me que te diga mas nunca ouvi dizer que algum arquitecto desenhou uma obra para que essa dê para fazer um derrape orçamental!!!Enfim...

Se por acaso soubesses como eu sei por onde começam e acabam os derrapes que são feitos por empresas que dominam o mercado da construção então até choravas... existem nessas empresas alguns engenheiros e directores de obra a desviar FORTUNAS e sem fazer a ponta de um corno!!! - Só com malabarismos do género: entregam trabalhos a empresas de sub-empreitada e sobre o valor que esses tomam o trabalho ainda lhe cobram por baixo da mesa um Xis por cento em notas batidas... e mais não digo...

É por estas e por outras que o nosso país está como está!!!

Se não vejam o que aconteceu à Somague que foi vendida aos espanhois e agora é que eles deram por ela com quem se meteram..eheheheheheh

Somos um país de mamões e chulos (.)ponto final!!!

LA RÉ-PÚBLICA DE LAS BANANAS :foto:

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Histórias de Paula Rego

Cascais recebe o novo museu dedicado à obra de Paula Rego. Dos contos cruéis às histórias de encantar, aquele será o espaço para o universo narrativo da artista portuguesa radicada em Londres.

Valdemar Cruz (texto), António Pedro Ferreira (fotos)

10:38 Domingo, 23 de Ago de 2009

Divertida, Paula Rego recria a posição das bailarinas das suas obras. Não consegue disfarçar o nervosismo com a inauguração da sua nova casa

Todos os anos pela Primavera, todos os anos pelo Outono, surgirão novas histórias para serem contadas em Cascais. Paula Rego vai ter uma casa onde se passearão as figuras de pesadelo, as imagens de sonho saídas do seu imaginário. Todos poderão brincar lá dentro. Seja apenas com o olhar, seja com o desejo de partir à procura dos contos escondidos naquele universo feito de espanto. É a Casa das Histórias, um projecto de Eduardo Souto de Moura, com inauguração marcada para 18 de Setembro, acondicionada num edifício para já escarlate mas que o tempo se encarregará de empalidecer até lhe dar um tom rosa-velho.

Mais de um mês antes da abertura, quando começavam a ser colocadas as primeiras obras nas paredes, a pintora vivia ainda na angústia de perceber a dimensão da transformação em curso até ser obtido o resultado final. Olha para os quadros pousados no chão, encostados às paredes, e confessa-se perturbada por ver "tudo assim", num tamanho estado de desarrumação. O confronto com as célebres "Avestruzes Dançarinas" diminui-lhe o rosto, por tanto lhe terem crescido os olhos com o susto.

Há um choque plasmado no modo como chama Dalila Rodrigues, a directora artística do museu, para lhe manifestar desagrado por estar "tudo tão escuro". A inquietude do olhar de Dalila logo se esfuma num largo sorriso. Aquela insuficiência, explica, ficará resolvida a partir do final do mês, mal seja instalado o sistema de iluminação concebido para as diferentes salas. Paula Rego fica mais tranquila e já observa de outra maneira aquelas mulheres "a quererem beijinhos sem os poderem ter. Já são velhas de mais. Já ninguém lhes queria dar beijinhos".

As "Avestruzes" estão colocadas na sala de exposições temporárias, onde serão organizadas duas mostras por ano. Na abertura da Casa das Histórias e durante os próximos seis meses, o exclusivo é de Paula Rego. Na Primavera do próximo ano, é inaugurada uma exposição dedicada a pinturas de Victor Willing, falecido marido de Paula.

As obras escolhidas para a inauguração foram concebidas entre 1987 e 2008. Pertencem à Galeria Marlborough e são, na sua maioria, pinturas de grande formato. Dalila Rodrigues explica que "o objectivo desta exposição é reforçar as possibilidades discursivas da colecção. São pinturas que reflectem mudanças muito expressivas e significativas em termos criativos e técnicos". Estarão lá criações tão simbólicas como "A Mulher-Cão", que ilustra a capa do catálogo da exposição, ou "A Filha do Polícia", cronologicamente o primeiro quadro. Na opinião de Dalila, trata-se de "uma obra-prima absoluta". "A artista também a considera muito, e acordámos que seria o primeiro encontro para quem entra na sala."

"A Mulher-Cão" e a tia Narcisa

O projecto de Eduardo Souto de Moura começa agora a ganhar vida

No percurso para o espaço das mostras temporárias, Paula Rego fala da sua paixão "pelo Walt Disney antigo". Nomeia a "Branca de Neve e os Sete Anões", ou o "Pinóquio", uma "obra-prima de medo, de terror". E acrescenta: "Lembro-me de ver estas coisas no Tivoli com a minha avó. Eu tinha um medo horrível." Já na sala, vê-se frente a duas das suas encenações de Branca de Neve e não resiste a chamar a atenção para a mulher caída em "Branca de Neve Engole a Maçã Envenenada", de 1995. A primeira coisa que as mulheres fazem quando caem, diz, "é tapar o rabo. Ela está a segurar o vestido por ter vergonha".

Ao lado repousa a primeira mulher-cão pintada por Paula, datada de 1994. Recorda a conversa tida com Lila, a sua modelo. "Comecei a tentar fazer a minha própria perna, copiando de um espelho. Vi que não conseguia fazer isto a copiar-me porque não tinha informação suficiente e então disse à Lila para se pôr de cócoras. Aquela expressão naquela cara morde. Ela está contra a parede, mas morde. Ao mesmo tempo, há um ar de súplica."

Numa outra parede vêem-se estudos para "A Mulher-Cão", e isso será uma constante ao longo de todo o percurso expositivo. Junto ao quadro "A Filha do Polícia", por exemplo, há um estudo em que a rapariga segura a bota "com mais carinho", como refere Paula, e não com a firmeza contida no quadro final. A pintora já falou do erotismo patente na cena, mas agora prefere não seguir esse caminho e fala antes de um pai que abusa da filha. "Ela tem uma certa raiva, mas ao mesmo tempo é obediente. Ele é pai, pode."

"A Prova" é outro dos quadros em destaque. Paula aproxima-se e logo lhe narra a história. Fala da "tia Narcisa, que fazia fatos em Lisboa para as senhoras da sociedade. Está a fazer a bainha daquele vestido, porque a mãe vai vestir a filha para a mostrar à sociedade". Logo passa para o processo de construção do quadro, para dizer das dificuldades de desenhar o vestido. "Antigamente copiava de desenhos, não fazia directamente", como agora, que se inspira em modelos especialmente concebidos para darem cor ao seu imaginário.

O polvo gigante que fugiu

Paula Rego com o arquitecto Eduardo Souto de Moura

Com a matreirice de quem espreita pelo buraco da fechadura, a pintora circula pela sala e deita olhares dispersos a quadros à espera de lugar fixo. Ao passar pelo tríptico "Pillow Man", recupera histórias das idas do pai à pesca no cabo da Roca. "Uma vez a minha mãe também foi e quando ele pôs a cana viu sair do mar um polvo gigante. A minha mãe só lhe dizia para deixar cair. O meu pai largou tudo, e o polvo lá foi, até desaparecer no oceano." E a pintora explica outro momento do tríptico, o "Pillow Man", cujo modelo estará na exposição: "Está a ler à filha o 'Inferno', de Dante, com ilustrações de Gustave Doré, que era o que o meu pai fazia."

A agitação daquele dia inicial confunde-a. Revela-se incapaz de participar na montagem de uma exposição. "É o mais difícil que existe. É preciso conceber o espaço entre as coisas, cuidar dos tamanhos, ter atenção à luz." Ainda assim, segue tudo com curiosidade, ansiosa por ver o resultado final, até porque, acrescenta, "há muitas coisas que estiveram anos e anos enroladas" no seu estúdio e só agora vão ser mostradas.

Na companhia da filha, Carolina Willing, Paula tem pressa de resolver um outro problema. Com o arquitecto Souto Moura, a directora do museu e a vereadora da Cultura da Câmara de Cascais, é organizada uma espécie de cimeira da escada. Por exigências legais e de segurança, há uma escada de que ninguém gosta a cair sobre o palco da sala-estúdio. Paula acha insuportável a ideia de ver ali aqueles degraus de um modo tão impositivo. Já trocaram cartas, ideias, sugestões. Numa rara oportunidade em que conseguem estar todos juntos, chega por fim a solução.

Souto Moura fala-nos de uns armários móveis japoneses em forma de escada. "Esses móveis são colocados em casas de dois pisos, e as pessoas sobem ao piso de cima através desses armários. Se fizer um armário com essa madeira, consigo as escadas e acaba-se o drama."

Embora a obra esteja terminada, o arquitecto é ainda solicitado para pequenas intervenções, soluções pontuais capazes de dar mais eficiência a um edifício que sobressai agora na paisagem urbana de Cascais, devido às duas enormes pirâmides que lhe preenchem um dos lados. Souto Moura explica-as com a necessidade de conferir visibilidade ao museu. Para se ver, diz, "precisava de um elemento mais alto". "Se fizesse o museu sem aquele elemento vertical, ninguém perceberia que havia ali o edifício", acrescenta.

Estudada a arquitectura de Cascais e de Sintra, descobre casas do arquitecto Raul Lino (1879-1974) que pensa serem inspiradas no Palácio de Sintra ou na cozinha do Mosteiro de Alcobaça. "Tem esta cor vermelha que evolui para um rosa-velho." É uma forma, prossegue o arquitecto, de "criar o contraste, o positivo e o negativo, proporcionado pelo verde da vegetação e o vermelho do edifício".

A arquitectura avança para cima do jardim, embora tenha havido a preocupação de só fazer construção onde não havia árvores. Ainda marcado pelas polémicas ecologistas à volta da construção de algumas estações do metro do Porto, Souto Moura terá jurado a si mesmo que "não deitava nenhuma árvore abaixo". Uma impossibilidade, de resto, num terreno como o escolhido para o museu, onde pontificava um denso bosque com dois campos de ténis no meio.

No interior, surgem desde logo a loja e a cafetaria, nos espaços correspondentes às duas pirâmides. A iluminação jorra do vértice das pirâmides, e tudo aquilo é uma imensidão de luz. Já nas salas de exposições, outros foram os cuidados com a luminosidade. Para lá de haver luz natural em quase todos os espaços, haverá sempre recurso a iluminação artificial, mas "não directa", sublinha o arquitecto.

Do que se vai ver e como se vai ver trata Dalila Rodrigues. A professora universitária e ex-directora do Museu Nacional de Arte Antiga e do Museu Grão Vasco foi, tal como Souto Moura, uma escolha pessoal de Paula Rego. Fascinada com a ideia de pôr de pé, de raiz, este projecto, Dalila não se cansa de elogiar o comportamento exemplar da Câmara de Cascais no processo. "Sobretudo, por não termos tido de nos debater com todo aquele tipo de ingerências muito habituais em situações similares", explica. António Capucho assegurou-lhe total liberdade para constituir a sua própria equipa e não quis interferir num projecto que tem em Paula Rego, Souto Moura e Dalila Rodrigues os seus principais intérpretes.

A colecção permanente da Casa das Histórias vai reflectir o resultado de uma doação e de um empréstimo. Paula Rego doou ao município de Cascais a totalidade da sua obra gravada e algumas centenas de desenhos. Emprestou por um período de dez anos, prorrogáveis por idênticos períodos de tempo, obras suas de pintura e desenho e ainda de pintura do marido.

Com uma área expositiva total de 750 metros quadrados, a Casa das Histórias tem na primeira sala da mostra permanente obras tão emblemáticas como o "Centauro" ou "Quando Tínhamos Uma Casa no Campo". São, como explica a directora, "obras que de algum modo reflectem uma linguagem não figurativa e uma relação de Paula Rego com temas que não escondem uma crítica social e política ao Estado Novo". A segunda sala, a maior do percurso, alberga obras maioritariamente de pintura realizadas ao longo dos anos 80. Numa zona de rebatimento do pé direito vão estar desenhos da colecção.

"O Anjo", gravuras e desenhos

As obras escolhidas para a inauguração, que vão tomando os seus lugares no novo espaço

Contente por o edifício oferecer "francas possibilidades de trabalho", Dalila refere ter sido "pacífica a organização do percurso da exposição, embora naturalmente tenham de ocorrer acertos durante o processo de montagem".

A terceira sala tem um carácter mais intimista. Neste espaço vão estar pinturas emblemáticas, como "O Anjo", da série O Crime do Padre Amaro. A primeira série de gravuras realizadas no final dos anos 80, da série Meninas e Cães, também lá estará. Trata-se, na opinião de Dalila, de uma série "muito importante, porque é a partir daí que Paula Rego conquista uma linguagem realista, que nunca mais a abandonou". As gravuras, meio fundamental de expressão da pintora a partir dos finais dos anos 80, aparecem na parte final do percurso, mas é aberta ali uma excepção para facilitar a compreensão do percurso criativo da artista.

A sequência de salas mais pequenas vai incluir desenhos preparatórios para o Jardim de Crivelli, da National Gallery, desenhos preparatórios para o ciclo da Vida da Virgem da Capela do Palácio de Belém e três trabalhos a pastel da mesma série. Para um segundo momento ficará a série do "Peter Pan", bem como "Jane Eyre". A obra gravada é constituída por 257 gravuras. Como os três espaços disponíveis são relativamente exíguos, está assegurada a rotatividade das obras, o que será, de resto, uma componente essencial de toda a área da exposição permanente.

Com um auditório de 200 lugares, o museu incluirá ainda na sua programação ciclos de conferências e a apresentação de documentários. No dia seguinte à inauguração, a 19 de Setembro, será exibido o mais recente trabalho do realizador Jake Auerbach, sobre Paula Rego, estreado este ano na National Gallery. O próprio Auerbach, que já assinou documentários sobre Francis Bacon ou Lucien Freud, deslocar-se-á a Cascais para fazer a apresentação do filme. Sem excluir outras áreas de expressão artística, como o teatro, o museu procurará criar formas de se abrir aos contadores de histórias, uma paixão de Paula Rego.

De ténis, roupas exuberantes de cor, a artista passeia-se pelo museu como a criança que experimenta ainda os possíveis segredos da sua casa de bonecas. Há um brilho intenso no olhar húmido. A nudez das salas é apenas um estádio intermédio de suspensão até serem ocupadas por aquelas figuras tão estranhas e tão próximas de nós, marcadas pela sede de amor, pelo excesso de ódio, pela frustração contida, pelo desejo amordaçado, pelo desejo exposto. Fantasmas irreais da nossa própria realidade surgem como naturais habitantes da Casa das Histórias.


Portugal vive de chicote e caridade


"Isto não é uma exposição. É um Carnaval. É uma festa!"
Envergonhada com tanta exposição da obra feita, a pintora vê a inauguração da sua Casa das Histórias como um Carnaval cheio de festa.

Está entusiasmada com a inauguração?
Entusiasmada não é a palavra certa. Há uma mistura de vergonha, de espanto, sobretudo porque é um museu muito bonito, muito bem desenhado.
Vergonha porquê?
Porque está tudo à mostra. Tenho feito muitas exposições, mas não mostro tudo de uma vez. Também já fiz várias retrospectivas, e não é a mesma coisa, porque isto é uma casa para bonecos. É diferente. Por enquanto, ainda não me sinto à vontade. No fundo, nunca estamos à vontade. Entro no meu estúdio e não estou à vontade.
Apesar de ser um espaço que domina?
É a minha sala de brinquedos. Vou todos os dias para lá, excepto ao domingo. Não começo a trabalhar antes das dez horas e depois fico até às sete da tarde. Também depende dos meus modelos. Brincar é como quando as crianças estão juntas a cavar o jardim. Não estão a trabalhar. Estão a inventar bonecos. Quando falo de brincar, refiro-me a isso. Inventar bonecos. Inventar histórias para fazer o que se chama brincar.
Continua fascinada pelas histórias?
As histórias são o mais importante. Todas as histórias são inventadas. Por isso se deu o nome de Casa das Histórias, porque são as nossas histórias tradicionais portuguesas, muito antigas. O Leite de Vasconcelos fez pesquisa e tem muitas versões da mesma história. Tem coisas extraordinárias, que não se encontram noutras culturas. Já estudei histórias tradicionais de todo o mundo. Graças à Fundação Gulbenkian, estive seis meses na British Library a consultar tudo o que havia. Quando se chega às nossas histórias, percebe-se que não são como as outras. O 'Capuchinho Vermelho' também existe noutros países, mas é diferente. É mais calmo.
O que é que distingue as nossas histórias?
São extremamente violentas, física e psicologicamente. São más e belas. O grotesco é belo, que é a coisa mais maravilhosa que existe. Somos superbons nisso. Há alguns contos que são terríveis, como a mulher a cortar o peito para dar de comer ao marido. Não conheço um outro país que tenha uma história assim. Espanta-me como é que saem daqui estas brutalidades tão belas. Num país de brandos costumes, fazem cada clister... As pessoas são cruéis, mas às vezes também dão beijinhos. Portugal vive muito de chicote e caridade. Isso fascina-me, admira-me. Espanto-me.
Por isso era tão importante para si associar o nome deste museu às histórias?
Sim, porque no meu caso não posso fazer um quadro sem ter uma história, sem ter um enredo. Não sou uma pintora abstracta, e mesmo muitos pintores abstractos têm histórias lá dentro. Há muita narrativa na minha pintura. Para mim, é muito importante aquela questão que a criança coloca à avó: "E depois? E depois?" É a curiosidade e o encanto. É daí que vêm os bonecos, que depois ilustro. Havia um tempo em que chamar ilustrador era o maior insulto que se podia fazer a um pintor. Admiro profundamente os ilustradores. O Gustave Doré, o Bordalo Pinheiro, e outros ingleses. Admiro o trabalho deles, sobretudo os do século XIX.
Aceitaria que se dissesse que também é uma ilustradora?
Então, não sou? Pois sou. Sou uma ilustradora de histórias.
Está satisfeita com o edifício concebido por Souto Moura?
Gosto muito do edifício. Mas a ideia disto foi do presidente da Câmara de Cascais, António Capucho. Depois, quando se colocou a questão do arquitecto, pensei logo no Souto Moura. Já tinha visto umas coisas lindíssimas que ele fez em Londres. Quando ele foi falar comigo, não lhe pedi nada. Só lhe disse que precisava desta casa. Ele acompanhou-me na visita a uma exposição na Tate Britain e, se calhar, percebeu o que era tudo aquilo, toda aquela mistura de imaginação, de histórias.
O que imagina para esta casa?
Primeiro, isto parece pedantismo, mas o meu desejo é que continue a estimular a imaginação de todos. Depois, gostava, se possível, de manter a nossa tradição oral. A nossa tradição oral é Portugal. Vai-se perdendo, mas ainda aparece nas telenovelas, por exemplo.
Vê muita televisão?
Três ou quatro coisas. Vejo o que gosto. Prefiro ler. Quando se entra num livro, é maravilhoso. Para isso, é preciso tempo. A gente chega à noite cansada e cai a dormir. Passo o dia no ateliê. Vou sempre no bus 46. Gosto muito, porque neste bus há muitas nacionalidades diferentes. Tudo o que se possa imaginar está lá. Gosto disso.
Está satisfeita com as obras escolhidas para a exposição temporária?
São das melhores coisas que tenho feito. Acho eu, mas já não me lembro. Se calhar, já não gosto. A gente deixa de gostar das coisas. Há uma ou duas que são muito importantes, porque são milagrosas. É "O Anjo" e também "As Criadas". "O Anjo" pertence mesmo à Fundação. Ofereci à Câmara de Cascais um exemplar de todas as minhas gravuras, mesmo as que não estão editadas. Há algumas de que só tenho um exemplar de cada, mas mesmo essas vieram para Cascais. Ofereci também uns desenhos antigos, e depois há os quadros, que são da minha família. Também estarão cá alguns modelos, como a árvore das pilas caídas, as cabeças dos coelhos ou o "Pillow Man".
Pintar sempre cansa-a?
Absolutamente o contrário. O que mais gosto de fazer não é pintar. Gosto mais de desenhar. Tenho um modelo, a Lila. Quando chega a altura de começar a trabalhar, há um prazer enorme em fazer coisas com o lápis ou com o pastel. Adoro riscar o papel. Isso não é um prazer como estar a comer bolos de nata. É outra coisa. Não é fácil desenhar, porque resulta de uma constante observação. Não há nada que não seja observado. Não há nada que seja gratuito. Detesto expressionismo. Tudo é feito com a maior atenção. Acabo de fazer uma coisa e, se vejo que está parecida com o que está à minha frente, fico contente. Depois mudam-se umas coisas, anda-se à procura do segredo daquilo. Posso desenhar a sua cara, por exemplo, mas a sua cara tem muitos aspectos e muitas histórias. É isso profundamente que me interessa.
Pede especificamente as posições do modelo?
Especificamente, indico qual é a posição necessária para ilustrar a história. Se não está bem, digo-lhe para dar um jeito. A Lila dá um jeito qualquer e fica melhor. Há uma colaboração, porque trabalhamos juntas há muitos anos.
Que história está a contar neste momento?
Acabei de fazer um oratório para um orfanato inglês. Tem 2,85 metros de altura. Não tem nada de religioso. Abrem-se as portas e tem uma violação, uma criança a nascer à luz da lua. Do lado direito há alguém a atirar uma criança da janela abaixo, depois há uma criança a ser atirada ao poço e alguém a dançar com a morte. No meio daquilo estão figuras feitas por mim. Uma é parecida com a minha filha quando era mais pequena, outra é a prima Manela. Noutra está uma rapariga a dar a maminha ao menino, porque eles não tinham carinho nenhum. Ela tinha 12 anos e deu-lhe a maminha para o confortar.
A proximidade da inauguração deixa-a ansiosa?
Claro. Isto não é uma exposição. É um Carnaval. É uma festa! Uma exposição é muito interessante, mas não tem nada a ver com isto. A abertura desta casa é uma festa. Neste momento, estou um pouco nervosa. É natural. No dia da inauguração ainda será pior, por tudo o que é preciso fazer.

Texto publicado no Actual da edição do Expresso de 7 de Junho de 2008

in http://aeiou.expresso.pt/historias-de-paula-rego=f532124

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José Manuel dos Santos

Paula Rego

José Manuel dos Santos (www.expresso.pt)

8:00 Terça-feira, 6 de Out de 2009

Ela estava fatigada e feliz. A casa encheu-se de gente, e mais gente, e mais gente. Toda essa gente obedecia aos quadros. Subjugada, olhava-os como se olham as imagens nas igrejas antigas. Corria um silêncio murmurado de exclamações. Cá fora, no jardim, existia o movimento dos corpos e dos copos, que põem a vista num turbilhão de onde não sai mais. Havia a festa da festa: os braços dançavam em vez das pernas. Os gestos cruzavam-se e colidiam. A montanha-russa das vozes andava para cima e para baixo. As conversas caíam umas sobre as outras, acabavam antes do fim, começavam depois do princípio. Tudo se cruzava e se cortava. Todos estavam alegres por estarem ali e todos estavam ali para estarem alegres. Todos cumprimentavam todos com o sorriso de todos. Nestas alturas, a malícia segue a alegria. Dizem-se palavras que a mostram, fazem-se sinais que a escondem. A consciência da selecção torna quem foi seleccionado ainda mais selectivo. Este darwinismo mundano tem as suas leis, e uma delas diz que aqui não ganha o mais inteligente, o mais forte, ou o mais sábio. Ganha o mais ágil, o mais surpreendente, o que melhor se sabe adaptar.

Foi Proust quem empurrou os mundanos e a mundanidade, essa desocupação tão ocupada, para um vazio de que teve longamente a experiência, o gosto e, finalmente, o remorso. A sua obra é escrita contra esse vazio, mas, sem a memória dele, não seria o que é. Proust dizia que o artista é o escravo de uma rainha chamada solidão. Ela sabe isso.

O jardim estava cheio de gente que a ocultava. Mas, de repente, como num filme, surgia dela um grande plano. Batia-nos no rosto, contente e cansada. Estava com os amigos, ou com os amigos dos amigos - e isso lhe bastava! Todos a queriam ver, todos lhe queriam falar, todos a queriam ouvir, todos a queriam tocar. Estava vestida como para uma peça de teatro em que fizesse de Paula Rego. A sua aura, o valor da obra, a ênfase da ocasião davam àquele dia o prestígio da História. Quem lá estava não queria esquecer que lá esteve. E queria levar consigo a frase ouvida, a mão agarrada, a face beijada, o quadro olhado. Queria levar isso na memória disso. Paula Rego estava ali e estava fora dali. Sabe aproximar-se com distância. E sabe distanciar-se com proximidade. Sabe falar com silêncios que a defendem. Sabe rir com risos que a protegem. Sabe andar com passos que a recuam. Em todo aquele dia, naquela peça, fazia de Paula Rego - Branca de Neve na casa da floresta. E nós éramos os seus anões. Não sete, nem setenta, nem setecentos - mas sete mil!

Eu estava lá, e ela chamou-me. Então, escolheu as palavras certas para não dizer o que se costuma dizer ("Obrigado por ter vindo", por exemplo).

A Paula não diz lugares-comuns, mesmo quando os ouviu durante horas a fio. Ela é sempre ela, com o seu génio ágil e uma estratégia exacta para que não a culpem de o ter. Quando saí, voltei a olhá-la. Estava ainda mais cansada e mais feliz, como que suspensa. Penso que, em momentos assim, olha e vê animais: "Este é um gato; aquela, um cão; aquele, um porco; aquela ali, um coelho... não, um rato." No dia seguinte, falei-lhe pelo telefone: estava tão atordoada que ia fugir. Fugir para dentro de si, fugir para a pintura, fugir para Londres. É lá que é a sua casa, o seu castelo, a sua prisão - nesse ateliê que parece os bastidores de um teatro, cheio de bonecos sob a luz.

A Casa das Histórias, em Cascais, também lhe pertence, porque é verdadeira e imaginativa como ela. Vi aquela arquitectura que tem o rigor na imaginação e às vezes mesmo no desespero. As cores exteriores, o verde do jardim e o almagre das paredes encontram-se e festejam-se. A casa está cheia de génios bons e maus. Cheia de histórias. Isto é, de segredos, de suspeitas, de ameaças, de crueldades, de crimes, de castigos. E de memórias, de enigmas, de adivinhas, de narrativas, de moralidades. Tudo o que lá está mostra que os grandes artistas são capazes de alcançar o mundo. De o dominar. De o destruir. De o substituir.

A obra de Paula Rego, inesperada até quando é esperada, anda de um lado para o outro, e nós seguimo-la com um olhar atento, assustado, maravilhado. Olhamos o todo, e o pormenor, e o todo que já é outro depois de olhado o pormenor. Ali está o que não nos pertence: o gesto duro que põe e arranca a venda dos olhos. Em todos os tempos da vida, ela fez a sua obra com génio, obsessão, assombro. E desassombro. Eu adoro-a e estou feliz com a felicidade dela. Oxalá os portugueses a mereçam.

José Manuel dos Santos

colunista regular do "Actual"

Texto publicado na edição do Expresso de 3 de Outubro de 2009


in http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/538972

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Descrição

O Museu “Casa das Histórias Paula Rego” é um projecto da autoria do Arquitecto Eduardo Souto Moura, sendo o edifício constituído por dois pisos, um técnico situado em cave e um térreo onde se desenvolvem as actividades relacionadas com as áreas expositivas. As áreas de exposição, a biblioteca e o auditório formam diversos volumes que se elevam do piso térreo.

A estrutura destes volumes é constituída por elementos laminares (paredes, lajes e cascas), sendo as paredes em betão aparente, e as lajes de cobertura em estrutura mista (vigas metálicas e lajes colaborantes). Dos diversos volumes, realça-se o da livraria e o do bar, caracterizados pelas coberturas em forma pirâmide, de grandes dimensões e com os vértices “cortados”. Assim, a estrutura é um elemento chave desta obra, exigindo alguns cuidados especiais na fase de Projecto, nomeadamente na definição dos elementos a construir e na caracterização do betão - composição, cor, textura, trabalhabilidade, estereotomia da cofragem e localização das juntas de construção.

Do ponto de vista dos serviços de engenharia, as especificidades deste edifício obrigou a uma concepção das diversas especialidades com especial atenção na integração das redes e equipamentos no edifício, tendo-se adoptado sistemas pouco intrusivos, destacando-se o sistema de climatização com tectos arrefecidos e o sistema de detecção de incêndio por aspiração. Foram também aplicadas das mais recentes técnicas e sistemas de SEAI (serviço de extinção automática de incêndio), aplicadas na sala de reserva de colecção. Este método - agente extintor IG55 (Proinerte) - extingue o incêndio de forma limpa, não impedindo a visão e, consequentemente não dificulta a procura de caminhos de evacuação nem gerando situações de pânico.

A iluminação teve também um papel preponderante, tendo-se procurado conjugar a vertente cénica de contemplação das peças expostas com o conceito arquitectónico dos diversos espaços.

in
http://www.afaconsultores.pt/
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Primeiro aniversário

Na Casa de Paula Rego, a história recomeça do zero

18.09.2010 - 11:45 Por Alexandra Prado Coelho

No seu primeiro aniversário, a Casa das Histórias de Paula Rego nasce pela segunda vez. Depois do inesperado afastamento de Dalila Rodrigues, a nova directora, Helena de Freitas, partiu do zero. E sem a colecção da pintora, que, em 2011, viaja para o México e o Brasil. Como será feita a programação? Helena revela os seus projectos e diz que gosta de trabalhos difíceis.

A Casa de Paula Rego está aberta há um ano A Casa de Paula Rego está aberta há um ano (Foto: Nuno Ferreira Santos/arquivo)

É um desafio: como fazer uma exposição na Casa das Histórias, o museu dedicado a Paula Rego em Cascais, quando a fatia mais importante da colecção que a pintora aí depositou vai viajar, já em 2011, para duas grandes exposições, no México e na Pinacoteca de São Paulo?

“Gosto de trabalhos difíceis”, diz, com um sorriso, Helena de Freitas, a nova directora da Casa, no cargo há apenas cinco meses, e que se prepara para, hoje, celebrar o primeiro aniversário do museu criado pela Câmara Municipal de Cascais a partir da doação e empréstimos feitos pela artista, que passou a infância ali perto, no Estoril, mas que vive há mais de trinta anos em Inglaterra.

Neste momento, é o universo de Victor Willing, marido de Paula Rego, falecido em 1988, que enche as paredes da Casa – uma exposição com curadoria de Hellmut Wohl, que corresponde a um grande desejo de Paula Rego e que já estava programada.

Mas, a partir de Janeiro, Helena de Freitas – que veio do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian (comissariou a grande exposição da Fundação sobre Amadeo de Souza-Cardoso) para substituir Dalila Rodrigues, afastada da direcção da Casa das Histórias um mês depois de o museu ter inaugurado, por divergências com a artista e a administração da Fundação Paula Rego – tem esse novo, e enorme, desafio.

É um trabalho de imaginação – mas a directora já tem ideias concretas sobre o caminho a seguir. Tem uma colecção composta por 220 desenhos e 257 gravuras doadas, mais 52 pinturas e 206 desenhos emprestados por um período de dez anos renovável, e ainda 11 telas de Victor Willing. Além disso, tem uma equipa de 23 pessoas, um espaço cuja organização interna “terá que ser mais versátil porque a programação também não é rígida”, e um orçamento “que neste momento não é tão regular como tinha imaginado, mas essa é uma circunstância que todos os museus estão a viver”. É com isto que terá que “reformular o museu todo a partir de Fevereiro”, explica, sentada no seu gabinete no edifício concebido pelo arquitecto Eduardo Souto Moura para albergar o trabalho de Paula Rego – e todas as histórias que a partir dele possam nascer.

“O que viaja são 50 obras do nosso depósito. E, como temos um pé-direito muito grande, é difícil apresentarmos uma exposição apenas em torno da obra gráfica que aqui fica. As peças fi cariam perdidas no espaço.” Ou seja, são precisos quadros. A solução passa por uma parceria com o British Council. Helena de Freitas não quer ainda revelar muito, mas o que poderemos ver na Casa das Histórias serão obras da colecção do British Council – iniciada no final dos anos 1930 e que hoje tem mais de 8500 peças.

Mas não são quaisquer obras – serão as que Paula Rego escolher, serão aquilo que mais lhe interessa e atrai no trabalho dos outros artistas. A complementar esta exposição estarão também obras da pintora. “Estamos a fazer uma recolha das obras da Paula Rego que existem em colecções particulares em Portugal. Desde que aqui cheguei que achei que era importante fazer esse levantamento: onde está a obra da Paula Rego? Interessa-nos também mostrar obras menos conhecidas. Já tivemos surpresas muito boas.”

Sempre em diálogo

Tudo é feito sempre em diálogo com a artista. “Esta é a casa dela”, diz Helena. “Vamos articulando a programação com a Paula, sempre em diálogo, mas eu tenho autonomia de programação. Nunca senti nenhum autoritarismo da Paula. Existe uma grande cumplicidade e há objectivos comuns entre a minha programação e o que a Paula deseja que seja o museu dela. Isso é bom.”

Precisamente, a estratégia de programação terá sido um dos pontos de ruptura entre a artista e a anterior directora, Dalila Rodrigues. A saída de Dalila, que fora antes directora do Museu Grão-Vasco, em Viseu, e do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, foi recebida na altura com enorme surpresa. A inauguração do museu tinha acontecido um mês antes, a 18 de Setembro, com bastante sucesso, e, subitamente, a Fundação Paula Rego anuncia o afastamento da directora, apresentando vários motivos, entre os quais as “perspectivas divergentes [entre] a visão pessoal” de Dalila Rodrigues e “o modelo defendido pelo conselho de administração assegurando as orientações da pintora Paula Rego.”Um ano volvido, contactada pelo P2, Dalila Rodrigues prefere não falar sobre o processo da sua saída da Casa das Histórias e Helena de Freitas confessa que não lhe “apetece falar sobre o passado” – “houve coisas que correram bem no projecto da anterior equipa, a casa teve uma exposição extraordinária, com imenso sucesso; e houve coisas que correram menos bem, julgo que terão sido aspectos relacionados com a programação e o não entendimento entre a artista e a direcção”. Mas a nova directora é clara num ponto: com a sua chegada, “há um fechar de um ciclo” e um recomeço.

“Não conheço a programação anterior, ela não era pública, e por isso tenho que partir do que existe. Existia a exposição do Victor Willing programada, foi um privilégio poder inaugurar uma exposição tão boa e surpreendente, mas a partir daqui é preciso começar do zero: todas as estruturas de um museu, tudo isso está para ser feito.” No entanto, a visão de Helena de Freitas para a Casa já está noutra exposição, com curadoria de Ana Ruivo, que acaba de inaugurar em simultâneo com a de Victor Willing – Paula Rego, Anos 70, Contos Populares e Outras Histórias –, que parte da investigação realizada pela artista sobre contos tradicionais portugueses quando, na década de 70, foi bolseira em Londres.

“Achámos que era importante manter uma presença, mesmo que discreta, da Paula Rego. São obras de um período muito difícil para ela, e que ela nunca gostou muito de mostrar, mas penso que está em reconciliação com esse trabalho e que foi muito importante mostrá-lo agora. Foi muito generosa.”

Esse “período difícil” (ligado à doença de Willing, que, em 1963, sofre um ataque cardíaco e, em 1966, é diagnosticado com esclerose múltipla) estava ausente da exposição que inaugurou o museu há um ano. “Havia obras dos anos 60, passava pelos anos 70 sem obra nenhuma, depois eram os anos 80 e por aí fora. Havia um hiato, uma suspensão de trabalho que não é verdadeira porque a Paula trabalhou intensamente nos anos 70, um trabalho muito experimental, muito à procura dos caminhos a seguir – e nestes trabalhos percebe-se bem como é que lá chegou.”

Entre o bem e o mal

Os contos populares que Paula estudou são um ponto de partida perfeito para se contar histórias. “São histórias que podem ajudar a perceber melhor a nossa identidade, que são muito nossas, são cruéis mas também éticas e pedagógicas. O trabalho da Paula Rego tem muito essa componente ética. Há um fundo que tem a ver com a procura do bem e do mal.” E na festa do primeiro aniversário, hoje e amanhã, vai haver muitas histórias – desde a narração de contos populares, com Catarina Requeijo, a teatro com Capuchinho Vermelho e o Sr. Eng. Lobo, por Carlos Alves, ou com A Galinha da Vizinha, de Graça Ochôa, mas também dança com Aldara Bizarro e música com os Alfa Arroba.

Mas, apesar de Paula Rego gostar de dizer que “as histórias são mais importantes do que os quadros” (“os quadros também são muito importantes”, ri Helena de Freitas), nem só de histórias se faz a lógica de programação da Casa. Os quadros de Victor Willing são um bom exemplo disso – ao contrário dos de Paula, não contam histórias.

A programação futura passará por coisas muito diferentes, com algumas linhas estratégicas. Uma delas será “o aprofundamento das relações do mundo das artes entre Portugal e a Inglaterra”, através de “trabalhos de jovens artistas a estudar em Inglaterra, ou artistas contemporâneos que possamos trazer a Portugal”.Helena de Freitas está já a preparar uma exposição de Bruno Pacheco, artista plástico português a viver entre Inglaterra e Portugal, e outra do expressionista belga James Ensor (1860-1949). Para além de querer mostrar obras de Paula Rego nunca vistas em Portugal – como Oratório, um trabalho apresentado em Londres e que tem como referência os oratórios portugueses –, Helena pretende “trabalhar a pluralidade das fontes da artista”. Há muitos caminhos. “É um mundo que se quer em expansão.” Não é apenas um trabalho sobre Paula Rego – é um trabalho “a partir dos universos dela”. Até onde eles nos levarem.

in http://www.publico.pt/Cultura/na-casa-de-paula-rego-a-historia-recomeca-do-zero_1456510?p=3

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