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"Quando elaboro um projecto pretendo corrigir a natureza"


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"Quando elaboro um projecto pretendo corrigir a natureza"

É visto e apreciado em vários países e as melhores revistas internacionais de arquitectura falam da sua obra. O estádio do Braga, a Casa/Fundação Paula Rego, as estações do Metro no Porto e muitos outros trabalhos atestam o rigor, o talento e a capacidade criativa envolvidos em cada projecto que cria. Nascido no Porto, Eduardo Souto Moura é considerado um dos maiores arquitectos portugueses.



Aceitou o convite para realizar uma exposição da sua obra, na Galeria JN, no Porto, que inaugura hoje e que, a partir de amanhã, está disponível ao público. Mas, logo que aceitou, colocou-se-lhe imediatamente a questão da dificuldade em mostrar projectos de arquitectura, que considera autênticos códigos técnicos para materializar uma ideia. Por isso, resolveu repartir o espaço com o fotógrafo Luís Ferreira Alves, que o acompanha há mais de 30 anos e, cada um a seu modo (esquissos e fotografia), mostram ângulos distintos sobre a materialização de alguns projectos com a assinatura de Souto Moura. Em entrevista ao JN, revelou o processo habitual de nascimento e de vida dos seus projectos, do que mais gostou de executar, do que mais lhe interessa na sua obra e ainda confessou que quase todos os dias acorda com a ideia de abandonar a arquitectura para poder dedicar-se, por exemplo, à fotografia ou à pintura. Mas, apesar da tentação diária, vai resistindo...



JN|Em que consiste "Princípio e fim de um projecto", ideia a quatro mãos, as suas e as de Luís Ferreira Alves?

Eduardo Souto Moura| Quando me convidaram para realizar a exposição, saltou-me logo a ideia de como trazer a público um código técnico como a arquitectura. Havia duas soluções, ou maquetas ou fotografias. Ora, tendo em conta o espaço, entendi que seria melhor apresentar a obra com esquissos meus e imagens da autoria de um homem que fotografa os meus trabalhos há três décadas. Escolhi, por entre as centenas de projectos ao longo da carreira, alguns, nomeadamente o edifício do Burgo, e ainda desenhos de objectos e de candeeiros, entre outros. O Ferreira Alves escolheu os que muito bem entendeu e foi assim. Concretizou-se a exposição na vertente de dar duas visões sobre a obra: a do arquitecto e a do fotógrafo.

Esta mostra contribui para uma melhor perspectiva sobre o trabalho que tem desenvolvido?

Vamos tentar, mas acho que é importante que as pessoas saibam da existência de um percurso-base de desenhos para se chegar à imagem final, seja de um projecto de um edifício ou de um simples objecto. Daí chamar-se "Princípio e fim de um projecto".

Antes da concretização dos projectos, há toda uma série de esquissos?

Depende, há obras em que há uma intuição e acertamos no conceito e não são necessários tantos desenhos, mas também há outros que emperram e estamos até ao fim a confirmar e, aí sim, são precisos cadernos e cadernos de desenhos.

Como é que, normalmente, nasce um projecto seu?

Os primeiros passos têm como base a informação que o cliente dá e, a partir daí, começo a construir uma imagem mental. Quando o cliente sai, começo a materializar num esquisso, faço dois, três e tanto pode ser no escritório, em casa, num café, no papel do estirador, num guardanapo ou no maço de cigarros, não importa.

Como passa à fase seguinte?

Bem, vou fazendo vários esquissos e, já no ateliê, passo-os a um desenho mais geométrico e a seguir é elaborada uma maqueta. Mas, repare, tudo isto é feito com uma grande rapidez e velocidade.

Gosta de trabalhar a grande velocidade, está-lhe no sangue?

Está, pois, como tenho sempre tanta coisa para fazer, não descanso enquanto não fizer. É assim que trabalho. Mas, depois de ter a ideia já concebida, costumo demorar muito tempo, ponho sempre o projecto em forno lento e banho maria, à espera que entrem as várias solicitações de arquitectura.

E quais são as várias solicitações de arquitectura? Aliás, gostaria que definisse o que é, para si, um projecto de arquitectura.

São solicitações que entendo importantes. Em primeiro lugar, são as minhas, ou seja, só está concluído quando me sentir satisfeito com o projecto, quando achar que a construção do edifício ou do objecto vai transformar um sítio para melhor. Quando decido elaborar um projecto, pretendo corrigir a natureza, que não é perfeita. Acho que o interessante é acrescentar algo à natureza e proporcionar bem-estar e boa qualidade de vida ao cliente e ao utente. Para conseguir, tenho que criar um projecto que corresponda a três solicitações fundamentais: ser belo, estável e seguro.

Belo? Acha importante que a beleza seja uma componente principal num trabalho?

S
im, acho, pois é fundamental que um projecto seja elegante a nível estético. Quando digo belo, digo elegante, naturalmente.

Quando é que dá por si a pensar que o projecto está mesmo concluído?

Quando começo a ficar cada vez mais satisfeito com o trabalho e, aí, penso realmente que está na hora de rematar.

Costuma trabalhar sozinho ou em equipa?

T
enho uma equipa de 27 pessoas (arquitectos e estagiários). Acho que o diálogo é importante para o bom andamento de um projecto e são necessárias críticas e contrariedades da equipa. Um projecto de arquitectura é um projecto de equipa, de muitos colaboradores, de muitos arquitectos, engenheiros e agora, nos últimos tempos, também é necessário incluir um economista e um advogado.

Quais são os projectos que tem actualmente em execução?

Tantos, sei lá, mas lembro-me, por exemplo, de uma adega de vinhos na Mealhada, um prédio para divorciados, no Porto, a recuperação de um edifício no Príncipe Real, em Lisboa, e tenho vários em curso em Espanha, Bélgica e Dinamarca.

Como é, normalmente, o seu dia de trabalho?

Em princípio, só trabalho, só me sento ao estirador, ao fim-de-semana, isto é, só risco ao sábado à tarde e ao domingo. Não está ninguém no ateliê, o ambiente é calmo, sossegado.

E nos outros dias da semana?

Trabalho, mas ocupo o tempo a desempenhar um papel que também é muito importante para o arquitecto. Vai desde visitar obras a sucessivas reuniões aqui e ali com clientes ou futuros clientes, enfim, é a outra faceta de arquitecto, que é fundamental para a continuação da actividade.

Já alguma vez pensou em abandonar a arquitectura?

Todos os dias.

Todos os dias?

Sim, diariamente tenho aquele pensamento: e se eu não fosse e ficasse a desenhar o dia todo? E quando chego a Lisboa e tenho que ir para Nápoles e passa-me pela cabeça a ideia de não ir e ficar a tirar fotografias...

Já alguma vez não resistiu à tentação?

Já, claro e foi bom. Já tive essa tentação e já tive o prazer de não cumprir o dever e de ficar a fazer o que me apetecia naquele momento.

Se abandonasse a arquitectura, o que escolheria?

Olhe, gostaria de ter uma profissão em que o que acontece dependesse exclusivamente de mim, só de mim. Podia ser, por exemplo, na área da fotografia, da pintura ou da escultura.

Já fez incursões nessas áreas?

No desenho, sim. Aliás, o desenho é fundamental para a minha actividade, mas tenho-me ficado pelos esquissos de arquitectura. Tenho pensado muito na escultura, acho que gostava de conceber uma série de esculturas com cortes de edifícios e em materiais utilizados na construção, como a madeira, ferro, tijolo, plástico e vidro. É uma ideia de há já uns tempos, mas que não tenho conseguido realizar, nunca tenho tempo, mas que gostava, gostava...

"Qual o projecto cuja concepção e desenvolvimento foram da sua responsabilidade mais o encantou?

O que me encanta, o que me suscita um maior desafio é o chamado projecto completo, ou seja, aquele em que sou solicitado para conceber a obra, desde o puxador da porta até ao bosque que envolve o projecto.

E já teve alguns com essa responsabilidade?

Tive vários, mas destaco, sem dúvida, o estádio do Braga. Acho que o Monte Castro ficou muito melhor com o estádio do que ficaria sem ele. E confesso que gostei bastante de o ter concebido.

Sabe-se que está com vários projectos em mão. Algum deles é no Porto e é importante?

O que neste momento estou a realizar no Porto é um edifício, a que chamo "andar para divorciados", ou seja, pessoas que vivem sós e que não necessitam de muito espaço. Mas, na verdade, acho que o Porto está numa fase de recessão, ou seja, não se investe na cidade e, portanto, não há muito trabalho para desenvolver.

Mas vai tendo em outras cidades do país, ou a falta de trabalho é generalizada?

A falta, para já, só se vai verificando no Porto, porque noutras regiões vai havendo. Neste momento, estou a trabalhar razoavelmente em Lisboa, no Alentejo e no Algarve.

Como surgiu a hipótese de construir a casa/fundação Paula Rego, em Cascais?

F
oi a pintora que me escolheu. Neste projecto, tive também a responsabilidade de escolher o terreno e a liberdade total na concepção do edifício. É um projecto aliciante, que francamente me entusiasma.



www.jn.sapo.pt

margarida duarte

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  • 4 weeks later...

a natureza n precisa de correcções, digo eu! acho q foi infeliz esta frase que está em risco de se tornar icónica!

Acho que não percebeste a frase. O Arquitecto deve corrigir a natureza de modo a adaptá-la ao Homem. Se a natureza não precisasse de correcções andavamos todos a dormir ao ar livre;)
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exactamente o arquitecto adapta a natureza de modo a podermos usufruir de abrigo e conforto, mas falar em corrigir a natureza parece-me uma postura de sabe-tudo, pelo q conheço do arquitecto souto moura n m parece q essa seja o seu ponto de vista mas as palavras que ficaram n foram as mais felizes na minha opinião.

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  • 3 weeks later...

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