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Onde param os arquitectos portugueses? - Pedro Gadanho


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Onde param os arquitectos portugueses?
Pedro Gadanho

Agora que se repetem as eleições para a Direcção Nacional da Ordem dos Arquitectos, é porventura importante perguntar onde tem parado os arquitectos portugueses nos tempos mais recentes.

Quando há 10 minutos atrás se abateu o silêncio ensurdecedor sobre o facto do primeiro-ministro português assumir a autoria do que podem ser considerados crime estéticos e uma aberração cultural, pareceria lógico perguntar onde param os arquitectos portugueses.

Agora também urge perguntar onde eles param quando, numa espécie de projecção suicida das tendências vigentes entre a população portuguesa, é esperada uma participação de cerca de 15% nas eleições para a Ordem dos Arquitectos.

Falta de auto-estima da classe profissional? Falta de opções? Ou pura falta de interesse? Alguma coisa está certamente em falta.

Face a outras classes profissionais liberais que disputam árdua e publicamente aqueles que vão representar os seus destinos, os arquitectos portugueses espelham bem o estado corrente do país.

Não é de admirar que exista um absentismo absoluto. Com a explosão “democrática” dos cursos de arquitectura, os arquitectos deste país são hoje uma perfeita amostra demográfica do país que temos. E ainda bem.
Porém, o que é eventualmente mais grave é que, apesar da sua formação superior, os arquitectos podem, assim, estar a ecoar a cultura cívica – ou a crise social de que falava a Sedes – com que hoje contamos em Portugal.
Comecemos pela crise.

Não é de excluir a hipótese de que o absentismo eleitoral dos arquitectos se explica por razões bastante prosaicas.
A maior parte dos arquitectos, nomeadamente os mais jovens e desfavorecidos da classe não votam porque... não pagaram as quotas!

E porque é que não pagaram as quotas? Porque estão desempregados ou porque são tão mal remunerados que tem naturalmente que remediar outras necessidades mais básicas. Interessante, não é?

Isto sugere imediatamente que, se estão verdadeiramente interessados na participação eleitoral, os candidatos aos órgãos nacionais da Ordem dos Arquitectos deviam acordar um pacto de regime súbito: uma amnistia – ou, ecoando a extraordinária flexibilidade legislativa portuguesa, uma alteração estatutária temporária – para permitir que todos votassem nestas eleições.
Adiante. Subsistem ainda algumas outras possibilidades para justificar o absentismo geral dos arquitectos.

Também é verdade que muitos dos 16.000 arquitectos a que me refiro estão no estrangeiro. Face a uma tendência autofágica da classe arquitectónica portuguesa – que também lembra outra coisa qualquer – muitos dos arquitectos recentemente formados decidiram, pura e simplesmente, emigrar.

Isto é, o investimento e a permissividade do Estado na formação superior desta classe traduz-se, como já acontecia com cientistas e outras especializações de ponta, em exportação de cérebros ou de mão de obra competente, enquanto por aqui nos vamos lamuriando de desordenamento do território. Interessante, não é?

Esta é, aliás, uma resposta à questão que dá título a este artigo que combina perfeitamente com o equívoco ético e estético que recentemente envolveu o engenheiro civil José Sócrates.

De facto, para quê pagar o custo dos serviços, dos recursos humanos e da competência técnica nas quais o Estado investiu os impostos dos contribuintes, se ainda há por aí uns chico-espertos que dão conta do recado e da paisagem?
Os chico-espertos – que às vezes até são arquitectos pois, afinal, eles também “andem aí...” – saem mais barato, têm uns contactos na Câmara local que “facilitam a coisa” e até foram os primeiros a perceber que mais vale fazer o gosto ao dedo do cliente, que isto não está para modas.

Mas, perguntar-se-á então, a arquitectura não estava na moda?

Depois da celebração e da celebridade de Siza Vieira e de Eduardo Souto Moura, os arquitectos não deveriam andar por aí felizes da vida?

Não adquiriram prestígio social e profissional?

Não obtiveram reconhecimento no “estrangeiro”?

Não tiveram, nos últimos 15 anos, maior exposição mediática interna do que médicos, advogados e engenheiros?

Tendo eu realizado um doutoramento sobre a visibilidade da arquitectura em meios generalistas como o jornal OPúblico, posso assegurar que todas estas hipóteses são sustentadas e confirmadas por dados objectivos. À excepção, claro, da parte da felicidade.

Curiosamente, em Portugal, a celebridade, a projecção e o prestígio não fertilizaram o campo. Deve ser uma característica endógena. Ou o facto de, apesar das aparências, sermos um país estruturalmente pobre.
As circunstâncias mudam e as conjunturas também e, depois de uma prolongada ascensão demográfica e mediática, os arquitectos portugueses parecem, de novo, ter desaparecido para parte incerta.

Apesar das campanhas do “direito à arquitectura” – já agora, algum não arquitecto ouviu falar disto? – os portugueses ainda não parecem estar dispostos a pagar a mais-valia do serviço arquitectónico.
Isto também justifica a ausência dos arquitectos.

E donde vem o problema? Será que os portugueses não valorizam ou não podem valorizar a sua qualidade de vida ao nível de outros países europeus? Será que não podem, pura e simplesmente, pagar os serviços de um arquitecto preferindo assim entregar-se assim às competências dos chico-espertos? Será que têm de facto a sua própria cultura de gosto e preferem decidir por si? Ou será que a tabela de honorários dos arquitectos é desadequada à realidade do país? Ou serão as regras de mercado que estão a distorcer a oferta e a procura? Ou acontecerá, afinal, simplesmente, que os arquitectos deviam ser pagos por área a edificar e respectivo preço médio oficial de construção em vez de auferirem remunerações que flutuam com o preço final de obra – assim se acabando com muitos jogos de bastidores que prejudicam clientes e destinatários e assim se esvaziando também as distorções deontológicas que fazem com que seja um contrasenso económico para o arquitecto invistir tempo e recursos na redução de custos de obra do seu cliente?

Das mais gerais às mais prosaicas, estas, como muitas outras, são questões que justificam uma tomada de consciência e de posição dos arquitectos e dos seus legítimos representantes face à imagem que projectam de si próprios enquanto classe profissional.

Dado o contexto particular da nossa auto-proclamada “West Coast,” talvez os portugueses ainda não tenham percebido, de facto, qual o papel que a arquitectura pode desempenhar no seu dia-a-dia e na sua qualidade de vida colectiva.

Afinal, a maioria dos portugueses só sabem de longe da vã gloria dos centros culturais desenhados por arquitectos de “qualidade arquitectónica reconhecida” que, entretanto, tem as suas portas encerradas por faltas de verbas, programas e atractivos. E alguns mais iluminados só sabem que se tiverem dinheiro para investir em condomínios privados de luxo é bom que haja um “arquitecto de renome” envolvido.

Visto que assim já sabemos onde param os portugueses, onde param, entretanto, os arquitectos portugueses?

Onde param os candidatos a estas eleições da Ordem dos Arquitectos, esses que devíamos estar a ver e ouvir nos media de massa a exporem os seus programas, as suas opiniões públicas, as suas posições, as suas diferenças, as suas reflexões e proposições sobre o estado da prática da arquitectura em Portugal?

Onde param, neste preciso momento, as luminárias da arquitectura portuguesa, essas que prometeram mais intervenção crítica e social?

Onde param os críticos de arquitectura e os formadores de opinião, esses que, neste preciso momento, deviam estar a contrapor visões e perspectivas sobre o que precisa de mudar nos consensos excessivos em torno das vias únicas que actualmente caracterizam a arquitectura portuguesa?

E, para além dos emigrados, dos desenrascas e dos dignos representantes da geração rasca, onde param esses “ “jovens arquitectos” que constituem a maior parte dos arquitectos inscritos na Ordem e que agora se remetem, como é sua condição geracional mais vasta, a um silêncio comprometido com ostatus quo?
Por este andar, onde vão parar os arquitectos portugueses?

Texto da autoria de Pedro Gadanho, arquitecto
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Onde param os arquitectos portugueses?
Pedro Gadanho

Agora que se repetem as eleições para a Direcção Nacional da Ordem dos Arquitectos, é porventura importante perguntar onde tem parado os arquitectos portugueses nos tempos mais recentes.

Quando há 10 minutos atrás se abateu o silêncio ensurdecedor sobre o facto do primeiro-ministro português assumir a autoria do que podem ser considerados crime estéticos e uma aberração cultural, pareceria lógico perguntar onde param os arquitectos portugueses.

Agora também urge perguntar onde eles param quando, numa espécie de projecção suicida das tendências vigentes entre a população portuguesa, é esperada uma participação de cerca de 15% nas eleições para a Ordem dos Arquitectos.

Falta de auto-estima da classe profissional? Falta de opções? Ou pura falta de interesse? Alguma coisa está certamente em falta.

Face a outras classes profissionais liberais que disputam árdua e publicamente aqueles que vão representar os seus destinos, os arquitectos portugueses espelham bem o estado corrente do país.

Não é de admirar que exista um absentismo absoluto. Com a explosão “democrática” dos cursos de arquitectura, os arquitectos deste país são hoje uma perfeita amostra demográfica do país que temos. E ainda bem.
Porém, o que é eventualmente mais grave é que, apesar da sua formação superior, os arquitectos podem, assim, estar a ecoar a cultura cívica – ou a crise social de que falava a Sedes – com que hoje contamos em Portugal.
Comecemos pela crise.

Não é de excluir a hipótese de que o absentismo eleitoral dos arquitectos se explica por razões bastante prosaicas.
A maior parte dos arquitectos, nomeadamente os mais jovens e desfavorecidos da classe não votam porque... não pagaram as quotas!

E porque é que não pagaram as quotas? Porque estão desempregados ou porque são tão mal remunerados que tem naturalmente que remediar outras necessidades mais básicas. Interessante, não é?

Isto sugere imediatamente que, se estão verdadeiramente interessados na participação eleitoral, os candidatos aos órgãos nacionais da Ordem dos Arquitectos deviam acordar um pacto de regime súbito: uma amnistia – ou, ecoando a extraordinária flexibilidade legislativa portuguesa, uma alteração estatutária temporária – para permitir que todos votassem nestas eleições.
Adiante. Subsistem ainda algumas outras possibilidades para justificar o absentismo geral dos arquitectos.

Também é verdade que muitos dos 16.000 arquitectos a que me refiro estão no estrangeiro. Face a uma tendência autofágica da classe arquitectónica portuguesa – que também lembra outra coisa qualquer – muitos dos arquitectos recentemente formados decidiram, pura e simplesmente, emigrar.

Isto é, o investimento e a permissividade do Estado na formação superior desta classe traduz-se, como já acontecia com cientistas e outras especializações de ponta, em exportação de cérebros ou de mão de obra competente, enquanto por aqui nos vamos lamuriando de desordenamento do território. Interessante, não é?

Esta é, aliás, uma resposta à questão que dá título a este artigo que combina perfeitamente com o equívoco ético e estético que recentemente envolveu o engenheiro civil José Sócrates.

De facto, para quê pagar o custo dos serviços, dos recursos humanos e da competência técnica nas quais o Estado investiu os impostos dos contribuintes, se ainda há por aí uns chico-espertos que dão conta do recado e da paisagem?
Os chico-espertos – que às vezes até são arquitectos pois, afinal, eles também “andem aí...” – saem mais barato, têm uns contactos na Câmara local que “facilitam a coisa” e até foram os primeiros a perceber que mais vale fazer o gosto ao dedo do cliente, que isto não está para modas.

Mas, perguntar-se-á então, a arquitectura não estava na moda?

Depois da celebração e da celebridade de Siza Vieira e de Eduardo Souto Moura, os arquitectos não deveriam andar por aí felizes da vida?

Não adquiriram prestígio social e profissional?

Não obtiveram reconhecimento no “estrangeiro”?

Não tiveram, nos últimos 15 anos, maior exposição mediática interna do que médicos, advogados e engenheiros?

Tendo eu realizado um doutoramento sobre a visibilidade da arquitectura em meios generalistas como o jornal OPúblico, posso assegurar que todas estas hipóteses são sustentadas e confirmadas por dados objectivos. À excepção, claro, da parte da felicidade.

Curiosamente, em Portugal, a celebridade, a projecção e o prestígio não fertilizaram o campo. Deve ser uma característica endógena. Ou o facto de, apesar das aparências, sermos um país estruturalmente pobre.
As circunstâncias mudam e as conjunturas também e, depois de uma prolongada ascensão demográfica e mediática, os arquitectos portugueses parecem, de novo, ter desaparecido para parte incerta.

Apesar das campanhas do “direito à arquitectura” – já agora, algum não arquitecto ouviu falar disto? – os portugueses ainda não parecem estar dispostos a pagar a mais-valia do serviço arquitectónico.
Isto também justifica a ausência dos arquitectos.

E donde vem o problema? Será que os portugueses não valorizam ou não podem valorizar a sua qualidade de vida ao nível de outros países europeus? Será que não podem, pura e simplesmente, pagar os serviços de um arquitecto preferindo assim entregar-se assim às competências dos chico-espertos? Será que têm de facto a sua própria cultura de gosto e preferem decidir por si? Ou será que a tabela de honorários dos arquitectos é desadequada à realidade do país? Ou serão as regras de mercado que estão a distorcer a oferta e a procura? Ou acontecerá, afinal, simplesmente, que os arquitectos deviam ser pagos por área a edificar e respectivo preço médio oficial de construção em vez de auferirem remunerações que flutuam com o preço final de obra – assim se acabando com muitos jogos de bastidores que prejudicam clientes e destinatários e assim se esvaziando também as distorções deontológicas que fazem com que seja um contrasenso económico para o arquitecto invistir tempo e recursos na redução de custos de obra do seu cliente?

Das mais gerais às mais prosaicas, estas, como muitas outras, são questões que justificam uma tomada de consciência e de posição dos arquitectos e dos seus legítimos representantes face à imagem que projectam de si próprios enquanto classe profissional.

Dado o contexto particular da nossa auto-proclamada “West Coast,” talvez os portugueses ainda não tenham percebido, de facto, qual o papel que a arquitectura pode desempenhar no seu dia-a-dia e na sua qualidade de vida colectiva.

Afinal, a maioria dos portugueses só sabem de longe da vã gloria dos centros culturais desenhados por arquitectos de “qualidade arquitectónica reconhecida” que, entretanto, tem as suas portas encerradas por faltas de verbas, programas e atractivos. E alguns mais iluminados só sabem que se tiverem dinheiro para investir em condomínios privados de luxo é bom que haja um “arquitecto de renome” envolvido.

Visto que assim já sabemos onde param os portugueses, onde param, entretanto, os arquitectos portugueses?

Onde param os candidatos a estas eleições da Ordem dos Arquitectos, esses que devíamos estar a ver e ouvir nos media de massa a exporem os seus programas, as suas opiniões públicas, as suas posições, as suas diferenças, as suas reflexões e proposições sobre o estado da prática da arquitectura em Portugal?

Onde param, neste preciso momento, as luminárias da arquitectura portuguesa, essas que prometeram mais intervenção crítica e social?

Onde param os críticos de arquitectura e os formadores de opinião, esses que, neste preciso momento, deviam estar a contrapor visões e perspectivas sobre o que precisa de mudar nos consensos excessivos em torno das vias únicas que actualmente caracterizam a arquitectura portuguesa?

E, para além dos emigrados, dos desenrascas e dos dignos representantes da geração rasca, onde param esses “ “jovens arquitectos” que constituem a maior parte dos arquitectos inscritos na Ordem e que agora se remetem, como é sua condição geracional mais vasta, a um silêncio comprometido com ostatus quo?
Por este andar, onde vão parar os arquitectos portugueses?

Texto da autoria de Pedro Gadanho, arquitecto
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Já fazia falta uma abordagem assim, a um problema que todos sentimos, mas ninguém parece ser capaz de dizer, ou de explicar... de sintetizar numa equação... Só sei que um dia queria jogar com legos, noutro estou enfiado até ao pescoço nesta pilha de estrume! Posso ser mal informado, mas não sou cegos! Vou parar aonde tiver que parar "QUERO SER FELIZ!!!! P O R R A!!"

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Já fazia falta uma abordagem assim, a um problema que todos sentimos, mas ninguém parece ser capaz de dizer, ou de explicar... de sintetizar numa equação... Só sei que um dia queria jogar com legos, noutro estou enfiado até ao pescoço nesta pilha de estrume! Posso ser mal informado, mas não sou cegos! Vou parar aonde tiver que parar "QUERO SER FELIZ!!!! P O R R A!!"

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Novo presidente da OA quer arquitectos mais participativos


O vencedor das eleições para a Ordem dos Arquitectos, João Belo Rodeia, apelou hoje à participação activa dos arquitectos nesta estrutura, numa altura de reformas no enquadramento legal da profissão.

«Vamos cumprir o que prometemos e isso implica procurar unir os arquitectos à volta dos grandes desafios que têm pela frente, nomeadamente em face das profundas alterações que têm sido feitas ao enquadramento legal do seu exercício profissional», disse à Lusa João Belo Rodeia.

O projecto liderado por João Belo Rodeia venceu hoje de madrugada as eleições para a Ordem dos Arquitectos, repetidas por decisão judicial do Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa, que considerou irregular a exclusão da lista C - liderada por Manuel Vicente - das eleições de 18 de Outubro, que também foram ganhas pela lista de João Belo Rodeia.

Para João Belo Rodeia, a repetição das eleições exigida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa foi uma oportunidade para «clarificar a Ordem, mediante o exercício de livre escolha».

Fonte: Diário Digital
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  • 4 weeks later...

Pois, onde está o Pros e Contras sobre urbanismo e o novo RJUE? Onde está a posição do Bastonário da Ordem dos Arquitectos sobre tantos projectos estruturantes para o país, como o novo aeroporto, a nova travessia sobre o Tejo, os PIN's, as obras do sr. Engº Sócrates, a necessidade de um código da Edificação... Quantos arquitectos votaram nas últimas eleições. É a classe dos profissionais em classe...

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  • 3 weeks later...

Numa aula especial com o professor Fernando Tavora, no meu primeiro ano da faculdade, ouvi-o dizer que eramos demasiados e que deste modo "teriamos de nos comer uns aos outros". A turma de alunos brilhantes que para ali chegarem ja tinham comido uns quantos adversàrios no secundario riu-se em sintonia. Agora que termino a curso sinto-me frustrado por não ter percebido a mensagem atempadamente. Nunca deveria ter feito este curso apesar de ter sido aquele que sempre quis desde criança. Todos insistimos no "não desistas do que realmente queres, sonhas, ambicionas" e dizemos isto com a mesma ligeireza dos ditados populares e frases feitas. Ha dias encontrei um batalhão de jovens do primeiro ano a fazerem esquiços do mesmo terreno onde trabalhei no meu primeiro ano... sorridentes, deslumbrados, e silenciosamente passei e pensei que Fernando Tavora ja não estava ca para os avisar! Apetecia-me dizer-lhes para desistirem. Gostava que alguém me tivesse avisado na altura em que também estava naquele sitio a parir esquiços num dia de chuva e sem vontade. Como sou demasiado vulgar se falasse com algum era para o motivar mesmo contrariando o que realmente penso. Resumindo, é necessario tirar as ilusões às pessoas e mostrar-lhes o real estado das coisas. Colegas meus que terminaram os estudos no 9° ano têem a vida com uma decada de avanço e é tempo que nunca vou recuperar mesmo com um canudo caro na mão. Jà digeri a desilusão so não aceito ter cometido o erro de submeter a minha familia a todo o desgaste e falta de tempo que o curso me provocou e às falsas expectativas de saida profissional. Retomando o Tavora, o que se passa é que essa historia dos "arquitectos se comerem uns aos outros" é veridica e é esse atrito e rivalidade que faz do grupo profissional uma amalgama de descontentes aos atropelos. Não ha união nem para votar numa Ordem que não existe senão para tornar tudo mais fraccionado e contestatario. Isto so reforça o papel da Ordem dos Engeneiros que casada com o LNEC, ocupam o nosso lugar e a nossa voz sobre as mais diversas areas e intervenções. Nòs aparecemos como consultores de pleteia (ver exemplo do Pros e Contras acerca da nova travessia do Tejo), a dar umas opiniões que depois até descambam quando dizemos que os engenheiros não têem formação estética e logo de seguida outro arquitecto da razão aos engenheiros - obrigado colega - e no dia seguinte a ex-bastonaria do nosso grupo profissional aparece no mais espampanante programa matinal da tv generalista a arrancar aplausos de cinquentonas desempregadas, pronunciando-se acerca da travessia e suas implicações! Como disse não faço nada e tenho tempo para ver este show todo. Hei-de saber quanto pagam às senhoras da plateia... talvez melhor que aos recém licenciados, e até ouvimos em directo a pronuncia dos arquitectos, tudo num ambiente muito animado! Por fim, somos uma praga inutil ao pais com uma alta capacidade de reprodução o que pode num futuro incerto trazer consequências vantajosas... nem tudo pode ser mau!

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Todos estes problemas que são mencionados encontram-se neste momento no seu zénite e têm três únicas causas: 1.a explosão demográfica súbita da classe profissional. 2.o clima de profunda mutação do modo de funcionamento do mercado da construção. 3.Os arquitectos estão voluntariamente deslocados da sociedade. 1.Há cerca de 15 anos o meio dos arquitectos era pequeno e pouco abrangente- era um meio familiar que sobrevive visivelmente nas listas, exposições e conferências. Não era nem é um meio elitista mas é neste momento um circulo restrito surpreendido pelo aparecimento repentino de 10.000 colegas de lado nenhum que se vêm a ensinar e dirigir. São duas gerações que não se conhecem e que desconfiam uma da outra. Com o tempo e uma atitude positiva criam-se pontes e colmata-se este fosso de confiança na Ordem e na classe. Embora ache que várias instituições abusaram dos seus numeros de vagas para cursos de arquitectura nos últimos 10 anos acho também que um número grande e unido de profissionais é uma força influente na sociedade- não é fácil de ignorar se tiver uma voz eficaz. 2.A indústria da construção está em profunda alteração- é verdade que existem tendencialmente menos encomendas mas a população e as suas necessidades continuam a aumentar e a sua exigência, bem como da legislação aumenta de ano para ano (eficiência energetica, segurança, acessibilidade) , sendo cada vez mais dependente de técnicos qualificados, tais como arquitectos. Num clima de competição intensiva os promotores procuram todas as formas de garantir a maior rentabilidade, nomeadamente apostando em qualidade arquitectónica. Um numero cada vez maior de arquitectos é necessário em empresas ligadas á construção, património e cultura que anteriormente não os possuiam. O nivel de cultura geral da população é sempre ascendente, e, como diz o Pedro Gadanho, existe cada vez mais divulgação da arquitectura. Ao contrário do que muitos arquitectos pensam isto não é porque existem mais arquitectos- a população tem um interesse cada vez maior pela arquitectura contemporânea , que considera parte da cultura geral (ver ponto 3). 3.Julgo que de uma forma geral a sociedade portuguesa desconfia de meios fora do seu ambiente profissional ou familiar o que não tem qualquer justificação lógica e por isso é até um problema bastante fácil de resolver. Todos têm mais do que um interesse e o bem geral interessa a todos. A sociedade de modo geral e os arquitectos em particular precisam de uma costela activista e inscrever-se, organizar, assinar, escrever cartas e mensagens e marcar reuniões com quem desejam criticar ou com quem pode alterar aquilo que os desconforma. Ás vezes foruns de internet não chegam... Por outro lado julgo que a nossa formação na universidade torna-nos praticamente autistas- quantas pessoas do nosso grupo de conhecidos não são arquitectas? 40%? 10%? Para quem estão dirigidas as nossas campanhas, exposições, conferências? Somos acessiveis ás pessoas enquanto classe ou trabalhamos em escritórios e salas de porta fechada, invisíveis? A sociedade está aberta a conhecer arquitectura de qualidade através de publicações, quantos não quererão habitá-la? Será que conhecem pessoal e directamente um arquitecto? Será que se lembram de ter cruzado um escritório? Será que sabem como encontrar um facilmente um escritório de confiança? *Gostava de obter algum feedback

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  • 1 year later...

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