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Ensaio Geotécnico


missDior

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Olá a todos! Precisava de auxílio numa questão: é aconselhável/ obrigatório um ensaio geotécnico do terreno antes do seu acondicionamento e assentamento das fundações? Ou quase nunca é feito? Qual a finalidade principal? E quem faz? É muito dispendioso? Obrigada mD

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Que bem prega frei Tomaz; faz oque ele diz, não faças o que ele faz.


Cara mD (ou LA ... :)?) o estudo geotécnico é uma peça fundamental para a qualidade da construção e um elemento que deveria ser imprescindível na elaboração de qualquer projecto, em particular do projecto de estruturas. Com ele é possível avaliar a capacidade resistente do terreno, projectar com segurança as fundações e, simultâneamente, dimensionar aquelas que são mais económicas; de igual modo permitirá ao projectista controlar os assentamentos que a estrutura inevitavelmente irá apresentar ao longo da sua vida.

Conforme poderás perceber, se um edifício assentar todo por igual não virá daí qualquer problema de maior; se uma parte do edifício assenta mais do que outra (é o caso do edifício principal do MIT), aí sim, teremos problemas com rachadelas por tudo quanto é sítio, podendo mesmo os elementos estruturais chegarem a atingir a ruína porque esse assentamento gerou neles esforços não previstos.

Dentro dum mesmo terreno as propriedade mecânicas podem variar abruptamente, quer horizontalmente, quer em profundidade. Uma escavação em rocha pode dar a enganosa ilusão de ser considerado um bom terreno de fundação; no entanto um estudo geotécnico poderá revelar que a capacidade de carga desse terreno é bastante diminuta porque a sua espessura (possança) é muito pequena e assenta num terreno de fraca consistência.

Alguns exemplos:

Nos anos 80, creio que foi em Oliveira de Azeméis, um bloco de apartamentos de 3 / 4 (?) pisos já concluído e que iria ser habitado numa questão de semanas, rodou significativamente (tipo torre de Piza) porque, por baixo do terreno de fundação, existia uma mina, tendo levando a que o terreno de fundação não tivesse aguentado a carga que lhe era transmitida pelo prédio. Um reconhecimento geotécnico, ao identificar a natureza dos estratos em profundidade, teria, provavelmente, detectado essa situação e permitido que o projectista tomasse as medidas adequadas. A sua falta deu lugar à demolição do edifício.


Uma das maiores empresas de construção civil que viria a falir nos finais dos anos 80, afundou-se porque, entre outras coisas, comprou em Portimão um terreno bastante caro, com uma bela vista de mar.
A rentabilidade do investimento, apesar do custo do tereno, era suposta ser conferida por um grande volume de área edificável, isto é, com o recurso à construção em altura.
O terreno em questão era de natureza rochosa.
Na fase de projecto e por sondagens geotécnicas então realizadas verificaram que o terreno era um sortido de cavernas que tornava proibitivo, em termos económicos, fazer o edifício projectado.
Aquilo que era um bom negócio e que supostamente teria valido uma pipa de massa veio a tornar-se num elefante branco que facilmente poderia ser evitado caso se tivesse elaborado anteriormente à compra esse estudo geotécnico.
Estes exemplos revelam situações extremas e que se verificam, felizmente, com pouca frequência. No entanto, é seguramente possível afirmar que uma grande parte das patologias que se verificam nos nossos edifícios prende-se com falhas ao nível das fundações, em particular, causadas pela desadaptação destas com os terrenos onde assentam.
Faço notar que algumas moradias, em particular aquelas que apresentam grandes descontinuidades de vãos, ou vãos com comprimentos apreciáveis e pouca uniformidade na distribuição dos elementos estruturais, pelo facto de terem apenas um ou dois andares, não estão imunes aos problemas das situações anteriormente descritas. Também nelas se justifica o estudo geotécnico.

Respondendo em concreto às tuas questões:


É sempre aconselhável o estudo geotécnico ainda que o mesmo não seja obrigatório. Quem quer minimizar o risco de patologias, em particular de fissuras ou fendilhação de paredes ou elementos estruturais deverá optar por fazê-lo.
É caro? Não é barato, mas no computo global do custo da obra o seu valor não tem expressão.
A qualidade tem um preço, é certo, mas seguramente que a sua ausência tem um preço ainda mais elevado.


Em pequenas obras o estudo geotécnico quase nunca é feito. A Faculdade de Engenharia do Porto desenvolveu uma metodologia para avaliação da qualidade dos projectos de estruturas, tendo efectuado um estudo de caracterização da prática corrente nesta matéria. Durante alguns meses monitorizou todos os projectos com mais de 3 pisos entrados em cerca de 5(?) câmaras municipais do Norte do país.
As conclusões a que chegaram os autores do estudo foi que a qualidade dos projectos, apesar de quase todos eles serem feitos em computador, pasme-se, foi considerada na sua globalidade de sofrível (e não se situavam em zonas de forte sismicidade, senão...); todos ele tiveram a classificação de medíocre, no que às fundações respeitava, por ausência de estudo geotécnico.
É bom não esquecer que não temos uma cultura de exigência de qualidade na construção - vivemos bem com as rachas nas paredes das nossas casas (julgamos que elas só chateiam pelo aspecto estético, né?, quando no fundo elas têm consequências mais gravosas a logo prazo ou são o reflexo de grave doença);


Para finalizar gostaria apenas de referir que os estudos geotécnicos são elaborados por empresas especializadas nesta área, dotadas de equipamentos próprios e com maior ou menor grau de sofisticação. Entre elas destaco a Teixeira Duarte, a Rodio, a Geocivil, etc.
Os técnicos que intervem nestas áreas são profissionais de engenharia civil, de engenharia geológica e também geólogos.


Espero ter respondido às tuas dúvidas.
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Obrigada pela resposta célere. Quanto à minha designação: sim, uso as duas e tb o meu próprio nome às vezes.Não costumo usar a mesma autodesignação nos vs forums. Espero que isso não constitua problema no forum nem ofenda ninguém. Não consulto só este fórum e respeito todas as pessoas que neles intervêem. Não percebo nada de construção e a única maneira de aceder a este tipo de informação é ler o mais possível e consultar diversos profissionais. Obrigada Sr. Vítor

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