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Habitação Social - paradigmas do bem estar social


asimplemind

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sim, mas repara esse circulo faz com que as pessoas em vez de se relacionarem com a população, fecham-se cada vez mais em si, e penso que a habitação social deve criar ligações entre todos, e não, ser criador de um grupo... e o que se passa, no meu entender, é que cada vez mais as habitações sociais são "vilas" dentro de cidades, sendo pensadas como ilhas e não como forma integrante da cidade, algo que fosse uma teia de relações entre a cidade já edificada... Ou a cidade que irá, posteriormente, ser desenvolvida ao seu redor consegue ser pensada criando relações com as habitações socias, ou então serão ilhas. penso, que as câmaras continuam a olhar para esse tipo de habitações como espaços "vedados" de acesso restrito. em lisboa , e se olharmos para chelas, o bairro é rasgado por uma Av. que não sei o nome e depois, existe um desenvolvimento urbano de casas, dos olivais,etc que foram criados não como uma continuação da cidade e "dessa cidade", mas como uma "nova cidade". e quando chegamos há expo o contraste.... em moro em Alfragide, perto do bairro do Zambujal, relativamente chegado há buraca, boavista, couva da moura, e não me sinto "ameaçado"...o pessoal do bairro não faz mal ás pessoas do bairro. e até a ver é verdade. penso que os Bairros, deveriam ter comissões, independentes, que de algum modo conseguissem desenvolver e não deixar "estagnar" o próprio bairro. ex? publicidade no bairro?virada para as estradas adjacentes. onde os lucros fossem para essa comissão onde a mesma podesse, deste modo, dar qualidade e melhorar o próprio bairro, ruas, equipamentos, etc, etc...porque muitas vezes, o próprio bairro cai no esquecimento...e com esse esquecimento surgem os problemas sociais já referenciados... porque não vale apenas colocar as pessoas e pensar que a solução está encontrada...nos nossos dias, com as caracteristicas das sociedades que já foram mencionadas, devemos apoiar. se cada vez mais tarde saimos de casa dos pais, porque razão nos bairros sociais não existe uma ajuda mais virada para esses jovens que ainda permanecem no bairro. e fazer com que tenham, além de orgulho no bairro, tenham orgulho em permanecer dele e não procurar um T4 em Almada.... o que é mais importante? dar o dinheiro das pessoas para casa de injecção assistida, ou dar o dinheiro das pessoas para ajudas reais que antecedem essas casas?...

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Grande tópico!! :clap: Coincidentemente estava assistindo a 10 minutos atrás um documentário sobre o projeto de habitação social Nemausus I, de Jean Nouvel. Um ponto que eu gostaria de chamar a atenção é como o próprio sistema capitalista parece arruinar iniciativas como estas. Neste vídeo, que faz parte da coleção francesa Architectures, é dito que Nemausus I nunca passará de um protótipo (mesmo tendo sido uma proposta muito bem sucedida) porque, mesmo Jean Nouvel tendo conseguido construir um espaço de qualidade e com um espaço não-sei-quantos-porcento maior com uma quantidade menor de dinheiro, infelizmente os aluguéis são cobrados por metro quadrado. Ou seja, mesmo que tenha sido barato construir essas habitações com um espaço tão bom, o aluguel sai caro, exatamente por serem espaçosos! Bem contraditório isso... Outro ponto que queria destacar é que ultimamente, existe uma tendência de não criar novas habitações de interesse social em novas localidades periféricas, mas sim, requalificar espaços degradados e que já possuam uma infraestrutura consolidada, e assim, devolver a vida a estes bairros, sem gastar tanto. Isso significa que o dinheiro que antes seria destinado a instalação de toda a infraestrutura básica do bairro, será utilizado para revitalizar antigos bairros decadentes, sem que haja a formação de guetos, já que o bairro já está integrado à malha urbana.

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thiago, também vi esse documentário e o projecto do jean nouvel fez com que comprasse um livro para perceber um pouco mais dos seus projectos. quanto a essa "Tendência" que falas, é isso que se passa no Brasil? ~ acontece há quantos anos, é algo recente ou algo que o governo tem vindo a desenvolver nos últimos anos? porque em Portugal isso não acontece. as habitações sociais são edificadas nas perifierias alterando e descaracterizando a malha urbana... penso que, também, não faltará muito tempo a perceber que a insercção das pessoas em espaços já edificados poderá trazer melhorias... outra pergunta que te coloco é, a zona consolidada(no centro da cidade certo?) não é algo de especulação imobiliária? as empresas e escritórios não "invadem" todos os espaços do centro?

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quanto a essa "Tendência" que falas, é isso que se passa no Brasil? ~
acontece há quantos anos, é algo recente ou algo que o governo tem vindo a desenvolver nos últimos anos?
porque em Portugal isso não acontece. as habitações sociais são edificadas nas perifierias alterando e descaracterizando a malha urbana...
penso que, também, não faltará muito tempo a perceber que a insercção das pessoas em espaços já edificados poderá trazer melhorias...
outra pergunta que te coloco é, a zona consolidada(no centro da cidade certo?) não é algo de especulação imobiliária? as empresas e escritórios não "invadem" todos os espaços do centro?



Pedro, isto também é novidade no Brasil e tal projeto existe em algumas poucas cidades, como Belo Horizonte. Não se sabe ao certo se vai vingar, ou mesmo se o governo pretende extender o raio dessa ação urbanística. O que acho meio difícil, já que historicamente, o governo brasileiro não parece dar a mínima para os rumos que nossa urbanização vem tomando.
Quanto a especulação imobiliária, ela só existe onde há demanda por imóveis, correto?! E o que assistimos hoje, ao menos no Brasil, é o esvaziamento dos centros e o surgimentos de novas centralidades, por diversos motivos, como por exemplo os baixos índices de desenvolvimento econômico.
Caso queira se aprofundar um pouco mais sobre este tema, existe um texto chamado "Uma proposta de habitação social na região central de Belo Horizonte", do arquiteto Alexandre Brasil. Texto muito bom, recomendo a todos. Eis o link:
http://www.mdc.arq.br/mdc/txt/mdc01-txt05.pdf
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aqui no Brasil acontecem o isolamento das pessoas de baixa renda em ilhas arquitetônicas... espaços com volumetria repetitiva cercados por muros e grades.. as pessoas se sentem excluídas. acho que vale as lições de integração social que a Jane Jacobs mostrou no seu livro "Morte e vida de grandes cidades" essa ideia da integração com a malha urbana e implantação dessas habitações em grandes centros é bastante valida, até porque a mão de obra desses grandes centros são as pessoas que moram nesse tipo de habitações que se situam de uma maneira geral nas periferias, essas pessoas tem um gasto de energia e dinheiro atravessando a cidade para chegar até o seu trabalho. achei muito interessante o primeiro exemplo dado, a "Cooperativa o Lar Familiar", a integração da construção diretamente com a rua parece funcionar. Um estudo urbanístico é totalmente válido nessas situações. é realmente um grande tópico.. acho que seria interessante postarmos aqui nesse tópico situações em que a habitação social funcionou e entender o por quê.

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continuando o tópico, acho ele excelente


encontrei alguns exemplos de arquitetura de habitações de um arquiteto francês chamado Roland castro.

Não enetendo francês.. e não sei se esta obra é de alta, média ou baixa renda. mas é uma arquitetura rica, bem trabalhada e que não precisa necessáriamente ser cara.

http://www.castrodenissof.com/

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  • 1 year later...

Sou filho do arq Francisco Pereira da Costa nunca o projecto por si assinalado foi de arq. social pelo menos nos termos por si utilizado Foi um projecto de fim de curso e construído pelo meu avo. o nome e de prédio de rendimento e visou uma solução para habitação familiar.por acaso já deve ter reparado que o edifício em questão esta no espirito CIAM ou seja Le Corbusier de quem o meu pai era admirador.a data da sua conclusão e de 1957 ano em que nasci e pode verificar nas Belas Artes no Porto. Você é comunista o meu pai era socialista humanista e fez parte do sindicato dos arquitectos. Xito Pereira da Costa

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Bem vindo Xito. Antes de mais, obrigado por esse esclarecimento e pela participação no arquitectura.pt. Podia ser um contributo muito interessante um tópico sobre a obra do seu pai, já que infelizmente essa fase da arquitectura nacional parece ser muitas vezes descurada e esquecida nas universidades e na nossa vida profissional.

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Belo topico! Nao entendo bem a designacao "habitacao social" parece-me a mim apenas mais um pseudonimo politicamente correcto do tipo "design universal", sao designacoes que todos sabemos o seu significado, (habitacao social - habitacao para pobres ou design universal - design acessivel a pessoas com deficiencias) mas discordo com o seu uso, pois apenas servem para nos proprios nos sentirmos OK em classificarmos as pessoas dessa maneira, para o pobre ou aleijado pouco importa, mais grave e quando este tipo de classificacao comeca por encobrir os problemas reais das pessoas. O termo habitacao social nao tem o mesmo peso que por exemplo casas para pobres mas perferimos usa-la apesar de vivermos num pais que 20% da populacao nao pode compar carne ou peixe para a sua alimentacao. Oscar Niemayer sempre se recusou a projectar bairros sociais (apesar de ser um fervoroso comunista) nao posso deixar de o admirar por isso. Todo o sistema capitalista se baseia em que os recursos e lucros continuem a ascender para as classes (ditas) altas mantendo as classes baixas controladas para que continuem a produzir. Esse controlo e feito dando pequenas "ofertas" para manter as pessoas contentes sem nunca lhes dar de facto o que elas necessitam. Os bairros socias sao um belo exemplo disso, vamos fazer casas pros necessitados mas ao mesmo tempo a legislacao nao permite que os espacos sejam maiores do que o permitido (x m2) mesmo que o arquitecto consiga projectar espacos maiores pelo mesmo dinheiro. Essas pessoas nao tem direito a mais espcao, a lei retira-lhes esse direito. Tenho visto alguns concursos de arquitectura em que o programa consiste em utilizar contentores standard para projectar habitacoes. Ainda nao vi um que fosse para um condominio de luxo, todos sao para habitacoes de rendimento baixo. Ha um excesso de contentores em todo o mundo, sai mais barato abandonar o contentor nos locais de chegada do que transporta-lo vazio para os locais de origem, com este problema comecamos a pensar em como reutiliza-los pra construcao. Uma optima ideia que suporto, sou todo a favor da reciclagem. Mas pk e que so sao sufcientemente bons para "habitacoes de baixo rendimento"? Sao sufcientemente bons para alguem pobre mas deus nos livre de pensarmos em recomendarmos isto aos nossos clientes. No essencial, os pobres nao tiveram e continuam em muitos casos a nao ter direito a arquitectura. A habitacao social em muitos casos e um atirar de areia aos olhos. Toma uma casa nova e bem melhor do que as condicoes em que vivias antes (mas continuas a nao ter acesso aos mesmos direitos que eu). E por isso que a maioria dos bairros socias nao funcionam e se transformam em guetos. Nao esta so na qualidade das casas, esta tb nos acessos, nas infraestruturas urbanas, no direito a cidade. Se queremos dar melhor qualidade de vida aos pobres, para que estes queiram melhorar as suas vidas e tornarem-se membros produtivos da sociedade (pk do que trata e ser produtivo), estes tem de ser inseridos na cidade e nao isolados. Todos deviamos ter direito a arquitectura, e nao me refiro so a qualidade das casas propriamente ditas mas tb a boas condicoes humanas para que os individuos queiram pertencer a sociedade e nao se excluirem dela. "Se com um acto de arquitectura podermos melhorar a condicao de alguem, nao temos so o direito mas o dever de o fazer" Tirado do "Manifesto of Studio 3am"

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Agradeço a sua resposta . de facto a época em questão não é muito apreciada pelas universidades talvez pelo facto de ter sido restringida nos anos 70 e mesmo na Europa ter-se substituído o chamado progressismo Francês pelo partido Ítalo Finlandês mais conservador e ate aos dias de hoje que se vê que a chamada libertinagem começa a ser associada ao modernismo em meu entender injustamente ate ao pormenor de se terem invadido os terrenos do Agora Grego por um museu de escultura . Talvez volte a haver alguma necessidade de verdade e moral na arquitectura esperemos. Francisco Pereira da Costa Filho

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De facto e verdade, infelizmente ha uma enorme falta de moral em muita arquitectura que se faz hoje. quando se diz que o modernismo morreu sinto sempre vontade em nega-lo, para mim, nunca foi um movimento associado a uma estetica mais sim um movimento racionalista associado a uma maneira de pensar, de um processo de projecto que nos interroga a todos os momentos do porque do que estamos a fazer. Acho que a arquitectura (e a sociedade) ficaria mais bem servida com menos "star architects" e mais "honest architects".

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Agradeço a sua Resposta e ainda bem que esta de acordo. N o fundo quaze que se resume a uma questão de sensibilidade como diz o sr Arq.Siegfried Giedion no seu livro ESPACE ,TEMPS,ARCHITECTURE . Como já temos catedrais que cheguem não vai ser por aí. Mas o que diz respeito a cada um que seja cada um a fazer.E algum respeito também nõa fica mal porque o movimento moderno foi humanista que chegue e foram interesses bem instalados que o desapoiaram e silenciaram.

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Para mim um dos problemas é o politicamente correcto. Acho importante a liberdade de expressão é essencial .Acho que direitos incluem igualdade e não diferença. Depois na minha opinião , porque há muitos projectos de habitação social que são feitos por excelentes arquitectos e parecem-me ás vezes os usufrutuários mais culpados do que a sociedade das condições negativas. Parece-me que com determinadas posições se perdeu um capital político humano inestimável que demorou duas gerações a criar. Francisco Pereira da Costa filho

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  • 3 weeks later...
Bairros

Os guetos de betão do realojamento

Aos olhos graduados de Cármen, a descrição do cenário cabe numa jarra. 'A chegada aqui foi como ir apanhar umas rosas muito bonitas. Deitam aquela fragrância, depois perdem o cheiro...' Há pouco mais de uma semana, o olfacto sentiu o esturro no bairro da Quinta da fonte, em Loures. Confrontos com armas de fogo. Detenções. Rixa entre dois grupos, que provocou nove feridos e danos materiais. 'Temos passado o diabo com os distúrbios', garante Cármen Dinis, que engrossou a primeira leva de realojados. Há 11 anos disse adeus à barraca de Moscavide.


A genica das pernas, a dentição intacta, a lucidez do discurso, desmentem os seus 88 anos. O elixir da conservação deu-lhe ‘água pela barba’: 'Trabalho.' Cármen dirige um pedido à visão dos visitantes. Que as órbitas não se passeiem pelo r/c do número 12 da Rua Ary dos Santos. 'É uma casa de pobre', anuncia sem pingo de lirismo, apontando os tectos e paredes enganados pela humidade dentro da habitação.

No dia em que o conflito voltou a sair às ruas do bairro regressava do Tojal, acabada de visitar uma das três filhas. A deslocação impõe-se. Telemóveis não são com a octogenária. 'Ainda era degolada por causa da porcaria de um telefone!', atira. Na Quinta da fonte, onde 90% dos moradores têm como bóia o Rendimento Social de Inserção, a população cresceu com os anos, mas as contas entre o deve e o haver no bairro são quase todas de subtracção. 'Havia uma peixaria, fechou um dos dois talhos, já só há dois dos três cafés.' Os serviços minguaram à medida que subiu a parada de problemas.

José Gabriel Pereira Bastos, antropólogo, coordenador científico do Centro de Estudos da Migração e Minorias Étnicas da Universidade Nova de Lisboa, muito crítico deste processo de ‘guetização’, aponta os dedos todos da mão ao racismo, xenofobia e interesses, bem melhor instalados que qualquer um dos realojados. 'Por um custo muito baixo encaixota-se as pessoas, parecendo que se elimina a miséria dos bairros de lata.' Madrid, bandeira da solidariedade imigrante, segundo o especialista, dá o exemplo de que 'o que parece utopia não o é'. 'Já se decidiu não construir mais bairros sociais. As autoridades para o realojamento compram os apartamentos. Não mandam lá negros, nem ciganos, para acabar com a recusa e o racismo. E disseminam-nos pela malha urbana.'

Na Quinta da fonte, o medo de sair à rua molha as palavras de Cármen mas não lhe afoga a língua. 'Já me roubaram a mala três vezes. Tenho medo... mas não tenho remédio senão andar na rua. Limito-me ao ‘dá licença’ e ‘obrigada’. Quem dá liberdade quer conversa.'

Já Chelas, que sempre foi um colorido albafeto de zonas, dialoga com muitas letras. A fama do bairro, na parte oriental de Lisboa, estacionou na consoante J. O toldo do estabelecimento de Luís Pereira, de 41 anos, demora-se antes num par de palavras: ‘Dois Unidos.’ O nome peca por defeito. São três, quatro, cinco. Muitos. Tantos. Novos e velhos. Brancos, negros, ciganos. O café e restaurante sempre deu bola a todas as raças e credos, não fosse o responsável antigo amigo íntimo dos relvados. 'Está a falar com um grande jogador!'

Luís arrumou as chuteiras mas as lembranças dos encontros de futebol ao serviço do seu Sporting estão sempre fora do armário. Fez fintas e dribles ao lado de Paulo Futre ou Fernando Mendes. Integrou a selecção de esperanças. Depois os ‘leões’ rugiram a sentença do seu empréstimo. Louletano, Paredes, Bragança, União da Madeira, Açores. Até há oito anos, foi saltimbanco das quatro linhas. 'É um vício. Custou muito deixar de jogar...' Já do bairro não custa falar. 'Houve uma fase problemática no início, coisas provocadas por outros bairros, mas o nosso não é aquilo que se fala. Vim para aqui por causa do meu falecido pai. Fomos dos primeiros. Era só mato.'

O pessoal é 'agarrado ao bairro', no melhor dos sentidos, jura o amigo Carlos Kassimo, de 52 anos, que põe os pontos nos is nos tempos verbais. O presente virou imperfeito mas só na oração. 'O bairro não tem problemas, ‘tinha’. Há é muitas pessoas sem casa... e muitas casas fechadas.' Nos copos, ao balcão, verte-se ‘mistura branca’. Vinho branco e gasosa dão alento às conversas. 'Não se esqueça de escrever aí: faltam coisas para os miúdos se entreterem!' Está escrito. Como escrito há muito que está que o ócio é o pai de todos os males.

'Chelas é dos problemas mais delicados que temos mas tem vindo a melhorar. As pessoas têm vindo a enraizar- -se', distingue Jorge Gaspar. O especialista em Geografia Humana e Planeamento faz um balanço positivo da generalidade dos processos de realojamento e do convívio intercultural. 'O realojamento na área de Lisboa, nos últimos 20 anos, tem seguido as melhores teorias sociológicas. A qualidade da habitação é excelente. A componente urbanística de inserção na sociedade é que é má. É tudo feito por acrescento, sem um enquadramento de construção de cidade.' Ricardo Martinez, sociólogo, tem opinião dissonante. 'Sou contra estes bairros. Estes realojamentos não ocorreram depois de um trabalho com as populações. Os próprios critérios de repartimento das pessoas estão ultrapassados. Estes depósitos foram crescendo e as pessoas tiveram a noção da descaracterização das zonas, com projectos inacabados.' O docente da Escola Superior de Educação de Setúbal, que conhece bem a realidade de um outro bairro problemático, a Bela Vista, salienta a ausência de acompanhamento das famílias ou a interligação entre as instituições e associações. 'Contra todo o discurso oficial, não há um trabalho em rede.'

Neste bairro de Setúbal a rua é a lei. Vê-se. Ainda que o peso do luto cigano não deixe que a máquina ensaie sequer ao de leve a focagem. A foto que fica por tirar traja de preto. Usa chapéu. Vê com olhos azuis-celestes. Cofia barbas quase tão longas como a dor e a saudade. José não dá a cara mas oferece de bom grado a lista de excesso e lacunas na zona. Vandalismo, tráfico de droga, assaltos e degradação a mais. Baloiços para as crianças, posto médico, caixotes do lixo, um lar e um mercado para os comerciantes. Tudo a menos.
'Nascidos e criados' em Setúbal, Manuel Silva, de 59 anos – ou o ‘Silva das Calças’ –, vendedor ambulante, residente na zona amarela do bairro há mais de duas décadas, recorda os tempos em que o negócio corria de vento em popa. As feiras não tinham segredos para 'o cigano mais conhecido de Portugal!', garante. 'Ninguém nos travava. Isto aqui é uma miséria. O bairro está relaxado.' A mulher, Helena, de 56 anos, suspira: 'Se houvesse uma pracinha para vendermos de 15 em 15 dias...'

Seis filhos; 23 netos; oito bisnetos. O número consegue ficar aquém das presenças em matrimónios, motivo de orgulho e prestígio. 'Eu caso as ciganas em Portugal. Vou a muitos casamentos. Daqui a pouco há um.' As netas do casal apressam-se para mais uma união num bairro onde o colorido é jurisdição exclusiva das indumentárias.

Era conhecido por ‘supermercado da droga’ ou ‘Tarrafal’. Em toda a cidade, o bairro era sinónimo de crime e marginalidade. O estigma foi crescendo ao longo de décadas e a Câmara do Porto decidiu cortar o mal pela raiz. O bairro S. João de Deus, na zona oriental da cidade, foi ficando despido de betão com a demolição gradual dos seus blocos. Um problema resolvido deu origem a um por resolver: realojar as famílias que ficaram sem casa. Em tempos chegou a ter cinco mil habitantes.

O Lagarteiro e o Cerco, nas imediações do ‘Tarrafal’, foram dois dos locais escolhidos para acolher as famílias que acabavam de ver as suas casas arrasadas. 'Para aqui só vieram ciganos. Estão a ocupar isto tudo. Mandaram um bairro abaixo para estragar dois', queixa-se um morador do Lagarteiro.
Quem sabe bem o poder do estereótipo aos ex-moradores do S. João de Deus é Isabel Ferreira. Aos 32 anos e com quatro filhos, vive há 12 no Lagarteiro. 'No início as pessoas olhavam de lado e sei que falavam de mim nas costas. Vinha do ‘Tarrafal’ e começaram logo a associar- -me a desordens. Hoje são minhas amigas e contam-me que não gostavam de mim quando para aqui vim.' Ali sente que o bairro é 'mais fechado' aos que vêm consumir droga e o espírito de vizinhança é um facto. Cristiano chegou ao bairro bebé e agora, com 14 anos, não desmente a mãe. 'Posso brincar e andar de bicicleta. É melhor que o S. João de Deus.'

O cenário muda mas os relatos não. Também ao bairro do Cerco chegaram inúmeras famílias do S. João de Deus e o realojamento das famílias ciganas não agradou a todos. A família Calhaço mudou-se há sete meses para o bairro. Estão melhor que no S. João de Deus? 'Sem dúvida', dispara Luís Calhaço, rodeado dos três filhos e da esposa Alexandrina. 'Viemos porque a minha sogra conseguiu uma casa. Há oito anos que ando a pedir à Câmara uma habitação para a minha família e não tenho resposta', afirmou Luís. Vivem do rendimento mínimo: 'Nem carro tenho para ir vender às feiras. '

PASSADO, PRESENTE E FUTURO DA HABITAÇÃO SOCIAL

Em 1918 foi institucionalizada a habitação promovida pelo Estado mas até à década de 30 não saíram do papel projectos de bairros como o do Arco do Cego ou Ajuda/ /Boa-Hora. O Estado Novo promoveu a construção de ‘bairros de casas económicas’. Em 1926, a CM de Lisboa iniciou o ‘estudo de bairros operários’, que dois anos depois se reflectiu no projecto dos Novos Bairros. O bairro do Alvito, primeiro a ser erguido, foi piloto neste empreendimento, que viria a estender-se até ao final da década de 60. Apareceram bairros como a Encarnação, bairro de Santa Cruz ou bairro da Madre de Deus. Após o 25 de Abril, a cidade transbordou além dos seus limites, surgindo grandes complexos urbanos na Amadora e Almada, aqui facilitados pela existência da Ponte 25 de Abril. Em Maio deste ano anunciou-se o fim dos bairros sociais. Em vez de mandar construir mais fogos para as 40 mil famílias que têm necessidade imediata de habitação, o Estado deverá dinamizar o mercado de arrendamento e ser ele próprio a adquirir ou arrendar imóveis, para constituir uma bolsa de fogos. Esta é uma das propostas incluídas no Plano Estratégico da Habitação (PEH), que atribui às câmaras municipais um papel preponderante.

DADOS DO REALOJAMENTO

O Programa Especial de Realojamento (PER) apareceu em 1993, prometendo erradicar as barracas. Quinze anos volvidos ainda há famílias por realojar nas grandes cidades. Segundo a GEBALIS, empresa que gere os bairros municipais de Lisboa, a cidade tem 67 bairros sociais, com cerca de 25 mil casas, onde habitam 87 mil pessoas. É na freguesia de Marvila que se localiza o maior número de bairros sociais (dez). Os mais populosos são o do Padre Cruz (8793 habitantes) e do Condado – Zona J, em Marvila (6869 pessoas). O Bairro do Presidente Carmona, na freguesia do Alto do Pina, é o mais antigo da capital, tendo sido edificado em 1927. O bairro mais recente é o da Alta de Lisboa Centro, criado em 2007 e que se situa entre as freguesias da Charneca e Lumiar, com 62 049 habitantes. No Porto, 42 575 pessoas distribuem-se por 49 bairros sociais. Destacam-se os das freguesias de Paranhos e Campanhã, os bairros de Lordelo do Ouro, a área do centro histórico e da Baixa e a zona industrial da cidade, que inclui Aldoar e a freguesia de Ramalde.

BAIRRO DA BELA VISTA

Os primeiros realojamentos realizaram-se em 1980 e contemplaram residentes em barracas e refugiados das ex-colónias. Segundo dados da Câmara de Setúbal, contam-se 265 fogos em propriedade privada e 572 arrendados. O assassínio do jovem cabo-verdiano Tony, em Junho de 2002, é um dos episódios negros.

QUINTA DA FONTE

São 786 fogos de habitação, onde foram realojadas 480 famílias em 1996, mais 350 do que as inicialmente previstas. A população é maioritariamente jovem – cerca de 50% dos mais de 2500 habitantes têm menos de 15 anos. Os realojamentos no concelho de Loures, que deveriam estar concluídos em 2005, deverão estender-se até 2009. Prevê-se realojar, até à data mencionada, cerca de 1300 famílias ainda à espera de habitação.

BAIRRO DE CHELAS

Bairro da freguesia de Marvila, em Lisboa, o segundo mais populoso da capital, é composto por zonas, como a I, M, N ou J, uma das mais conhecidas e que deu origem ao filme homónimo. Situado na parte oriental da cidade, o bairro desta zona foi desenhado pelo arquitecto Tomás Taveira e concebido de origem para ser pintado com as cores invulgares visíveis na foto acima. Apesar de ser marcada por incidentes e de viver ainda sob o estigma de bairro problemático, os moradores acreditam que os ânimos têm vindo a amainar.


BAIRRO DO LAGARTEIRO

Em Setembro de 2004, um conjunto de moradores enfurecidos por falta de casa decidiu ocupar várias habitações devolutas do bair-ro. A carga policial foi grande. Inaugurado em 1973, o bairro foi ampliado em 1977, passando de 248 para as actuais 446 habitações. O projecto governamental de requalificação Bairros Críticos, que deverá estender-se até 2012, abrange o Lagarteiro, a Cova da Moura e o Vale da Amoreira, a sul.

BAIRRO DO CERCO

Um tiroteio em Maio deste ano alarmou o bairro portuense. Dez homens entraram no Bloco 2 de pistolas em punho e os alvos eram Pedro, conhecido pela alcunha de ‘Pitbull’, e a namorada, Elizabete. Os suspeitos dispararam para as pernas e fugiram, depois de terem começado por ameaças de tiros no peito. O Cerco, que em 1991 cresceu em mais 88 fogos, tem 3069 habitantes.

Maria Ramos Silva/João Carlos Malta

in http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=CF186963-CE25-4A52-80AC-AB1313A70669&channelid=00000019-0000-0000-0000-000000000019

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o que vejo de comum em todos estes bairros e a sua marginalizacao da malha urbana das cidades em que se situam. sao autenticos guetos pois vivem desasociados de toda a vida dentro da cidade. Pintados de cores fortes para que todos saibam que ali fica o tal bairro problematico. Seriados por numeros ou letras para que nao ganhem identidade propria, assim como aqueles que la vivem. Os problemas socias das pessoas que la vivem sao inegaveis, o individuo e o ultimo responsavel pelos seus actos, mas e nos todos como sociedade n seremos co-responsaveis por ter provocado o isolamento e o estigmatizar destas populacoes. Que condicoes a sociedade dispos a esta gente para que elas pelos seus proprios meios se tornassem membros activos, produtivos desta suposta sociedade?

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Eu acho que a marginalidade não tem nada a ver com a posição na malha urbana ! Ouvi ontem numa conversa com um amigo que na Suiça os construtores são "obrigados" a ceder num prédio que constroem 1 ou 2 apartamentos para o estado. O estado depois em vez de construir zonas conotadas como de classe baixa dispersa as pessoas pelas cidades. Mais uma vez trata-se de uma solução de arquitectura politica que resolve o problema bem melhor do que qualquer esquisso. Esqueçam ! Este modelo de "Urbanismo Social" MORREU !

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Eu acho que a marginalidade não tem nada a ver com a posição na malha urbana !

Ouvi ontem numa conversa com um amigo que na Suiça os construtores são "obrigados" a ceder num prédio que constroem 1 ou 2 apartamentos para o estado.


Experimenta colocar duas familias de ciganos no predio onde habitas e vais ver a reaccao de quem lah mora. Experimenta colocar aquelas familias de ciganos espalhadas num concelho e diz-me o que vai acontecer.
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Compreendo o teu dilema ...

Mas criar "Zonning" só adia o problema e não o resolve ...

Logo, imaginando que a Segurança Social tinha as chaves dos apartamentos e ia lá uma família qualquer e pedia uma habitação social ... Desde o momento do pedido de casa até ser entregue a chave da mesma, tinha que ficar BASTANTE claro que existem regras a cumprir !

O que se vê no caso da Quinta da Fonte por exemplo, é que desde o processo de requerer uma casa até receber a chave, não deve ter ficado BEM patente que há REGRAS de cidadania a cumprir !

Logo, se qualquer família não cumprisse com as normas cívicas que estão inerentes a uma democracia tinham ordem de despejo ...

Isto num país civilizado seria assim !

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O mundo ta cheio de paises civilizados mas ainda nao vi um que tivesse eradicado a pobresa. A respeito do urbanismo que se pratica hoje acabei de ler um livro bastante interressante que abordava de um modo radical esta questao, o livro em questao chama-se "Design and Crime", e que dizia que as cidades de hoje sao planeadas para que seja seguro fazer compras, com isto penso que o que o autor esta a tentar defender e que as cidades sao pensadas para serem produtivas, produzirem riqueza e nao para dar aos seus habitantes qualidade de vida, eu n defendo que os ricos e os pobres tenham que se misturar, alias acho que teria maus resultados de ambos os lados, o que acho e que todos deviam de ter acesso as mesmas infraestruturas urbanas, a comecar pelas escolas todos deveriam ter o mesmo direito e qualidade no ensino, mas tb passando por estruturas de lazer e cultura. Eu sempre vivi em bairros ditos pobres mas no entanto devido a insistencia dos meus pais estudei musica classica, ia a concertos, ia ao teatro, sempre com muito custo e sacrificio mas fiz, e hoje sei dar o valor devido a essas experiencias, alias duvido muito que alguma vez me tenha formado nesta area se nao tivesse vivido essas experiencias. O problema dos nossos bairros sociais e que os jovens que la moram nao tem o que fazer, nao tem como se instruir a eles proprios a nivel cultural, e como foi dito atras por alguem o ocio e a raiz de todos os males.

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