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Arquitectura.pt


Siza e os 10 mandamentos!


thiago7000

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qdo entras pra faup até podes nem dar mto valor ao siza mas lá és quase "obrigado" a fazer como ele!

por um lado estou contente de n ter ido para lá


Bom, como não moro por essas bandas, não sei muito sobre a realidade dos cursos... É assim tão radical mesmo? Você precisa ser sempre um Sizinha na FAUP?!
E alguém poderia me esclarecer o porquê da escola do Porto ser tão forte em Portugal? Sempre estranhei o fato de nunca ter ouvido nada sobre Lisboa no campo de arquitetura, apesar de ela ser a capital deste país.
Alguém poderia me explicar a diferença entre as duas escolas?!
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Bom, como não moro por essas bandas, não sei muito sobre a realidade dos cursos... É assim tão radical mesmo? Você precisa ser sempre um Sizinha na FAUP?!

Bem thiago, eu estudo na Faup e posso portanto falar com (alargado) conhecimento de causa. Não, não é assim tão radical, não, não precisas de te tornar um sizinha. E como prova de que isso é verdade, basta estudar ou verificar ainda que superficialmente a obra dos arquitectos que saem formados na faup (nem todos têm obra publicada mas muitos têm). Facilmente verificas que são obras completamente distintas, baseadas em princípios distintos e diferenciados. A base comum? Uma base académica comum, um método de ensino e de abordagem ao projecto que já se provou inúmeras vezes funcionar.

O texto a seguir pode ser longo mas se realmente te interessa vale a pena ler, espero conseguir esclarecer:
Aquilo a que hoje se chama escola do Porto aparece, poder-se-á dizer, da acção primeiro do mestre Carlos Ramos, mas sobretudo da mente de um outro mestre chamado Fernando Távora. Este, que teve uma formação fortemente influenciada pelo modernismo e pelas discussões do CIAM (chegou a participar, conheceu o Le Corbusier e outros mestres), a determinada altura, e à semelhança do que ia acontecendo com outros arquitectos na Europa e no mundo (o Corbu incluído, a Lina Bobardi no Brasil, por exemplo), começou a questionar a validade absoluta que os CIAM e que os arquitectos modernistas fundamentalistas pretendiam passar. O modernismo faliu, mas teve influência. E o que entre nós o arq.Távora faz é idealizar uma forma de fazer arquitectura que simultaneamente aproveitasse o que de bom o experimentalismo do modernismo tinha tido com alguma forma de fazer arquitectura até então mais ou menos desconhecida que fosse de raiz portuguesa, que fosse realmente de Portugal, e de nenhum sítio mais. Neste ponto FT opõe-se à ideia então defendida de "casa portuguesa" defendida pelo arquitecto Raúl Lino e apoiada pelo regime então no poder, porque correspondia a um estilo "português suave" que tinha que ver com uma ideia de brandos costumes e corporativismo que interessavam (posso dizer que escrevo isto numa casa de 1955 fortemente influenciada no seu desenho por essa moradia tipo). O Távora escreve no princípio dos anos 50 (ano a confirmar) um texto chamado "o problema da casa portuguesa" onde descreve a sua posição contrária em relação a tudo isto. Para ele, a tal raiz portuguesa estaria na arquitectura vernacular, de cariz popular, produzida espontaneamente por todo o país. Foi então (juntamente com outros notáveis da arquitectura portuguesa de então) um dos maiores entusiastas e participantes no inquérito à arquitectura popular portuguesa, um levantamento em exaustivo e rigoroso de toda a arquitectura popular existente, de norte a sul do país. Esse documento resultante é ainda hoje um monumento inabalável à grande pequena arquitectura anónima e uma fonte inesgotável de aprendizagem para quem estiver disposto a aprender. A arquitectura do Távora reflecte todo este esforço, toda esta análise, e dele são os primeiros exemplos de arquitectura portuguesa que funde o que de mais moderno se produzia com o que de mais português existia.

Conclusões retiradas:
- não há uma arquitectura popular portuguesa, há muitas, sempre variada, sempre diferente, no Algarve ou em Trás-os-montes;

- Entre as características comuns a todas as diversificadas arquitecturas, encontra-se sempre uma enorme sensibilidade ao território, à topografia, ao efeito que o construído causa

- uma tendência irrepreendida para a integração, em oposição ao realce do construído (não é isto sinónimo de arquitectura "camaleónica" ao contrário do que muitas interpretações erradas podem concluir)

- relacionada com a anterior, uma arquitectura pouco monumental, que se impõe muito pouco (aliás isto é visível até na arquitectura erdudita que fomos produzindo)


Assim sendo, singifica que a análise do território no máximo número de vertentes possíveis, histórica, geográfica, etc. e sobretudo, a COMPREENSÃO do território onde se intervém é permissa fundamental, e uma tendência é um gosto por redescobrir e no fundo, porque não dizer, redesenhar a arquitectura que pela sua durabilidade, espontaneidade e funcionalidade sempre se provou uma mais valia para os territórios onde se implanta (a tal arq popular).

Este último parágrafo, em si, não corresponde a nenhuma ideia predefinida de arquitectura. Corresponde a uma ATITUDE perante o projecto, perante a arquitectura. E é isso que escola do Porto significa: uma atitude. Essa, sim, foi traduzida por mestre Távora num método de trabalho e, pedagicamente, num método de ensino. Esse é o método que, com actualizações, deturpações e alterações vem sendo ensinado desde então na agora faup (antiga esbap). Em geral, todos os professores que hoje ensinam, tiveram como mestres ou influências Távora ou aqueles que se juntaram a ele nesta ideia que se provou digna, de arquitectura. Esse método baseava-se numa relação muito pessoal e importante com o desenho como ferramente fundamental para o apuramento do olhar, e de percepção de todas as características que referi em cima.

Isto é a escola do Porto, segundo Rui Resende, sem por uma vez falar no nome do maior arquitecto português do século XX que é, quem tiver coragem de ver vai perceber, Álvaro Siza Vieira.
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Para além de tudo isso, essas imagens que mostraste têm muita piada, e é das coisas que mais circulam entre caloiros da faup, dá para rir quando chorar é o que mais apetece. Entre nós é uma piada. Fora parece que é transformar o siza num bode expiatório de qualquer coisa não muito bem identificada. Acontece muito em Portugal com as pessoas que têm sucesso, serem desprezadas por uma boa parte da população que, não conseguindo sair de uma mediania generalizada imposta, procuram arrastar para o meio deles aqueles que, por talento, trabalho ou, provavelmente, os dois, conseguiram subir mais alto. Na faup, a maioria dos professores adoptam apaixonadamente os pricípios fudnamentais e referenciais desta história interessante da arq contemporânea portuguesa que se chama escola do Porto. As referências fundamentias, que são as referências que eles passam (ninguém deve ensinar o que não sabe, embora isso aconteça tantas vezes). Por isso é normal que o Siza, o produto mais genial de todas as gerações escola do Porto seja o arquitecto que mais é analisado e, porque não dizê-lo, adorado. Mas não é o único, muita da qualidade apesar de tudo superior, da arquitectura que se produz no Porto (em relação, por exemplo, a Lisboa), deve-se à influência decisiva que o método da faup tem na zona. Mas a prova de que tudo o que disse é verdade (ou mentira) está na obra de todos os que aprenderam da mesma fonte. Convido quem se interesse a conhecer essa(s) obra(s)

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Isso de aprender directamente com ele já é outra história, porque tanto quanto ouvi dizer, são raras as vezes que ele lá põe o pé... Pode ser rumor... pode ser boato... por isso pergunto a quem souber se realmente é assim ou não... Agora, tal como o Rui disse a "escola do Porto" é muito mais do que Siza, Souto Moura, e outros, porque essa escola já vem de muito antes deles e eles foram alunos desses mestres...

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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Olha, em cada uma te darão uma explicação diferente. Na nossa (eu estudo em Lisboa) o que me disseram ao longo dos anos andou sempre em volta do mesmo. Basicamente, no Porto há uma influência muito forte de grandes nomes, especialmente do Siza e na de Lisboa privilegiam a tua procura de referências. O que eu acho, é que esta conversa surge como se fosse uma opção da faculdade, não se dizem melhores ou piores, dizem-se diferentes. Mas acho que isto é apenas uma consequência natural do facto de muitos arquitectos mais conhecidos em Portugal, e a arquitectura referenciada como portuguesa no estrangeiro serem do norte. Mas também tenho muita curiosidade relativamente à escola do Porto, à opinião sobre a nossa e sobre a própria FAUP. Gostava de ter tido a oportunidade de fazer metade do curso em cada uma.

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jmfbastos, como já foi dito, a chamada "escola do Porto" é muito mais antiga do que a Faup, muito mais antiga do que o Siza, ESM e outros contemporaneos... A escola do Porto vem do tempo em que o curso de arquitectura existia na FBAUP (Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto), onde esses que agora são os grandes nomes da arquitectura nacional aprenderam a ser arquitectos... E os professores, esses sim criadores do conceito, são muitas vezes esquecidos e deixados para trás...

Não é incrível tudo o que pode caber dentro de um lápis?...

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